É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe. Bela letra de Vinícius. É claro que é melhor ser alegre, ninguém duvida disso. Mas hoje quero defender o meu irrevogável direito à tristeza, que é tão legítima quanto a alegria.

Numa manhã qualquer, acordamos sem ânimo, e nem sequer conseguimos entender a razão pela qual não nos levantamos da cama saltitantes e animados, sem quê nem porquê. Muitas razões têm essa péssima mania de ser discretas.

Penso eu que a tristeza é um jeito natural de a nossa mente tornar mais palatável para nós mesmos o imponderável da vida. Quem nunca se sentiu triste por perceber-se impotente diante de uma situação que se apresentou?

Talvez um dos males do mundo de hoje seja esse mal das lentes de aumento. Tudo vai sendo colocado numa lente de aumento e vamos ficando cada dia mais inábeis para lidar com os sentimentos mais básicos. As alegrias são euforias, uma distração se torna déficit de atenção, uma bronca vira um trauma e, uma tristeza, depressão.

Depressão é coisa muito mais séria, complexa e contínua. Estar triste não é estar deprimido nem depressivo. Não se trata de uma nuance semântica ou sutileza vocabular. Estar triste é estarmos atentos a nós mesmos, é estarmos desapontados com alguém, com vários ou conosco, é estarmos cansados de certas repetições, é descobrir-nos frágeis num dia qualquer. Eu, neste mundo doido, só quero poder ficar triste de vez em quando.

O problema da tristeza é a nossa sociedade, cada vez mais especializada em dissimular as emoções, sobretudo as aparentemente negativas, que passou a ver a tristeza como uma anomalia do humor. Não sorriu hoje? Tome um remédio. Está com vontade de chorar? Melhor ligar para o seu psiquiatra.

Tristeza e alegria são intermitências do viver. Antagonizam, mas se completam. São dia e noite, frio e calor, claro e escuro. Lucidez e loucura. A tristeza nos dá os momentos de introspecção necessários para ficarmos mais fortes diante da vida. É como a noite que nos faz descansar. Não poderíamos viver de sol e euforia o tempo todo.

O melhor é não tentar dissimular a tristeza como numa marchinha de carnaval, pois não adianta e é até pior. Quando menos se esperar, o mesmo motivo que causou tristeza estará lá à espera de solução, sorrateiro e mal resolvido.

Motivo para ficar triste atualmente é algo que realmente não nos falta. Não é para ficar triste vendo garotos mais preocupados com pau de selfie que com pau-de-sebo, que com revista de mulher pelada, que com azaração na balada?

E se começamos com Vinícius, podemos terminar com Tom Jobim: tristeza não tem fim. Felicidade, sim. Quero poder sentir minha tristeza sem vento que a desmanche nem chuva que a dissolva.