Futebol |
Escrito por Bete Marun | |
02-Out-2008 | |
Eu digo para você não se amedrontar quando ela chegar. A primeira vez você toma um susto, mas depois vai sentir como é bom ter a nossa natureza. Muitos nos desejam com intensidade voluptuosa. Você não poderá escolher. Não se deixe enganar pelas chuteiras mais vistosas, douradas, prateadas, vermelhas, brancas e até luminosas. Se deixe levar pela que você sentir ser mais carinhosa. Amor é assim. Eu lhe dou este conselho porque já vivi muitas "Copas do Mundo". Uma delas eu já sabia, de antemão, que iríamos ganhar. O time tinha um moleque que me jogava com tal leveza e carinho que eu me sentia como se tivesse asas. Não posso negar que às vezes passamos por momentos difíceis. Dois pés de chuteiras diferentes nos apertando ao mesmo tempo. Daí você encolhe a barriga e respira fundo que é pra não estourar de vez. Nesses casos, quase sempre um cai, fica rolando no chão e então você pode dar um tempo. Quando o menino se machucou entrou no lugar dele um outro que corria como um louco, até colocaram o apelido nele de "furacão". Também havia um baixinho de pernas tortas que me deixava completamente tonta. Eu me sentia como uma bailarina rodopiando de um lado para outro. Eu já passei por muitas situações difíceis e por muito que me odeiem quando me levam para outro lado, eu sei que esse sentimento é passageiro porque nunca tiram os olhos de mim. Podemos ser como quiserem, até feia e feita de meias encardidas, mas, sempre nos olham com desejo. Já tentei falar com as chuteiras, mas elas são tremendamente temperamentais. Não se conformam quando não consegue nos alcançar. Na maioria das vezes, se isso acontece, elas alcançam a perna da adversária. Ouve-se o apito e paramos para descansar um pouco. Eu não me esqueço daquele ano em que jogamos num país muito alegre, colorido e apesar de estarmos tristes, com a situação política do nosso país, a vitória chegou ao vivo e a cores nas televisões. Uma das coisas desagradáveis com as quais você deve se acostumar é com a grama que às vezes é tão áspera que preferimos até aquelas jogadas que não são muito recomendadas pelos técnicos, jogadas aéreas, porque ficamos voando de um lado pra outro. Duas situações são as mais prazerosas: quando a gente cai entre luvas macias ou quando vamos parar entre as redes que balançam de satisfação com a nossa chegada. Prepare-se para entender os pés que vão levar você para lugares nunca imaginados. Não tenha medo porque sempre será muito amada e disputada. Nunca olhe para cima. Feche os olhos. Não veja a chuteira que se encosta a você, sinta apenas o toque que ela lhe dá. Pode até ser muito forte e chegar a cem kilometros por hora, mas também pode levá-la bem no fundo da rede que maciamente a receberá. Queira ou não você será a estrela que vai marcar mais uma vez a camisa suada daqueles que a amam. Somos redondas e não temos começo nem fim. Nem passado nem presente e nem futuro. Sabemos tudo e inclusive quem levará a nova estrela, mas não podemos contar. Façamos segredo com um sorriso safado de quem sabe das coisas.
BETE MARUN, paulistana que se aventurou em contos eróticos (revista Status) descobrindo o prazer de escrever. Algumas outras publicações de contos, não necessariamente eróticos, me renderam outros prêmios e a publicação de um livro O olhar do macaco. Cadastrada no Dicionário crítico de escritoras brasileiras, continuo brigando e me apaixonando pelas letras apesar de morrer de medo delas. |
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Atualizado em ( 02-Out-2008 ) |
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