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Onda Latina

quinta
25.Abr 2024
Varanda-gourmet PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
11-Mar-2015
chacrinha_-_franklin_valverde.jpg"Ora, meu amigo. De perto, ninguém é normal", disse para uma animada roda de amigos o rapaz da mesa ao lado da minha no restaurante do almoço de domingo. Todos já estavam bem alegrinhos, naquele estado alcoólico limítrofe entre a desinibição e a inconveniência. E eu, praticante do "barriga cheia, pé na estrada", fui embora e voltei para casa pensando nessa frase e em como ela se aplica a praticamente tudo o que há: as pessoas, os objetos, as épocas. Sim, isso vale para o tempo e as épocas também.

No fim do ano, recebi com tristeza a notícia da morte do músico Joe Cocker, que ficou mundialmente conhecido após estourar em Woodstock em 1969. Mais que estourar, ele acabou por personificar o espírito daquela época: Woodstock e Cocker se tornaram sinônimos, e os anos sessenta nos deixaram como legado o clamor por menos caretice e mais liberdade, menos crítica à vida do outro e mais amor ao próximo.

Vieram, então, os anos setenta, período no qual muitos homens deixaram às moscas as barbearias, além de passarem a usar mocassins, calças jeans e camisas de malha, peças que entraram para o vestuário habitual e não saíram nunca mais. As mulheres converteram-se à minissaia e às meias de lurex, e a meca da cultura mundial atravessou o Canal da Mancha e mudou-se de Paris para Londres.

Na década seguinte, o processo de redemocratização pelo qual passavam quase todas as ditaduras latino-americanas nos trouxe alegria e frescor. Uma alegria tão desmedida que só poderia se expressar com ombreiras generosas, penteados espalhafatosos, cores berrantes e toda a sorte de cafonália. Havia uma necessidade de sair do encolhimento da ditadura e ocupar espaços, ser vistos, chamar a atenção.

A cultura efervescia, Michael Jackson e Madonna emplacavam um sucesso atrás do outro, e, embora a AIDS tenha sido um ponto negativo e muito triste, com ela o "professor" Chacrinha ensinou a todos os que então começavam suas vidas sexuais que camisinha é imprescindível: "Bota a camisinha, bota, meu amor, hoje está chovendo, não vai fazer calor...", cantarolavam rebolantemente as Chacretes nas tardes de sábado.

Depois vieram os anos noventa e, como já disse em outras ocasiões, a tecnologia, que é maravilhosa e que serve para nos ajudar a nos expandirmos, nos encapsulou dentro de nós mesmos e estamos neste estado de letargia: cada um de nós imerso na própria arrogância e apertando botões. De lá para cá, vive-se um tempo em que ninguém quer perder nada, ninguém sabe abrir mão de algo aqui para ganhar lá, perder algo agora para ganhar amanhã. Vive-se uma urgência tola, como se não houvesse amanhã, e não se pode perder nada nunca.

Procurando apartamento nestes últimos tempos, me dei conta dessas "urgências" todas, pois é preciso ter tudo aqui agora o tempo todo. Antes, optava-se por morar em uma casa para se ter mais liberdade ou em um apartamento para se ter mais segurança. Hoje, todos querem tudo, e vai-se colocando uma coisa fora do lugar, e outra também, e mais outra, e aí fica tudo mal-ajambrado.

E foi assim que me vi inescapavelmente atrelado a uma tal de "varanda-gourmet", nome imponente e afrancesado que os corretores usam para vender umas quantas paredes de tijolo e vidro a preço de ouro.

Ora, quem gosta de fazer seu próprio churrasco deveria morar numa casa, não? Ainda mais num prédio como o meu, que tem churrasqueira no salão de festas e outra independente, em outra área, que nem precisa ser reservada, é só chegar e usá-la. Então, para que raios preciso de uma varanda-gourmet, se eu nem sou gourmet, nem chef de cozinha, nem cozinheiro de final de semana nem nada? Só para pagar mais caro pelo apartamento? Para me sentir mais pretensamente chique? Para sentir que não perdi minha "liberdade" ao optar por um apartamento em vez de uma casa?

A vida em condomínio é curiosa, é um minicosmos com todo tipo de gente. Espero não ter de sentir o cheiro nem o azedume do churrasco de nenhum vizinho. Na minha churrasqueira privê-máster-gourmet-plus, coloquei dois aquários em cima da saída da tubulação. Ficaram lindos e deixaram o ambiente bem mais agradável.

Pode ser que eu goste menos dos tempos de agora que do passado e ache tudo frufru e fútil demais por conta do que o rapaz da mesa ao lado no restaurante disse, que de perto, nada é normal. Pode ser. Mas é fato que os anos sessenta nos deixaram de herança o espírito livre de Woodstock. Depois tivemos as calças bocas de sino e a Geração Coca-Cola que jogava Atari. Temo que nosso tempo de agora legue às próximas gerações apenas a tal da varanda-gourmet.

Atualizado em ( 11-Mar-2015 )
 
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