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Saci-Pererê X Mula-Sem-Cabeça PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jesus Karlo   
07-Mai-2011

O vilarejo com seus pacatos moradores ocupava uma pequena parte da floresta; lá eles tinham quase tudo para suprir suas necessidades, a capela ficava bem no centro da vila, do lado direito o seu Moises aproveitou sua grande varanda e montou uma barbearia; do lado esquerdo era o "Bazar da Verinha", ali a gente encontrava vários tipos de papel, muitos modelos de lápis e canetas, alguns estojos de madeira bem bonitinhos e várias outras miudezas características de um bazarzinho de vilarejo. Em frente à capela uma pracinha alojava uns poucos bancos dispostos num humilde espaço entre algumas árvores, isso dava um aspecto pitoresco ao lugar. Atravessando a praça e a rua, de frente para a capela, ficava o armazém do turco Abdala, lá sim tinha de tudo mesmo, desde coisas de comer até roupas, ele só não vendia material escolar para não competir com a Verinha. Os moradores se davam bem, era coisa rara ver uma discussão, briga mesmo eu nunca vi, se bem que eu só tinha nove anos, contudo nunca ouvi meus pais falarem de briga. Assim, os moradores do vilarejo iam levando suas vidas, bem sossegados.

Aquele dia amanheceu nublado, as nuvens que cobriam o céu eram cinzentas e durante todo o dia não deixaram o sol aparecer, mesmo assim não estava frio, o clima era morno, até um pouco abafado; no finalzinho da tarde começou um ventinho que foi progredindo aos poucos. Os mais velhos começaram a prognosticar chuva, parecia mesmo, todo aquele vento que aumentava mais e mais a cada momento indicava um belo temporal. Entretanto não foi o que aconteceu, não senhor, com a proximidade da noite, sabe o que sucedeu? Uma coisa incrível: o vento forte rapidamente espalhou as nuvens e de um momento para outro a noite ficou clara, uma lua cheia e esplendorosa mostrou-se, prateando todo o vilarejo, deixando as pessoas abismadas com a mudança repentina.

Entre oito ou nove horas os moradores se preparavam para dormir, pois, como é costume nesses lugares, o povo dorme cedo e acorda cedo, todavia, há sempre os que gostam de esticar mais um pouco, aproveitar momentos que podem ser agradáveis. A lua clareava tudo, os que permaneceram acordados ficaram conversando, falando amenidades e rindo do acaso, uma descontração; a maioria era jovem, e a lua irradiava-lhes mais energia; eu pedi a meus pais para ficar com o primo Juca que tinha dezessete anos. Alguém agitou fazer uma fogueira ao lado da praça; não demorou e a fogueira crepitava sob a luz do luar, o papo rolava solto, uns poucos "tiozinhos" observavam contentes o desenrolar dos acontecimentos e assim a noite prosseguia descontraída.

Lá pelas tantas alguém se levantou abanando os braços e fez um "chchch!" com um dedo em riste próximo aos lábios pedindo silêncio. O gesto foi imitado por alguns, em instantes todos estavam quietos tentando entender o que se passava. Ouviu-se ao longe um tropel e um relincho forte, as atenções se voltaram para o lugar de onde vinha o barulho, então numa colina próxima, eles avistaram um clarão e um grande cavalo empinando e agitando as patas da frente alucinado, o clarão eram labaredas que saiam de onde deveria ser a cabeça do animal, em seguida como uma fera assustadora, ele partiu em disparada na direção do vilarejo. As pessoas, sem esperar nem um segundo, fugiram assustadas para seus casebres, eu e o primo Juca também corremos como o vento cada um para sua casa; entrei e bati a porta desesperado, na rua não sobrou viv'alma pra contar a história; a fogueira ficou queimando sozinha demonstrando o medo provocado pela horrenda criatura que se aproximava.

Meus pais acordaram com o barulhão que eu fiz ao bater a porta e vieram ver o que eu estava espiando pelas frestas da janela, uniram-se a mim e juntos vimos uma negra figura mística chegar. Soltava relinchos apavorantes e chamas por onde deveria estar a cabeça.

_ É a Mula-sem-cabeça! - Disse minha mãe com os olhos esbugalhados.

Meu pai correu e passou a taramela na porta; lá fora a Mula-sem-cabeça alvoroçava-se em uma performance infernal. Dava coices, relinchava e soltava labaredas; jogou-se contra a fogueira espalhando tudo com patadas e coices, depois deu uma última empinada e saiu galopando pro meio da floresta queimando tudo por onde passava até sumir na escuridão. Eu era todo medo, tremia igual vara verde, custei a pegar no sono.

No dia seguinte, a aparição da Mula-sem-cabeça era assunto em todas as bocas, para qualquer lugar que se fosse ouvia-se a mesma coisa, embora as pessoas falassem baixo, olhando pros lados, acho que com medo da Mula ouvir.

Era período de férias escolar por isso eu não tinha muito o que fazer, tomei um bom café da manhã, com leite tirado na hora, toucinho defumado no fogão de lenha, omelete com ovos que eu mesmo peguei no quintal, pão e manteiga feitos em casa, depois deste repasto fui brincar; notei que não era só eu que estava assustado, meus coleguinhas também, estavam, nenhum quis brincar de bandido e mocinho pro meio do mato como sempre fazíamos em tempos mais normais, de esconde-esconde então nem pensar, ninguém queria saber de ficar escondido na mata sozinho, acabamos brincado de bolinhas de gude ou de rodar pião; à tarde também ficamos brincando por perto, se arriscar a ir na lagoa ou apanhar frutas na mata, estava fora de cogitação, todos com medo da Mula-sem-cabeça que poderia estar escondida em qualquer lugar.

Comecei a caminhar sozinho com as mãos no bolso, quando do nada vi surgir um redemoinho, acompanhei com a vista e notei que ele entrou no mato, eu fui atrás, o pequenino ciclone rodopiava por entre o arvoredo, estava indo pros lados da lagoa, mais na frente havia uma clareira e bem no centro dela uma figueira alta, frondosa, com galhos robustos, tinha uma copa imensa que em dia de sol dava uma sombra gostosa, parte da copa cobria um pedacinho da lagoa.

Bem... o fato é que ao chegar debaixo da figueira, o redemoinho levantou uma porção de folhas, girou rápido agitando todas elas e foi parando aos poucos. Eu fiquei ali, vendo o momento encantando e fui percebendo que conforme a poeira baixava ia aparecendo de dentro dela uma figura, era um moleque pretinho com um capuz ou touca vermelha, trajava uma camisa rota e um calçolão com suspensórios, logo me escondi, ele estava de lado para mim, enfiou a mão no bolso e puxou um cachimbo, ajeitou o fumo batendo com o dedo e acendeu. Sabe que eu não sei como foi que ele acendeu?! Nem dava pra ver o que ele estava segurando, o certo é que ele acendeu o cachimbo. Deu umas baforadas e um pulo ficando de frente para a lagoa e de costas para mim. Aí eu tive a certeza, pelo que ouvira dos mais velhos contarem, era o Saci-pererê, ele só tinha a perna esquerda. Quando pensei em ir embora ouvi uma voz de moleque travesso:

_ He! He! O que foi, ficou com medo?

Eu olhei assustado. "Com quem será que ele está falando?" Aí ele deu outro pulo e ficou de frente para mim.

E aí garoto?! Pode sair daí, vem pra cá, vem! Não precisa ficar com medo não.

Eu fiquei um tanto atônito, mas reunindo coragem, aos poucos foi saindo detrás da moita.

_ Achegue-se, vem pra cá!

Devagarinho e com um pouco de receio eu foi me aproximando.

_ Você ia nadar aí na lagoa, é?

_ É... não!

_ Como é que é?! Ia nadar ou não ia?

_ Eu ia, mas é que fiquei com frio. - Argumentei.

_ Eu acho que você estava é me seguindo. Mas não tem problema não. Eu gosto de criança curiosa.

_ Não, não estava seguindo não. Acho até que vou dar um mergulho.

E fui mesmo. O Saci veio junto comigo, pulando. Cheguei na beira da lagoa e tirei a roupa, fiquei só de cueca.

_ Você não vai entrar também?

_ Não, não, hoje não estou com vontade.

Nem liguei, molhei o dedão do pé na água para sentir se não estava fria e dei um mergulho. Emergí mais pra frente dando umas braçadas, ao me voltar não vi mais o Saci; nadei de volta e saí da água, um ventinho me arrepiou, procurei minhas roupas, mas que nada; foi o Saci, o malandro havia levado minhas roupas, tive que ir pra casa me escondendo pela mata para que ninguém me visse.

Quando o sol se aproximou do horizonte os trabalhadores, que faziam serviços em roças e fazendas das redondezas, começaram a chegar em seus lares. Todos vieram cedo, não era bom que a noite chegasse e encontrasse alguém caminhando pela estradinha. Anoiteceu de mancinho, naquele dia não houve vento nem nuvens a lua e as estrelas logo apareceram deixando a noite clara, melhor assim, pois os lampiões das ruas que estavam acesos na noite anterior, foram quebrados pelos coices da Mula. Algumas pessoas ainda tiveram coragem de formar dois ou três grupinhos para ficar conversando um pouco, no entanto, por volta das sete horas já não se via mais ninguém.

O tempo passava lentamente, os minutos se arrastavam devagar formando as horas, de repente ouviu-se outra vez o tropel: "Pocotó! Pocotó! Pocotó!..." Relinchos fortes e assustadores chegaram aos ouvidos daqueles que teimaram em ficar acordados. Meu sono estava leve, assim, logo que ela chegou fazendo toda aquela balbúrdia, acordei de vez. Os mais valentes e curiosos espiavam pelas frestas e puderam ver a besta. Como uma entidade demoníaca, ela pulava, relinchava, escoiceava o ar e soltava fortes labaredas como se estivesse enfrentando mil demônios, os relinchos saiam pelo mesmo lugar que saia o fogaréu, pois ao relinchar as chamas aumentavam produzindo uma infinidade de centelhas. A cena congelava o sangue até do mais intrépido dos observadores, era uma coisa aterrorizante, o medo dominava ao ponto da gente nem conseguir se mexer; eu fiquei ali olhando até a hora em que a danada, talvez já satisfeita, se retirou correndo mata afora, escoiceando, relinchando e soltando fogo pra todo lado. O silêncio imperava na vila, aos moradores não restava nada a não ser resignarem-se e dormir, pedindo a Deus para que aquilo não se repetisse novamente.

No outro dia levantei tarde, a noite passada só consegui pegar no sono altas horas; sai para brincar, encontrei meus amiguinhos todos jururus, as poucas brincadeiras não passavam dos limites do vilarejo, não tive nem entusiasmo para me juntar a eles; andei um pouco e depois decidi ir até a lagoa. Não chamei ninguém, tão pouco comentei sobre o Saci, embora o episódio ainda estivesse bem claro em minha mente, não estava com medo dele, por sinal queria até encontrá-lo para passar-lhe uma reprimenda por ter sumido com minha roupa. Cheguei na lagoa e tirei as vestes, estava meio arisco, como sempre molhei o dedão do pé, dei uma boa olhada em volta mas não vi nada. Mergulhei emergindo rápido e já olhei para beira da lagoa, lá estava ele, pertinho de minhas roupas com seu cachimbo na boca, pulando e rindo que nem criança quando faz arte. Sem tirar os olhos dele, nadei em direção à borda.

_ E aí garoto, está mais esperto hoje, hem! He! He! He!

Saí da água, mas não falei nada da roupa que sumiu na tarde passada, me vesti e sentei no barranco cabisbaixo.

_ O que foi? Parece que você está meio triste.

_ É...

_ Fala aí, o que aconteceu?

Pensei um pouco e acabei chorando as mágoas.

_ Sabe o que é seu Saci, é que eu "tô" com medo da Mula-sem-cabeça.

_ Mula-sem-cabeça?! Mas por que, ela tem aparecido por estas bandas?

_ Tem sim! De noite...

Então eu contei das duas aparições seguidas que a Mula fez, quebrando tudo que encontrava pela frente e assustando todo mundo lá no vilarejo.

O Saci ficou bem sério e disse:

_ Olha aqui garoto, gostei de você! Vou te ajudar. Essa tal de Mula-sem-cabeça é muito metida, vive por aí apavorando todo mundo, mas eu sei bem como lidar com as gracinhas dela. O negócio é o seguinte, hoje a noite se ela aparecer, você pega um punhado de cinza, sopra no ar e diz: "Me ajuda Saci!" Três vezes, fale antes que toda a cinza caia no chão, então pode deixar tudo comigo.

Depois ele conversou mais um pouco, fez umas diabruras e desapareceu na floresta no meio de um redemoinho.

Fui embora mais esperançoso. "Será que o Saci vai fazer alguma coisa mesmo?" Cheguei em casa e desta vez contei tudo o que tinha acontecido pro meu pai e pra minha mãe, eles ficaram espantados, entreolharam-se; minha mãe se aproximou de mim e me abraçou, meu pai veio logo atrás, a nós só restava a esperança.

Quando a noite chegou, trouxe com ela nossos temores. Os lampiões da praça haviam sido restaurados pelos moradores e estavam cheios; não faziam muita luz, contudo, ajudados pela lua cheia, dava-nos uma ilusão de segurança. A maioria dos habitantes puseram um lampiãozinho pendurado pro lado de fora de casa. Nessa noite a vila ficou mais clara que de costume, era tudo silêncio, no ar fluía uma apreensão vivida por todos. O tempo foi passando... bem devagar... embora só ouvíssemos os sons da mata, eu não conseguí  nem cochilar, meus sentidos estavam a mil, em alerta máxima. Após um bom tempo meu pai cochilou na cadeira apoiado na mesa, minha mãe tinha se retirado cedo, então eu ouvi, ou melhor, deixei de ouvir o barulho da mata, os grilos ficaram quietos, não se ouvia mais o coaxar dos sapos, nem um piado de alguma ave noturna, nada. Ao longe começou-se a ouvir o som conhecido: "Pocotó! Pocotó! Pocotó!..."

Cada vez mais perto, os terríveis relinchos chegavam aos nossos ouvidos dando a certeza agora de que era ela mesma que se aproximava. Os que tiveram coragem de olhar puderam ver a Mula-sem-cabeça. Mesmo para quem já tinha visto era muito tenebroso, o medo era tanto que petrificava a pessoa, é sim, a gente não conseguia nem se mexer; quando eu a vi quebrando as luzes, avançando nos casebres, escoiceando que nem louca, me lembrei que precisava fazer uma coisa; corri até o fogão de lenha, peguei um punhado de cinza e soprei no ar, ato contínuo falei:

_ Me ajuda Saci! Me ajuda Saci! Me ajuda Saci!

Antes   que toda a cinza caísse no chão formou-se um redemoinho e do meio dele saiu o Saci-pererê. Surgiu dentro da minha casa, rodopiando e dando um riso debochado. Meu pai correu para a porta do quarto assustadíssimo, sua expressão era de espanto total; eu sabia que minha mãe devia estar assustada também.

_ He! He! He! Olá garoto! Quer dizer que me chamou mesmo, não é?! E cadê a tal Mula?

Não precisei nem responder, nesse instante a Mula-sem-cabeça relinchou e escoiceou o lampião que deixamos pendurado pro lado de fora e deve ter acertado a parede também que sendo de taboas fez um baita barulhão.

Calmamente o Saci tirou seu cachimbo do bolso, desta vez eu pude ver claramente que ele só estalou os dedos e uma chama apareceu em seu polegar, de modo natural ele botou fogo no fumo e soltou umas baforadas.

_ He! He! Agora pode deixar comigo!

Deu uma mexidinha em seu capuz e desapareceu, em seguida ouvimos sua risada do lado de fora, corri a olhar pelas frestas e lá estava ele, bem atrás da Mula. Quando ela ouviu a risada do Saci, virou-se pro lado dele e relinchou soltando uma rajada de fogo, mas o Saci, muito esperto, tocou no capuz e desapareceu antes que as chamas o atingissem, aparecendo novamente atrás da Mula. Ela ficou doida e mais brava ainda, escoiceava e soltava fogo em cima do Saci, mas ele sempre desaparecia e reaparecia atrás dela, dando risadas e soltando baforadas de fumaça. Aos poucos a Mula-sem-cabeça foi se cansando; num dado momento o Saci, que sempre estava atrás dela, deu um salto e montou em seu lombo; mesmo com uma perna só ele era um exímio cavaleiro, por mais que a Mula saltasse, se contorcesse, fizesse mil peripécias, não conseguia derrubá-lo. Ele segura firme em seu pescoço, com muito cuidado para que as chamas não lhe atingissem. A Mula tanto fez que não aguentou mais, acabou saindo em disparada para o meio da floresta soltando relinchos que pareciam gritos tenebrosos levando o Saci agarrado em seu dorso.

Depois daquela noite a Mula-sem-cabeça nunca mais veio ao nosso vilarejo e até hoje eu agradeço ao Saci, que de vez enquanto aparece por lá pra falar com qualquer garoto que tenha coragem.

Atualizado em ( 07-Mai-2011 )
 
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