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Argentina: branca, hispânica e católica PDF Imprimir E-mail
Escrito por Ruben Holdorf   
06-Dez-2009

As relações da elite e políticos, militares e religiosos com os nazistas de Hitler

verdadeira_odessa.jpgResumo: Durante décadas a elite argentina condicionou a nação a aceitar uma posição de intolerância interna com aqueles não-definidos como brancos e católicos. Havia também o incômodo da presença de vizinhos indesejáveis, principalmente formados por mestiços. Aproveitando-se das circunstâncias da ascensão de Perón à presidência e dos acordos secretos com a Alemanha nazista, os líderes da época pintaram uma das páginas mais vergonhosas da história da Argentina, ainda obscura e relegada aos bastidores. Este artigo tem o objetivo de analisar os assuntos discorridos na obra do jornalista Uki Goñi e conduzir os leitores à reflexão a respeito dos temas abordados no texto.

Palavras-chave: Política, história, Argentina, nazismo, antissemitismo, catolicismo.

Abstract: During decades the Argentine elite has conditionated the nation to accept a position of inner intolerance with those not defined as white and catholics. Also, there was the trouble of the presence of undesirable neighbors, mainly constituted by half-breeds. Taking advantage of the circumstances of Perón ascencion to the presidency and of the secret agreement with the nazi Germany, leaders of that time painted one of the most shameful pages of argentine history, yet obscure and relegated to backstage. This essay aims at analyzing the subjects developed in the work of the journalist Uki Goñi and to lead readers to the reflection concerning the themes addressed in the text.

Keywords: Politics, history, Argentina, nazi, anti-semitism, catholicism.


 

 

Introdução

O volume de obras produzidas a respeito da Segunda Guerra Mundial se revela gigantesco diante de outros temas menos, pouco ou não-abordados por historiadores. Nos últimos quatrocentos anos coube à imprensa a produção e conservação dos relatos da história. Estes servem de parâmetros ou como corpus de pesquisa para os historiadores argutos e necessitados de referenciais mais ortodoxos.

No contexto do conflito, outros assuntos se desdobram em infindas teses, literaturas e produções cinematográficas. Mas apenas uma, e sem muita ênfase, menciona a fuga dos maiores assassinos do governo nazista para fora da Europa. Trata-se do filme Amém, de Constantin Costa-Gravas, produzido em 2001, no qual o protagonista representa o oficial do exército alemão Kurt Gerstein, médico e químico inventor do Zyklon B, produto inicialmente usado para purificar a água e depois para eliminar os judeus e inimigos do regime tirânico nas câmaras de gás.

À medida que a pesquisa se aprofunda, dezenas de nomes surgem. Entre eles, alguns bem-interessantes e curiosos. Qual seria a relação entre Juan Carlos Goyeneche, Ricardo Walther Darré, Carlos Horst e Carlos Fuldner? O que eles tinham a ver com a Alemanha nazista? Fuldner era capitão da SS, a tropa de elite assassina, subserviente ao ditador Adolf Hitler. Não se trata de Karl Fuldner, mas Carlos Fuldner, agente especial do presidente argentino Juan Domingo Perón na Europa com o objetivo de resgatar os nazistas em Gênova, na Itália, e em Berna, na Suíça. Horst também era capitão da SS e assinava Carlos. Darré tinha dois passaportes, um alemão no qual constava o nome Richard Walther, e outro argentino com o equivalente latino. Ele alcançou a função de ministro da Agricultura. Não da Argentina, mas da Alemanha nazista. E Goyeneche era um nacionalista católico que trabalhava como agente especial de Perón. Diante dessas primeiras observações, pode-se asseverar a necessidade de se revisar o conteúdo histórico do período mais trágico do século 20, a fim de se refletir sobre o papel desempenhado pelas nações sul-americanas no contexto ideológico e no processo de liberdade no decorrer dessas últimas oito décadas, e até mesmo em confronto com a ascensão de governos populistas, cujos atos e discursos se assemelham aos de governantes do passado.

Para tanto, tomou-se como referencial a obra do jornalista argentino Uki Goñi, insuspeito pesquisador dessa relação histórica de governantes, religiosos, militares, empresários e cidadãos argentinos de influência com regimes de exceção, fato que macula a imagem da nação vizinha ao Brasil e direciona os olhares para indivíduos, e não um povo, como colaboradores do antissemitismo e da rede de proteção aos criminosos de guerra julgados à revelia pelo Tribunal de Nurembergue. Tudo porque uma elite de políticos, militares e religiosos tinha por objetivo estabelecer uma nação branca, hispânica e católica no Cone Sul. Apesar das evidências estampadas em muitos livros de autores brasileiros, como Sergio Correa da Costa, em Crônica de uma guerra secreta: nazismo na América e a conexão argentina, optou-se por não fazer menção deles diante das implicações com os argentinos. Na única exceção, inserem-se breves comentários de um artigo escrito pelo jornalista brasileiro Ivan Schmidt, cuja análise em momento algum envolve os argentinos, mas esclarece determinadas situações ligadas ao Vaticano.

O caráter dos nazistas

Para compreender a natureza dos simpatizantes e seguidores do nazismo, torna-se imprescindível conhecer o caráter do fundador do partido nacional-socialista, um líder inescrupuloso. A fim de conquistar o poder, o pintor Adolf Hitler não titubeava em eliminar qualquer concorrente, mesmo companheiros. Nesse estilo traiçoeiro ele podia ser comparado a Josef Stálin, o tirano soviético que frequentemente renovava os escalões assassinando correligionários, ministros, generais, enfim, todo o potencial substituto de seu governo.

O austríaco Hitler tinha pressa em chegar ao domínio da Europa e, na sequência, de outros continentes, pois urgia o nascimento do império militar ariano. De que modo os alemães se condicionaram a aceitar esse aloprado como chanceler e presidente? Ao contrário do imaginado, Hitler assumiu a Alemanha pelas formas legais. Não houve golpe. Segundo o jornalista francês Georges Hourdin,(1) o povo alemão o aceitou depois de um referendo em 19 de agosto de 1934. A decisão de elevá-lo à condição de reichsführer ("líder") recebeu a ratificação de 80% dos eleitores.

Na ponta menor, a dos 20%, alemães com as características da famigerada raça perfeita abominavam essa situação caótica, cuja interpretação das circunstâncias prenunciava uma nova guerra à frente, mais desastrosa que a anterior. Os judeus foram considerados indivíduos sem pátria, inquietos e intragáveis. A nova Alemanha de Hitler deveria ser de jovens altos, louros, de olhos azuis, prontos para a revanche contra aqueles que os humilharam na guerra de 1914 a 1918. Interessante perceber que Hitler não representava essa "raça pura", pois não era loiro, não tinha olhos azuis e muito menos estatura e saúde digna de um espécime modelar.

Vislumbrando uma possível derrota, a elite seguidora e aduladora de Hitler organizou uma sociedade secreta, cuja meta visava proteger o alto-escalão e preparar rotas de fuga para não cair nas mãos dos aliados. Assim surgiu a Organisation der Ehemaligen SS-Angehörigen (Odessa: "Organização de Antigos Membros da SS"). Ou seja, a organização responsável principalmente pela fuga dos oficiais da SS (Schutzstaffel: "tropas de proteção"), cujo lema evocava a completa lealdade ao führer.

Não bastasse insuflarem a nação a outro conflito, os "uniformes negros" da SS não tinham caráter para assumir uma eventual tragédia militar, econômica e social da Alemanha. Deve-se ressaltar que a maioria deles, além da presença de criminosos, era representada por fracassados em seus empreendimentos. E para percorrer esse caminho alternativo de fuga, eles contavam com o indispensável auxílio de organizações, instituições e governos simpatizantes da causa nazista. Goñi descreve os objetivos dessa organização:

Odessa era muito mais do que uma organização fechada, formada apenas por nazistas nostálgicos. Na realidade, ela abrigava várias facções não-nazistas: instituições do Vaticano, agências de inteligência dos aliados e organizações secretas argentinas, além de contar, estrategicamente distribuídos, com criminosos de guerra de língua francesa, fascistas croatas... tudo com o objetivo de ajudar os sabujos de Hitler a escaparem. (2) 

Para estupefação geral, Goñi ainda inclui na lista de aduladores a Cruz Vermelha, a Caritas e o governo suíço, até então estranhamente considerado neutro. Enquanto na Escandinávia as ambulâncias da Cruz Vermelha se camuflavam no transporte de alemães pelas fronteiras, mais abaixo, na Dinamarca, a Caritas desempenhava seu papel de ajuda humanitária aos fugitivos dos tribunais de guerra, conduzindo-os à Argentina com passaportes falsos. Mais abaixo ainda, no centro do continente europeu, o ministro da Justiça Eduard von Steiger, futuro presidente da Suíça, fechou as fronteiras aos judeus e abriu a rota de fuga aos nazistas para a Argentina. Tudo com a conivência de banqueiros abastecidos com os tesouros saqueados pelos nazistas dos judeus e bancos estatais, como os da própria Alemanha e da Croácia.

Motivos do apoio argentino

Dois grupos se uniram na Argentina com três objetivos respaldados pela ideologia nazista. Os oficiais nacionalistas e os dignitários católicos pretendiam transformar o país no referencial cristão para o Ocidente, servindo de contraponto na América do Sul aos Estados Unidos protestante no Norte. Todavia, seu maior impasse se situava na fronteira, os "mestiços brasileiros", cuja proximidade com os norte-americanos estorvava os projetos expansionistas de Perón.

Não bastava à Argentina planejar alargar fronteiras. Era necessário um projeto de crescimento industrial. Para isso, revelava-se indispensável o apoio de uma potência militar, tecnologicamente desenvolvida, que investisse no capital científico com vistas a um retorno financeiro em curto e médio prazos. Desse modo, a elite argentina e os alemães nazistas se encontraram e alinhavaram o perfil ideológico da aliança. A Alemanha preparava o estabelecimento da Nova Ordem na Europa, enquanto a Argentina repetia esse papel no continente sul-americano. A respeito desse envolvimento, Goyeneche deixou anotado:

A Argentina considera que no fim da guerra será do maior interesse entregar totalmente o controle político e administrativo de Jerusalém ao governo do Vaticano, que respeitará propriedades e credos religiosos como eles são hoje. Essa medida terá efeito moral definitivo no mundo ocidental e dissipará completamente as dúvidas de que os movimentos jovens radicados no catolicismo ainda conservam uma adesão plena e apaixonada às normas da Nova Ordem.(3)

Com a finalidade de implantar essa Nova Ordem, era impreterível harmonizar a ideologia nazista ao catolicismo. O primeiro passo indicava para ações diplomáticas no Paraguai, Bolívia, Chile e Uruguai. Unidos sob a liderança argentina, esses países planejavam receber o apoio das colônias alemãs no Brasil e, em seguida, derrubar o governo de Getúlio Vargas. Perón acreditava que depois da "queda do Brasil", o continente passaria para o domínio deles.

Aos argentinos interessavam novas tecnologias, aos alemães o dinheiro argentino para financiar a guerra, e à Igreja Católica o estabelecimento de uma nação-modelo na América e o apoio velado à causa nazista no combate ao comunismo stalinista. Lucraram os alemães nazistas com a possibilidade de escapulir das acusações dos aliados por crimes de guerra, os argentinos por receberem grandes somas dos cofres violados das vítimas do nazismo e os católicos por "espantarem" o avanço comunista sobre a Europa ocidental.

Semelhante ao Brasil que procrastinou a libertação dos escravos até quase o final do século 19, a Argentina foi o último país a romper com os alemães. Goñi define isso como uma estratégia de Perón "para distrair a atenção dos aliados, enquanto as primeiras rotas de fuga para a Argentina eram abertas para os fugitivos nazistas".(4)

Na Alemanha, o bispo Clemens August Graf von Galen, de Berlim, protestou somente quando os portadores de deficiências desapareceram nas câmaras de gás. Quanto aos judeus, havia conhecimento do extermínio, mas o Vaticano não gostaria de provocar os nazistas contra os fieis. Hourdin compartilha desse ponto de vista ao alegar que "embora congregasse cerca da metade dos alemães cristãos, a Igreja Católica estava ausente da luta contra o nazismo",(5) pois este servia de anteparo no Leste europeu contra o avanço das tropas soviéticas. Em um artigo publicado inicialmente para o jornal O Estado do Paraná e republicado pela revista eletrônica Canal da Imprensa, Schmidt descreve a atitude do cardeal Theodor Innitzer, de Viena, quando da anexação da Áustria pelas tropas alemãs, apoiando "a atividade do movimento nacional-socialista" que "afastou o perigo do bolchevismo ateu, destruidor de tudo".(6) Para Schmidt, pior que o perverso genocídio foi o silêncio da igreja. Goñi denuncia a frase escrita pelo padre portenho Julio Meinville, em 1940, cuja máxima retratava o pensamento vigente na Argentina: "O hitlerismo, por paradoxal que pareça, é a antecâmara do catolicismo".(7)

Antissemitismo

Não obstante o engajamento político e ideológico com o nazismo, a cúpula argentina patenteava seu asco contra a presença de judeus no país. Goñi confessa ser esse um dos segredos mais vergonhosos da história deles, pois "nenhum outro país tomou medidas tão extraordinárias para cancelar seus ‘vistos de entrada' para judeus quanto a Argentina, às vésperas do Holocausto de Hitler".(8) O escritor portenho cita as palavras do embaixador argentino em Londres, Tomás Le Breton, explicando a negativa de vistos para crianças judias, porque "eram exatamente o tipo de gente que o governo argentino não queria no país, pois iam crescer e ajudar a aumentar a população judaica por propagação".(9) Depois desse episódio, ele solicitou que os britânicos os esterilizassem antes de enviá-los à Argentina. É óbvio que eles recusaram tal absurdo.

Outro britânico, o ex-primeiro-ministro Winston Churchill, interpretando o pensamento de Hitler sobre o antissemitismo, narra as intenções nazistas para os judeus:

Qualquer organismo vivo que deixasse de lutar por sua existência estava fadado à extinção. Um país ou raça que deixasse de lutar estava igualmente condenado. A capacidade de luta de uma raça dependia de sua pureza. Daí a necessidade de livrá-la dos elementos contaminadores estrangeiros. A raça judaica, por sua universalidade, era necessariamente pacifista e internacionalista. O pacifismo era o mais letal dos pecados, pois significava a rendição da raça na luta pela vida.(10)

Antes de serem conduzidos aos campos da morte, os judeus mais abastados sofreram todo o tipo de assédio. Ameaçados de deportação, muitos rogavam aos amigos e parentes nos Estados Unidos a transferência de valores para as contas dos nazistas em bancos suíços, portugueses e argentinos. Sempre havia um negociador suíço envolvido na trama. A Espanha serviu de laboratório para a engenharia militar antes da Segunda Guerra e Portugal passou a ser um paraíso fiscal e trampolim de escape para os nazistas. Daí a imunidade territorial desses três países europeus às tropas alemãs, erroneamente considerados neutros pelos historiadores.

O chefe da Imigração na Argentina e antropólogo Santiago Peralta, difundia a maquiavélica ideia de que os judeus deveriam ser culpados pela morte de Cristo, "que pregou o amor, a doçura e a paternidade entre os homens, contra a religião de Jeová, que é uma religião de punição, ódio e medo". Peralta recebia a corroboração do cardeal argentino Antonio Caggiano, defensor do dever de cristãos em perdoar os nazistas pelo que fizeram no Holocausto.(11) Ao defenderem o direito de perdão aos nazistas, e aos judeus o destino à "pira de Torquemada", os argumentos contraditórios dos líderes argentinos demonstravam a raiz da ignorância, da intolerância e da violência.

Apesar das evidências antissemitas do catolicismo, inclusive detalhadas no filme de Costa-Gravas, Schmidt se apega a algumas linhas da desaparecida e quase lendária Encíclica Escondida, de Pio XI, em cujo conteúdo o papa condena o "racismo ‘por ser unicamente a luta contra os judeus', reprovada mais de uma vez pela Santa Sé, ‘sobretudo quando desdobravam a capa do cristianismo para se abrigarem nele'", e continua, estabelecendo "que ‘os métodos perseguidores do antissemitismo não podem, de modo algum, se conciliar com o espírito autêntico da Igreja Católica'", protetora do "povo judeu contra os ataques injustos de que tem sido vítima". Logicamente que não se pode incluir nesse contexto o processo inquisitorial movido contra os judeus na Península Ibérica entre os séculos 15 e 18, tampouco o papel omisso do pontificado de Pio XII, descrito por Schmidt como "o encabrestamento da insanidade genocida de Adolf Hitler".(12)

A religião e os fugitivos

Hitler não deixou o sincretismo religioso imperar durante o período em que se entronizou no poder. Ele criou uma igreja nacional para os "autênticos" cristãos alemães. As igrejas que reivindicaram por motivos de consciência sua independência foram proscritas, colocadas na ilegalidade, caso do grupo de jovens católicos denominado Rosa Branca, segundo Hourdin,(13) exterminado pelos nazistas.

Ao comentar e se admirar com a coragem de Kurt Gerstein, Hourdin erra ao chamá-lo de católico, citá-lo como oficial da SS e traçar seu objetivo como militar, cujo intuito visava a desvendar os bastidores dos campos de concentração. Personagem principal do filme Amém, o tenente Gerstein era luterano. Depois de testemunhar as atrocidades dos campos de extermínio, o oficial tenta denunciar e buscar apoio junto à Igreja Luterana, mas essa nega a se envolver contra o regime. Por esse motivo Gerstein procurou Von Galen. No entanto, este o expulsa e também repudia qualquer tipo de auxílio. Seu invento, o Zyklon B, passou a ser manuseado para outros fins e ele ficou acuado pelo alto-comando da SS a responder pela aquisição, transporte, manipulação, orientação e uso do ácido da morte. Médico, Gerstein entrou para a SA, incorporado ao exército alemão e não à elite da SS.

No que se refere ao assunto religião, Goñi repudia essa fachada cristã dos nazistas, rotulando-os de pagãos, pois na Argentina eles veneravam o sol mancomunados aos terroristas montoneros, os mesmos que "fizeram campanha para o candidato peronista à presidência, Carlos Menem".(14) Esse fascínio dos nazistas pelo ocultismo ou práticas pagãs recebe a confirmação de Churchill, acusando Hitler de invocar "o temível ídolo de um Moloch que tudo devorava, e do qual ele era o sacerdote e a encarnação".(15)

Não foram poucos os refugiados aceitos na Argentina. A maioria com empregos no serviço público ou em postos de indústrias alemãs, como a Mercedes-Benz. Caso do carniceiro Adolf Eichmann, descoberto e sequestrado pelo Mossad (serviço secreto israelense), depois julgado e enforcado. Somente da Alemanha, mais de 500 militares conseguiram abrigo sob o manto protetor de Perón. Somando-se a esses, milhares de criminosos austríacos, franceses, belgas, holandeses, eslovacos e croatas. Da Croácia conseguiram se evadir mais de trinta mil personagens apenas para a Argentina.

O cardeal austríaco Alois Hudal, que presta auxílio ao "Doutor" no filme Amém, fornecendo-lhe um passaporte argentino, também é incriminado por Goñi. Este acrescenta à lista criminosos franceses gentilmente "ajudados, em sua fuga, pelo Vaticano e pela Igreja Católica argentina", não deixando de delatar o futuro papa Paulo VI, Giovanni Battista Montini, manifestando "o interesse do papa Pio XII em arranjar a emigração ‘não apenas de italianos' para a Argentina... ou seja, oficiais nazistas".(16)

Com o propósito de acobertar os nazistas dos aliados e seus tribunais, Perón e seus comparsas estruturaram uma rede internacional de resgate de criminosos de guerra. Algumas histórias se transformaram em mito, como a de Martin Bormann, secretário de governo de Hitler. Os chilenos diziam que ele se fixou como fazendeiro no país, migrando para a Bolívia e finalmente para a Argentina. Goñi(17)  garante a morte de Bormann durante a queda de Berlim. A ex-secretária de Hitler, Traudl Junge,(18) concorda com essa hipótese, relatando sua morte provavelmente em Berlim, em 2 de maio de 1945, quando cometeu suicídio ingerindo cianeto de potássio. Entretanto, ao condená-lo à morte à revelia por crimes de guerra, o Tribunal de Nurembergue plantou a semente da dúvida a respeito de seu desaparecimento. Informado pelo serviço secreto britânico, Churchill atesta que "Bormann tentou passar pelas linhas russas e desapareceu sem deixar vestígios".(19)

Paz com criminosos

Hitler e Perón passaram, mas permaneceram os resquícios. E eles podem ser detectados nos discursos e atitudes de governantes contemporâneos, mas de índole populista com raízes no passado tirânico e intolerante. Em momento algum existe qualquer relação entre nazismo e catolicismo em Churchill. Ele confronta ideologia com ideologia, analisando o fascismo como "a sombra ou o filho feio do comunismo... Assim como o fascismo brotou do comunismo, o nazismo desenvolveu-se a partir do fascismo... estavam destinados a mergulhar o mundo num conflito ainda mais hediondo, que ninguém pode afirmar que tenha terminado".(20) Junge esclarece essa preocupação ao elucidar as mudanças ocorridas na Alemanha pós-guerra:

A maioria dos alemães entende o processo como um ponto final, a partir do qual reina um silêncio coletivo sobre o período nazista. De um lado, os interesses dos aliados facilitam esse processo: os alemães precisam ser parceiros da Guerra Fria, no lado ocidental e no oriental. Do outro, os políticos alemães da era de Adenauer cortejam a boa vontade dos eleitores - e quem apoiar a exigência de um "ponto final" terá mais probabilidade de recebê-la... Ralph Giordano chama isso a "grande paz" com os criminosos. Somente no final dos anos 1960, a segunda geração do pós-guerra irá forçar seus avós a tomarem partido.(21)

Durante a ocupação aliada e a reconstrução da Alemanha como parte do Plano Marshall, havia a preocupação em se esquecer o passado. No entanto, esse passado se tornou obscuro para as gerações posteriores até o momento em que não foi mais possível encobrir as subterrâneas conexões com o nazismo. Houve um rompimento entre gerações. As novas gerações não admitem qualquer vínculo com aquele período de nódoa, desonra para a história da nação germânica. Daí a acusação de Giordano contra aqueles omissos quanto a presença de criminosos circulando livremente pelo território em atenção a um "ponto final" e seus interesses políticos e financeiros. Para se compreender essa questão, é suficiente lembrar que o Tribunal de Nurembergue jamais condenou um empresário ou cientista nazista à morte, mesmo contendo provas cabais da participação desses em crimes de guerra.

Quanto aos argentinos, permaneceram incólumes à parceria política, econômica, militar e religiosa com os nazistas europeus. Vez ou outra o peronismo ascende ao poder. Até mesmo o crítico de política Noam Chomsky, professor do MIT, intitula os governos argentinos de "neonazistas".(22) Parece difícil acontecer um rompimento entre as gerações na Argentina. Sua história, bem como as das colônias alemãs no Sul do Brasil, no Chile e Paraguai, prossegue no limbo de arquivos estatais ou na memória daqueles que sofrem com as torturantes lembranças. E esse processo de renascimento de governos populistas - não somente na América Latina -, reforça e solidifica a volta da censura, do medo, da intransigência e do despotismo.

 

 

Ruben Holdorf é jornalista graduado pela UFPR, doutorando em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), tem dois mestrados, um Multidisciplinar em Comunicação, Administração e Educação (Unimarco) e outro em Educação (Unasp), é diretor de Jornalismo da Rádio Unasp e leciona no curso de Jornalismo do Unasp.

 

 

Notas



1 HOURDIN, Georges. Vítima e vencedor do nazismo: Dietrich Bonhoeffer. São Paulo : Paulinas, 2002.

2 GOÑI, Uki. A verdadeira Odessa: o contrabando de nazistas para a Argentina de Perón. Rio : Record, 2004, p. 22.

3 Ibid, p. 43.

Ibidem, p. 53.

5 HOURDIN, Georges. Vítima e vencedor do nazismo: Dietrich Bonhoeffer. Op. Cit., p. 8.

6 SCHMIDT, Ivan. Canal da Imprensa. A conspiração do silêncio, Engenheiro Coelho, 22 ed., 30 de outubro de 2003.

7 GOÑI, Uki. A verdadeira Odessa: o contrabando de nazistas para a Argentina de Perón. Op. Cit., p. 57.

8 Ibid, p. 56.

9 Ibidem, p. 64.

10 CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. 2 ed. Rio : Nova Fronteira, 1995, p. 31.

11 GOÑI, Uki. A verdadeira Odessa: o contrabando de nazistas para a Argentina de Perón. Op. Cit., pp. 69 e 120.

12 SCHMIDT, Ivan. Canal da Imprensa. A conspiração do silêncio. Op. Cit.

13 HOURDIN, Georges. Vítima e vencedor do nazismo: Dietrich Bonhoeffer. Op. Cit.

14 GOÑI, Uki. A verdadeira Odessa: o contrabando de nazistas para a Argentina de Perón. Op. Cit., p. 134.

15 CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. Op. Cit., p. 42.

16 GOÑI, Uki. A verdadeira Odessa: o contrabando de nazistas para a Argentina de Perón. Op. Cit., pp. 117 e 123.

17 Ibid, p. 23.

18 JUNGE, Traudl. Até o fim: os últimos dias de Hitler contados por sua secretária. Rio : Ediouro, 2005, p. 183.

19 CHURCHILL, Winston S. Memórias da Segunda Guerra Mundial. Op. Cit., p. 1.088.

20 Ibid, p. 11.

21 JUNGE, Traudl. Até o fim: os últimos dias de Hitler contados por sua secretária. Op. Cit., p. 218.

22 CHOMSKY, Noam. Estados fracassados: o abuso do poder e o ataque à democracia. Rio : Bertrand Brasil, 2009, p. 209.

Atualizado em ( 06-Dez-2009 )
 
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