Do you speak español? |
Escrito por Jamil Alves | |
19-Nov-2014 | |
Dar aula de uma língua estrangeira é algo bem engraçado. Ou dramático. Depende do ponto de vista. De qualquer forma, trata-se de uma atividade bastante particular e curiosa.
Como aluno, eu me lembro bem de quando comecei a estudar inglês. Foi na quinta série, numa escola pública na Vila Carrão. Tenho na memória como meus olhos brilhavam de alegria ao aprenderos cumprimentos, o nome dos dias, o verbo "tóbi". Até o professor ficava espantado com tanto entusiasmo. Também recordo que eu já sabia os meses. Não sabia qual era a pronúncia correta, mas sabia que nomes eles tinham. Já os tinha visto no desenho do Pica-Pau. Anos mais tarde, o Chaves e o Chapolin Colorado me dariam o mesmo entusiasmo para aprender o espanhol. Quase sempre eu acertava os exercícios. Parecia que eu tinha uma cabeça preparada para a gramática. Mas, de vez em quando, como acontece com qualquer um, cometia um errinho aqui ou ali. E eles não eram fonte de desgosto, mas sim de riso. Muito tempo depois, já como professor, percebi o quanto o riso faz diferença na hora de aprender. Na mesma medida, ter um ego duro atrapalha demais. Aprender uma língua estrangeira é voltar a ser criança. É pronunciar errado. É crer que "butterfly" é uma manteiga voadora e morrer de rir quando se der conta do absurdo. Talvez por isso poucas pessoas aprendam a fundo uma língua estrangeira. Um ego duro é uma parede na qual o novo idioma bate e ricocheteia. Só quem consegue rir de si mesmo e do sem-fim de bobagens que vai dizer até acertar é que pode conseguir aprender outro idioma. Quem tem um policial repressor dentro da cabeça não consegue aprender. "Eu não posso errar, eu não posso errar" é um pensamento terminantemente proibido. E outra proibição é: não tente explicar a outra língua tomando a sua como base. Não adianta querer saber como se diz "jaca" em francês porque na França não existe essa fruta. Uma nova língua traz consigo um novo olhar. Então, sair da zona de conforto do pensamento concreto é imprescindível. É preciso abstrair e entender como se transmitem ideias na outra língua. Se é para expressar as mesmas coisas que você já diz na sua língua materna, então para que outro idioma? Exemplo disso é um engraçadinho que eu conheço, que foi fazer turismo na Disney. Aproveitou para conhecer algumas cidades ao redor, sempre achando que se sairia bem em qualquer situação. Entrou na lanchonete do palhaço e lançou um "Tem Big Mac"? E qual não foi sua cara de paspalho ao receber uma bandeja com "ten" Big Mac... Chegou a mordiscar o terceiro, mas os outros sete foram para o lixo. Esse cara é da mesma classe de gaiato que se perde na esquina da "Walk" com a "D'ontwalk", ou que pede "sorviete de moriango" num país de língua espanhola, acreditando piamente que está arrasando e que em espanhol tudo se resume a pôr um ditongo nas palavras do português. Para aprender uma nova língua, crie asas. Mas crie asas de águia. Voe. Voe muito. Voe alto. Imagine-se usando a língua estrangeira nas altas rodas, em grandes museus, em agradáveis cafés; batendo pernas e gastando sola de sapato pelo mundo. Não adianta ter asas e ser uma galinha... |
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Atualizado em ( 19-Nov-2014 ) |
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