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Onda Latina

sexta
29.Mar 2024
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A memória do celular PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
04-Fev-2015
celulares_-_foto_jamil_alves.jpgAdriana foi o primeiro nome que apareceu. Adrianas, nas agendas, levam grande vantagem. Quase sempre são as primeiras, dado o pequeno número de nomes como Abraão, que viriam antes na ordem alfabética.

O número de Adriana foi adicionado na agenda faz tempo, nem deve valer mais. Trabalhamos juntos num banco por mais de oito anos. Divertida, animada, era presença obrigatória em qualquer festa, reunião, almoço, encontro, confraternização de fim de ano e toda a sorte de encontros sociais que as pessoas fazem para se divertir.

Estudava à noite, cursava Administração de Empresas. Que terá sido feito de Adriana? Terá conseguido concretizar seus sonhos de ter um negócio próprio? Uma amiga em comum me disse outro dia, ao me encontrar num supermercado, que ouviu dizer que se casou com Sérgio, oriental da Liberdade, e que ainda não tem filhos. Peço aos deuses que protejam Adriana e seus sonhos. Apago seu número.

Outra Adriana. Esta, amiga mais recente. Trabalhamos juntos numa grande escola de idiomas. Tomávamos muitos cafés e falávamos do clima, das aulas, dos alunos, da vida. Adriana estava sempre alinhada, com seu cabelo asa de graúna graciosamente preso. Aparência séria, quase austera, que se dissipava em sua doçura e bom-humor com menos de cinco minutos de conversa.

Ligo. Fico sabendo que a escola onde trabalhávamos fechou e que a uruguaia Adriana, que chegou a cargo de chefia, não está mais trabalhando lá, claro. Fico imaginando para onde terão ido tantos alunos, tanta gente boa, tantos sonhos de ser bilíngues? Antes de me entristecer pensando na impermanência das coisas nesta vida de meu Deus, passo para outro número.

Carol. Nem lembrava que era Ana Carolina, por isso estava na letra cê. Eu a conheci no dia de uma entrevista para um processo seletivo no qual nós dois fomos aprovados. Ficamos felizes, mas a felicidade se nos foi logo, pois percebemos já nos primeiros dias que o clima da empresa era como o de uma famosa canção do Legião Urbana: festa estranha, com gente esquisita. Prometo a mim mesmo que ligarei para ela outro dia, mantenho seu número registrado com carinho e passo para mais um nome.

Outro: Célio. Era meu aluno, morava a algumas quadras da minha casa, num bairro vizinho. Tinha medo de cachorro e falava espanhol muito bem. Ligo. Ninguém atende. Terá conseguido realizar seu sonho de estudar na Espanha ou na França? Titubeio, mas não apago seu número.

Dirceu, mais um. Demorei a recordar quem era. Depois de alguns segundos, vem à minha mente a figura de um senhor próximo dos sessenta anos, chefe do Departamento de Recursos Humanos. Tinha os cabelos grisalhos e a pele bem bronzeada. Comentavam que tinha um sítio ao qual ia todos os finais de semana. Era tão grosseiro e soberbo, playboy fora de época, que nem me ocorreu discar seu número. Entre mim e alguns colegas mais próximos, fazíamos referência a ele como "o Cavalo", porque não eram raras as vezes em que nos recebia com alguma grosseria equivalente a um coice. Apago seu número sem vacilar, com muito gosto e certo exagero na força dos dedos na tela.

Outro novamente. Ou melhor, outra. Gabriela. Uma figura engraçada que conheci na universidade. Uma jovem curiosa, muito loquaz, cabelos bem claros e olhos verdes. E, apesar de aparente displicência, era ótima aluna. Soube que foi morar nos Estados Unidos, ela mesma me contou numa rede social. Não ligo nem apago seu número.

Gláucia, mais um número. Trata-se de uma amiga da época do mestrado, muito querida e ciosa de sua ascendência armênia. Recomendei a ela, faz pouquíssimo tempo, a leitura de um texto chamado O Último Armênio em Bangladesh, que fala da migração de armênios para Bangladesh no século XII e do único armênio que mantém de pé a última igreja armênia no país asiático. Volta e meia Gláucia some e volta, volta e some. Mantenho seu número para continuar, de tempos em tempos, monitorando seu paradeiro.

Passados outros tantos números e letras, chego ao eme: Mércia, Dona Mércia. Uma vizinha doce, de olhos azuis e bochechas coradas, que tive por nove anos, no último prédio onde morei antes do atual. Seu apartamento, bem decorado, limpo e organizado, ficava ao lado do meu.

Em seu apartamento, dois felinos muito bem cuidados. Quando nos encontrávamos nas áreas comuns do edifício, nós dois nos gabávamos de viver no único andar do prédio onde havia cinco gatos, três meus. Conversamos pela última vez no ano passado. Soube que ela terá mais um neto e que lhe fizeram uma cirurgia no joelho. Anoto seu número num pedacinho de papel para dá-lo a minha mãe que, em suas visitas ao meu antigo apartamento, acabou se tornando amiga de Dona Mércia.

Minha mãe, até outro dia, costumava pegar seu celular e discar o número do meu pai. Deixava tocar até que pudesse ouvi-lo no recado da secretária eletrônica: "Você ligou para o João. Deixe seu recado, obrigado". Acho que é um dos poucos lugares onde a voz dele ficou gravada. Talvez o único. Já dei umas broncas nela, afinal, ficar ouvindo a voz de quem desencarnou é mórbido.

Eu, quando passei pelo jota, não apaguei seu número, faltou-me coragem. No entanto, também não liguei. Pus-me a pensar em quando adoeceu e nas dificuldades do tratamento. Teve um câncer. Não se cuidou a tempo. E eu não tive coragem de apagar seu número da minha agenda do celular. Porém, ele mesmo, a si mesmo, apagou-se. 

Foto: Jamil Alves.

 

Atualizado em ( 04-Fev-2015 )
 
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