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Onda Latina

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20.Abr 2024
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À idiotice nossa de cada dia PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
25-Mar-2015
lobotomia_-_franklin_valverde.jpgSemana passada, sonhei que vivia num reino bonito e feliz, onde não havia problema de nenhuma ordem. Era uma terra tão perfeita que as pessoas podiam ter o luxo de delegar aos outros a capacidade de pensar, fossem outras pessoas, associações, instituições, partidos políticos, enfim, pensar era algo delegável.

No reino bonito e feliz em que me vi, os parlamentares podiam se preocupar com a programação da TV, uma vez que não havia outros problemas a se resolver. Existia até uma frente parlamentar especialmente designada para fazer recomendações à população quando considerava que uma simples telenovela veiculava cenas inadequadas.

Foi então que, muito a contragosto numa quente manhã de final de verão, acordei; fui despertado pelo alarme do celular e não, eu não estava num reino bonito e feliz: eu estava no Brasil mesmo, no nosso Brasil brasileiro, do mulato inzoneiro, do coqueiro que dá coco, terra de Nosso Senhor, do pensamento retrógrado e da hipocrisia.

Ainda com o primeiro gole de café por engolir, fico sabendo pelo jornal que a novela das oito que acabou de estrear está amargando níveis baixíssimos de audiência, muito provavelmente porque uma frente religiosa do Congresso Nacional divulgou uma nota de repúdio a ela, conclamando seu rebanho a não vê-la, em benefício da moral e dos bons costumes "cristãos". Confesso que, poucas vezes na minha vida, fiquei tão embatucado.

Primeiro: o Brasil é um Estado laico, pois não? Sim, o Brasil é um Estado laico. Sim, sim, sim! Portanto, isso, e somente isso, já inviabilizaria a combinação da palavra "parlamentar" com quaisquer outras de cunho religioso. Assim, para mim e para todo cidadão que use a cabeça para algo mais que simplesmente aparar o boné, não deveriam existir expressões como "parlamentar evangélico", "parlamentar católico", "parlamentar umbandista", "parlamentar muçulmano", nem qualquer outra em que a ideia de religião estivesse pressuposta, já que nosso Estado é, repito, reforço e reitero, laico.

Segundo: parlamentares devem legislar, ou seja, apreciar, analisar e votar projetos de lei, propor políticas públicas, estar a serviço do bem-estar da população. Portanto, escrever notas de repúdio a uma novela é desvirtuar totalmente a função dos parlamentares e do Parlamento. Isso para, sem perder a elegância, dizer o mínimo.

Terceiro (e já admitindo que o grupo de parlamentares em questão não tem a menor ideia de quais deveriam ser suas funções de fato): imaginei que estariam fazendo alguma crítica ao fato de uma filha ter cuspido na cara da mãe depois de ter-lhe dado uma bofetada no capítulo da quarta-feira. Não, não era esse o motivo. Pensei, então, que o repúdio deveria ser à ricaça que matou o pobre que era seu motorista e seu amante. Seria esse o motivo? Tampouco.

Comecei a pensar, então, nas últimas novelas a que assisti, sempre as do horário mais nobre, e comecei uma retrospectiva mental buscando "motivos novelísticos" para um possível repúdio (ainda mais um repúdio feito por parlamentares, que certamente interromperam suas supostas funções para se dedicar a algo muito maior que melhorar as nossas vidas - e sem prejuízo de seus salários, os quais, diga-se, nós mesmos lhes pagamos com os impostos absurdos que nos são compulsoriamente subtraídos...).

A novela anterior teve parricídio no último capítulo e, nas últimas semanas, uma garotinha de uns dez anos que chamou a mãe de "galinha" em alto e bom tom. Numa antes, a filha se casou com o ex-noivo da mãe, ele que na juventude foi condenado por tentativa de homicídio do próprio pai da então noiva. Não, não era nada disso.

Uma antes dessa, na novela em que o vilão virou bonzinho, teve tio jogando sobrinha na caçamba de lixo, sem falar que uma vilãzinha esfaqueou o amante e quase cegou o marido por intoxicação, dando-lhe veneno por meses a fio devido a um maligno plano de vingança.

Mas "engraçada" mesmo era a novela antes dessa. Garotas eram aliciadas e prostituídas na Turquia, e a vilã não economizava seringadas homicidas no pescoço de quem descobrisse seu esquema criminoso. Tinha também a outra, antes dessa, em que uma criança foi abandonada pela vilã num lixão e submetida a trabalhos forçados logo na primeira semana da novela no ar e, já na fase posterior da história, a mesma vilã teve dois filhos com seu cunhado e amante e enganou o marido, um simplório e rico jogador de futebol. Mas, não, não foi nenhum desses "suaves" motivos que elenquei que gerou o repúdio dos parlamentares.

Antes de entender qual era o real motivo da nota de repúdio, fiquei pensando também na absoluta e indisfarçável falta do que fazer desses senhores. Num país dominado por petralhas e toda sorte de canalhas, não precisamos de patrulha, muito menos na programação da TV ou na intimidade de nossos lares. Depois da invenção do controle remoto e da variedade da TV por assinatura, quem precisa ver algo que não quer ou de que não goste?

Passado o momento de perplexidade e elucubrações, terminei de ler a notícia e soube que o alvo do repúdio foi o beijo entre duas senhoras logo no primeiro capítulo. Ah, mas claro: isso é muito mais chocante e indigno que os "motivos novelísticos" que elenquei anteriormente. Como vou explicar um beijo desses a meu filho? Tudo bem, do resto todo eu dou conta. Muito mais fácil explicar violência e barbárie que beijo, não é mesmo?

Ora, meus senhores, cretinice tem limite e todos nós, brasileiros pensantes, temos mais o que fazer. Uma frente parlamentar realmente conectada com o bem-estar da população jamais interromperia seus afazeres para fazer nota de repúdio a uma simples telenovela. Repudia-se a violência. Repudia-se o terrorismo. Repudia-se a falta de saneamento básico. Repudiam-se coisas realmente aviltantes. A novela é uma obra de ficção e o controle remoto está aí para quem o quiser usar.

Lembrem-se, caríssimos senhores, que somos pessoas, não gado. Quem se arrebanha é vaca, é boi, é cabra. Gente, não. O "chamamento" de vocês usa em vão o nome de Deus para enfiar o dedo no nariz dos outros para lhes dizer o que é supostamente certo e o que, mais suposta e hipoteticamente ainda, é errado.

É preciso que estejamos atentos: esse tipo de "repúdio/recomendação/chamamento ao boicote" é lobotomia. 95% dos que vão seguir essa recomendação da frente parlamentar não devem nem saber o que é lobotomia. E menos de 5% desse grupo vão se dar o trabalho de procurar o significado da palavra "lobotomia" no dicionário e ampliar seu conhecimento vocabular. Afinal, crescer, enxergar com os próprios olhos, escutar com os próprios ouvidos e andar com as próprias pernas dão muito trabalho, não é, cidadão de segunda linha, indolente e preguiçoso? Delegue seu pensamento como se fazia no reino bonito e feliz com o qual sonhei e um dia seu cérebro ficará atrofiado por falta de uso. Ou, então, seus descendentes terão uma ervilha no lugar dele. É a lei da evolução:o que não tem uso desaparece.

Exclamo, com pesar, um  "viva!"  à idiotice nossa de cada dia.

Atualizado em ( 25-Mar-2015 )
 
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