Carlos Fuentes e seu credo |
Escrito por Joaquim Branco | |
18-Jan-2012 | |
Certos livros simplesmente nos trazem a sabedoria: lembro-me de Sete noites e Esse ofício do verso, de Jorge Luis Borges; Seis propostas para o novo milênio, de Ítalo Calvino; Diário de páginas íntimas, de Kafka, entre outros. No momento, estou lendo - a passo de tartaruga, para demorar bastante - Este é meu credo (En esto creo), de Carlos Fuentes, que incluo nessa prestigiosa e pequena lista.
Nascido na capital do Panamá (seu pai era embaixador) em 1928 e considerado um escritor mexicano, Fuentes tem uma trajetória de sucesso como intelectual, ficcionista e professor de grandes universidades americanas (Harvard, Princeton etc.). Residiu em vários países e foi embaixador do México na França. Em 1987 ganhou o prêmio Miguel de Cervantes de literatura e hoje é um dos autores vivos de maior expressão internacional. É autor de vasta obra nas áreas da ficção e da crítica e teoria literária da qual cito Aura (1962), La muerte de Artemio Cruz (1962), La nueva novela hispano-americana (1969) e muitas outras. Escritor atuante, seus artigos correm mundo em revistas e jornais. Publicado em 2002 em países da América espanhola, chega ao Brasil, quatro anos depois, Este é meu credo (Trad. Ebréia de Castro Alves, Editora Rocco, 2006, 303 pp.) em que Carlos Fuentes reúne artigos-verbetes à maneira de um mosaico onde cataloga o seu ‘credo' - de A a Z -, com suas preferências temáticas de "América Ibérica" a "Zurique", compreendendo inúmeros outros: "Beleza", "Deus", "Família", "Globalização", "Morte", "Felicidade", "História", num total de quarenta e um trabalhos. Mais do que o fabulista de histórias fantásticas, aprecio este Fuentes teórico e crítico, cujos textos são prodígios de cultura e ensinamento, que fluem deliciosamente para o leitor que se aventure em sua narrativa. Nas considerações sobre a "Leitura", um dos temas abordados, recorto a abertura: "Dom Quixote é um leitor. Melhor dizendo: sua leitura é sua loucura. Possuído pela loucura da leitura. Dom Quixote gostaria de transformar em realidade o que leu: os livros de cavalaria". (p. 148) E a seguir descreve um momento especial em que esse leitor "descobre que ele, leitor, também é lido", e que "ao passear pela cidade [Barcelona], vê um letreiro que diz: ‘Aqui se imprimem livros'"; quando entra, "descobre que se está imprimindo justamente o seu próprio romance: O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha". (p. 148) É a partir desse jogo leitor x livro, leitura x autor, palavra x silêncio que Fuentes desenvolve seu diálogo dentro de um universo muito amigável para ele - a literatura. O texto se encerra com definições do que é o livro, sob diversos ângulos, fechando com um aconselhamento profético: "(...) se nós não nomearmos, ninguém dará um nome. Se nós não falarmos, o silêncio imporá sua soberania soturna." (p. 156) |
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