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29.Mar 2024
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Aventuras de Carnaval PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
18-Fev-2015
abstrato001.jpgDestaque de escola de samba no carnaval, nunca fui. Mas já desfilei duas vezes, cada vez numa escola, já faz algum tempo. Quis conhecer por dentro como funciona um pouco do carnaval paulistano.

"Carro alegórico quebra e peça gigante mata oito na avenida". Essa chamadinha de jornal passa pela minha cabeça enquanto assisto às tentativas dos carnavalescos de encaixar uma peça enorme na parte central do carro abre-alas. Era uma peça avermelhada, que lembrava as folhas de uma planta bem grande. Estou na área de acesso à pista do Sambódromo e olho para tudo com espanto e admiração.

Na primeira vez que desfilei no carnaval, saí pela Camisa Verde e Branco, ou melhor, pela Associação Cultural e Social Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco, com sua bateria furiosa, sediada no bairro da Barra Funda. Dois anos depois, desfilei pela Imperador do Ipiranga, escola com sede na Vila Carioca, região do Ipiranga.

No meu segundo desfile, e último até agora, um fato engraçado foi um princípio de tumulto quando a rainha de bateria passou atrás de onde eu estava. "Olha a mãe do clone, olha a mãe do clone", gritavam os foliões. Era a atriz Adriana Lessa, que naquele ano seria a rainha de bateria da escola. Os gritos eram referência a um papel que ela fizera anos antes na novela O Clone, de Glória Perez, exibida pela Rede Globo de Televisão entre os anos de 2001 e 2002.

Desses carnavais para cá, não quis mais desfilar, embora tenha gostado da experiência. Foi enriquecedor e muito divertido estar naqueles lugares com aquelas pessoas. Mesmo com a embriaguez de alguns, não houve tumultos nem aborrecimentos e, convenhamos, desfilar de cara limpa em frente às câmeras de TV não é para qualquer um.

O carnaval parece um universo paralelo, cheio de regras e símbolos. A hierarquia é tênue, mas existe. Quanto melhor o músico, ou o passista, ou a fantasia, mais respeito merece. É um universo no qual aparência conta muito, e os mais velhos são tratados com enorme deferência (deveríamos levar esse aspecto do carnaval para a vida toda, todos os dias do ano).

Porém, de todos os valores, o mais importante é a euforia. No entanto, eu mesmo não tenho cotidianamente uma personalidade eufórica ou esfuziante como se exige no carnaval. Para quem me conhece pouco, posso até parecer meio blasé ou aborrecido. Por isso, tenho aproveitado meus carnavais deliciosamente com momentos impagáveis de descanso e leitura. Estou completa e perdidamente apaixonado por Cecília Meireles neste momento. Em vez de "rasgar a fantasia", tenho embolado toda a roupa de cama e as capas dos sofás de casa, de tanto cochilar, ler e me espreguiçar de lá para cá, de cá para lá. Ôh vida boa, sô!

No fim, naquele carnaval, conseguiram encaixar perfeitamente a peça avermelhada na base central do carro alegórico. No outro ano, tudo correu bem no desfile da atriz famosa. Mesmo assim, nada pôde evitar o rebaixamento das escolas. Pelo sim, pelo não, carnavalescos, apesar do respeito que aprendi a ter por vocês, não me convidem mais. Meu pé, mais que frio, é gelado.

Ilustração: Fernando Valverde.

 
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