Noite dessas, estava assistindo a um telejornal e perdido em meus pensamentos. Ultimamente, nem dá muita vontade de prestar atenção às notícias. Só tem desgraça. E elas já começam na escalada.
De vez em quando, põem como última notícia um panda que nasceu não sei onde (e panda não é urso!), ou uma flor rara que foi encontrada não sei como. Deve ser para não pensarmos que o mundo está perdido de vez.
No meio de muitas outras notícias catastróficas, mais uma: a da dificuldade que o brasileiro tem de cantar corretamente o hino nacional. Era uma retrospectiva do legado da Copa, eu acho (que legado?).
Um dos entrevistados na reportagem começou a explicar que a dificuldade vem do fato de o hino ser rebuscado, mesmo para o período do século XIX em que foi escrito. Inversões sintáticas, típicas do Parnasianismo.
Nesse momento, minha mente voou longe para o final dos anos 80 e meu coração se encheu de alegria porque me lembrei da Dona Didi, professora de Educação Artística. Ela me ensinou muitos hinos, além de várias outras melodias do cancioneiro popular. Vi a reportagem e me enchi de orgulho por ter conhecido uma professora do "calibre" da dona Didi.
E as aulas de Educação Física do professor Válber? Nelas, passei os melhores e os piores momentos escolares (entenda-se, na mesma ordem, aula de vôlei X aula de ginástica olímpica).
Magricela e comprido, de vôlei eu gostava e até jogava bem. Tanto que quase me profissionalizei. O vôlei me trouxe autoconfiança, pois com ele eu aprendi a vencer. Já da ginástica olímpica, não podia nem posso dizer o mesmo. Só de ver aquele cavalete eu já tremia da cabeça aos pés. Desengonçado, mal aprendi a dar cambalhotas. Estrelinha, pirueta e qualquer outro movimento mais sofisticado, nem pensar!
Na hora do futebol, outro tormento: eu era sempre o mais aborrecido e o menos desejado nos times. Se fosse hoje, algum peda não sei quê ou um psico não sei quanto já viria falar em bullying. Nada disso. Eu não era escolhido logo simplesmente porque jogava mal. Só isso.
Com a proximidade dos 40, estou entrando naquela fase do "Ah, no meu tempo as coisas eram melhores". Não sei. Talvez não sejam. Só sei que o vôlei e a ginástica olímpica foram muito importantes na minha vida. O vôlei me ensinou a vencer. A ginástica, a perder. Duas lições importantes. A segunda, quiçá, mais importante que a primeira.
Fico me perguntando se isso acontecesse hoje. Será que viria minha mãe ou meu pai com o dedo em riste exigindo que me dispensassem da aula de ginástica? Será que alegariam que eu tinha alguma síndrome da unha encravada, algum déficit do joanete convexo? Pobre Válber!
Terminada a reportagem, com a mente ainda mais longe, fiquei me perguntando que será feito desses professores? Onde estarão morando? Ainda lecionam? Estarão muito velhinhos? Será que ela ainda fica brava quando alguém descobre que seu nome é Sebastiana? Ainda ensina o hino com o mesmo entusiasmo de vinte e poucos anos atrás? E ele, será que ainda manda os magricelas compridos fazerem piruetas no cavalete? Acho que não. "Professor, mamãe não deixa".
Não tenho resposta para nenhuma dessas perguntas, mas sei que meu coração doeu de saudade... Da Didi, do Válber, do vôlei. E da ginástica olímpica.
|