São Paulo, o pior de todos |
Escrito por Gustavo Leme Cezário Garcia e Adrián Fanjul | |
12-Fev-2010 | |
Recentemente, no dia 8 de fevereiro, um conhecido telejornal difundiu uma reportagem sobre a introdução da língua espanhola no ensino médio, informando a situação em vários estados. Na sua brevíssima duração, a descrição de São Paulo consistiu em afirmar que é o que apresenta "a pior situação", já que não há no estado nenhum professor concursado para a disciplina. O dado, infelizmente verdadeiro, merece, no entanto, um esclarecimento: é o estado onde mais profissionais formados existem, e nunca o governo convocou concurso específico.
Só existe a língua como extracurricular nos Centros de Línguas do Estado. E a seleção que os professores passam para exercer neles não os transforma em efetivos, e nem sequer prioriza sua formação específica. O relato de uma professora na lista de discussão eledobrasil sobre a recente atribuição de aulas para os CELs é contundente: "Tinha 7 turmas de espanhol, a primeira professora a ser chamada simplesmente escolheu 4 turmas, com aulas de manha e tarde de segunda a quinta, a segunda professora pegou o restante. Até aí fica compreensível, poucas aulas e muitos candidatos... o que revoltou é que essas professoras são de português! Nunca lecionaram espanhol! A terceira, a quarta e a quinta colocadas possuem vários anos de docência em espanhol em escolas privadas e ficaram sem aulas porque as duas primeiras tinham mais anos de docência em português no estado. Protestamos contra os critérios de seleção e ouvimos o absurdo:- 'quem ensina português pode ensinar espanhol' [...] Quem perde com isso são os alunos e nós que investimos numa carreira e somos tratados como lixo!" Por que acontece isso tudo? Cremos que é resultado de que os governos de São Paulo nas últimas décadas, no seu planejamento para a educação pública, concebem o inglês como única língua a ser estudada pelos alunos. Na contramão do que acontece no resto do país, onde a língua espanhola está sendo implantada, ou, em alguns casos, já era parte do ensino médio antes da nova Lei, o Secretário da Educação de São Paulo, ex-ministro do governo FHC, aprovou em novembro de 2008 a Resolução SE 76, que estabelece o inglês como única língua curricular obrigatória no estado todo, contrariando a Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, que determina que cada comunidade escolar deve escolher a língua obrigatória. Veja-se um outro dado: as universidades do estado de São Paulo são praticamente as únicas no país que têm o inglês como única opção no vestibular. Detido no tempo, em sabe-se lá que parte do século XX, o governo de São Paulo parece imaginar um mundo subordinado a uma única hegemonia, que fala inglês. Parece desconhecer a diversificação identitária que caracteriza o atual mercado de bens culturais, e sobretudo, ignorar as transformações geopolíticas que colocaram o Brasil em potencial liderança na América do Sul, região que já não é um "pátio traseiro" dos EUA. Na visão ultrapassada do setor governante, a única língua que poderia abrir caminhos para um jovem brasileiro é o inglês. Ora, será que ignoram que os acordos atingidos no MERCOSUL já permitem a qualquer brasileiro que termine o segundo grau cursar estudos superiores nos países vizinhos sem precisar fazer equivalências de disciplinas? É considerado o enriquecimento que pode significar para um brasileiro o estudo nas melhores universidades desses países, que além de serem prestigiosíssimas são gratuitas? E a legislação vigente desde 2004, que permite o estabelecimento em qualquer desses países sem visto prévio, permitindo inclusive trabalho remunerado apenas mostrando estar livre de antecedentes criminais? Acaso o conhecimento da língua espanhola não favorece o aproveitamento dessas oportunidades? Há algum país de língua inglesa que ofereça essas possibilidades aos brasileiros, especificamente àqueles que freqüentam a educação pública? Agora, quando tardiamente e como resultado de pressões o governo finalmente decide a inclusão do espanhol na grade curricular, dá esse passo tentando que ele seja o mais curto possível. Só o inclui no primeiro ano, e, valendo-se do caráter facultativo da matrícula para o aluno, anuncia que realizará um "levantamento" por meio das diretorias de ensino para verificar qual é o interesse existente nos alunos em relação com a língua e, em função disso, quantas turmas procurará abrir. Considerando os antecedentes mencionados, temos motivos para temer que o levantamento seja feito de modo que dê um resultado negativo. A APEESP propõe que o levantamento seja precedido por uma intensa divulgação, nas escolas e para os pais, das muitas vantagens práticas e concretas que aprender espanhol tem hoje para um jovem brasileiro, tanto em relação à sua inserção no mercado de trabalho quanto ao ganho de capital cultural. Pensamos que os setores interessados da comunidade devem ser convocados a participar do planejamento desse levantamento e da forte campanha informativa que deveria precedê-lo.
Diretoria da APEESP |
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