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terça
16.Abr 2024
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Sapos na floresta PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
28-Jan-2015
maria_do_cabore_-_divulgacao.jpgVó Docelina era uma senhorinha bem posta, apesar de ter nascido no remoto ano de 1905, no interior da Bahia, sem qualquer recurso de conforto.Teve treze filhos, dos quais meu pai era o caçula, nascido quando ela já tinha seus 48 anos passados.

Vó Docelina era mais conhecida como Maria do Caboré (foto) ou Vó Caboré. Substituíram-lhe o nome de pia pelo do pequeno vilarejo onde viveu toda a sua vida, porque era conhecida por todos e muito representativa daquele lugar.

Só saiu do pequeno vilarejo da cidadezinha chamada Itiúba umas duas ou três vezes nos 94 anos em que viveu. Foi uma vez a Salvador, veio uma a São Paulo e da outra não sei qual foi o destino.

Esteve em São Paulo para o meu batizado, quando eu tinha pouco mais de um ano. Voltou à Bahia quando eu já tinha uns cinco anos, mais ou menos. Por isso, tenho somente algumas lembranças dela, bem menos do que eu gostaria.

Das poucas recordações, lembro-me de uma lição sobre lealdade e caráter. Mais de uma vez, eu a surpreendi contando ao meu pai e a uns tios meus uma espécie de conto curto, uma pequena fábula.

Dizia a historinha que um sapinho feio e lodoso pediu ajuda a um vaga-lume. Precisava dele para iluminar o caminho, pois já estava velhinho e não enxergava direito. Como teria de atravessar um longo percurso pela floresta, pediu ao pequeno pirilampo que o ajudasse em sua caminhada, no que foi atendido prontamente:

- Tudo bem, senhor sapo, eu poderei guiá-lo com minha luz até a parte da floresta a que o senhor precisa chegar.

Terminado o trajeto, que surpresa para o pequeno e luminoso pirilampo sentir que o sapo lhe estava jogando sua baba fria, viscosa e venenosa:

- Sapo doido, por que está fazendo isso comigo depois de eu tê-lo ajudado?

- Porque você brilha!

Só depois de grande vim a saber que essa fábula da Vó Caboré já existia, não era uma criação sua, embora ninguém nunca consiga contá-la com a mesma doçura e ar compenetrado que a minha avó.

A fábula da vovó tornou-se para mim um pensamento recorrente que tenho, e que serve, em muitos momentos, para explicar o mundo, suas mudanças e as saudades do que de bom se vai perdendo.

Será que foram os portugueses "os inventores" da saudade quando se lançaram ao mar em busca de novos destinos? Será que a primeira saudade que se sentiu por estas terras brasileiras aportou quando aportaram as caravelas? De saudade, só sei da fábula da minha avó e de pouco mais, apenas.

Sei da saudade que tenho de quando os amigos, os amigos mesmo, eram para todos os momentos, os bons e os ruins. Hoje em dia, muitos pseudoamigos só servem para um tipo de momento, e deles eu desconfio muito.

Os "amigos" que estão conosco somente na alegria não se importam verdadeiramente conosco, não nos entendem e não acolhem nossas dores. Já os outros, os que estão conosco somente na tristeza, provavelmente se sentem ofuscados por nosso brilho pessoal e nosso savoir-faire. Estão para nós como o sapo para o vaga-lume.

Tenho saudade também de quando aos idiotas lhes era dado o direito de deixarem de ser idiotas, assim como aos preguiçosos também o direito de deixar de sê-lo. Nos dias que correm agora, premiam-se a idiotice e a preguiça com algum rótulo bonito e moderno de uma síndrome ou de um déficit qualquer. Dá saudade de quando as crianças sabiam, espontaneamente, amar e venerar.

No recôndito das minhas lembranças estão as saudades do meu Atari, do Pogobol, do Legião (Urbana) e do A-Há. Dos docinhos de abóbora em formato de coração, que ainda existem, mas não são mais um ícone de infância plena e feliz. E de quando quase todo ano havia músicas novas do Pet (Shop Boys).

Sinto saudade do tempo em que havia mais beleza, quando desejávamos que nada do que um dia tivesse sido feito com a amorosa intenção de durar perecesse. Diante de um mundo amargo e ingrato, tudo parece descartável porque estamos ávidos de imediatismo. É preciso que dirijamos também os nossos olhos para o que vai ficando para trás, para, ao entender de onde viemos, saibamos aonde estamos indo.

Sinto muita falta de quando amávamos as pessoas e usávamos as coisas. Agora, nestes tempos de olhares fugidios e pensamentos rasos, amamos as coisas e usamos as pessoas.

Saudade de quando podíamos brilhar nossas luzes de cintilantes pirilampos sem sapos na floresta.

Atualizado em ( 28-Jan-2015 )
 
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