Genocídio armênio |
Escrito por Jamil Alves | |
15-Abr-2015 | |
As palavras do Papa Francisco durante a missa em memória dos armênios que pereceram no ataque perpetrado contra eles pelo Império Otomano há 100 anos puseram o fato no patamar em que sempre deveria ter estado: "primeiro genocídio do século XX", "genocídio armênio". Finalmente uma figura reconhecida mundialmente resolveu dar o correto nome, sem eufemismos, que o acontecido com o povo armênio tem de fato.
O termo "genocídio" já tinha sido empregado anteriormente por alguns países europeus e sul-americanos, mas evitado por potências como os Estados Unidos, preocupados em continuar mantendo boas relações com um grande aliado estratégico, a Turquia, nação que descende diretamente do Império Otomano e que é talvez, na atualidade, o principal interlocutor entre o Ocidente e o "Mundo Islâmico". A história do milenar povo armênio, indo-europeus que se fixaram na região do Cáucaso, entre o leste da Europa e o oeste da Ásia, está intimamente marcada por sua ligação com os fundadores do Cristianismo e os alicerces da Igreja. Governados à época do genocídio a partir de Istambul, atual capital da Turquia, os armênios são um povo que, assim como gregos e judeus, nem sempre contaram com um Estado próprio. Por conseguinte, a religião foi determinante na preservação da identidade armênia, especialmente nesse período nebuloso para os armênios, em que se encontravam agrupados dentro de um império islâmico.Certa vez, o sociólogo francês Raymond Aron vaticinou que não haveria paz mundial enquanto a humanidade não estivesse unida num estado universal. E, infelizmente, ainda não está, o que acarreta a necessidade, em última instância, de algum poder político supranacional como condição para uma ordem mundial estável a fim de que não haja mais Namíbias (que para muitos é o país onde teve lugar o primeiro genocídio do século XX, e não a Armênia - mas não importam datas nem classificações; o importante é reconhecer a brutalidade do passado, para que não volte a acontecer no futuro), Vietnãs, Bósnias, Ruandas ou Nigérias. No Brasil, houve um forte fluxo de imigração armênia entre 1918 e 1926, possivelmente pelo medo de novas investidas otomanas. No entanto, quiçá pela distância geográfica que separa os dois países, pouco se sabe por aqui a respeito da história, da cultura e dos hábitos armênios. Do pouco que se conhece cá a respeito do país europeu, algo curioso é a confusão que os armênios costumam fazer com os gêneros das palavras em português, fato que ficou conhecido nacionalmente com a novela Rainha da Sucata, de Sílvio de Abreu, em 1990. Na trama, a descendente de armênios Aracy Balabanian deu vida à hilária personagem Dona Armênia. A certa altura da história, Dona Armênia ficava enfurecida por descobrir que o marido, já falecido, tivera um caso amoroso com uma turca, Samira Zaidan, interpretada pela atriz Maria Helena Dias, numa clara referência ao ressentimento ainda existente entre os dois povos, os armênios e os turcos, sutileza que passou despercebida pela maioria do público brasileiro: "Minha marido podia ter tido caso com qualquer mulher, menos com esse, um turco desgraçado!" era uma fala recorrente da personagem de Aracy. Seria frívolo, para dizer o mínimo, ter a pretensão de formar uma opinião precisa sobre a verdade dos fatos a partir da visão superficial dos jornais, das TVs ou dos órgãos oficiais, sobretudo pela distância histórico-geográfica que nos separa do lamentável fato, mas é preciso dizer e reafirmar que causa espanto e estarrecimento o comportamento de quem nega o holocausto, o genocídio armênio, a matança na Guerra do Paraguai ou qualquer outra ação monstruosa contra a humanidade. Esses crimes constituem atos de violência contra a humanidade toda, pois significam o homem matando o próprio homem, seja "em nome de Deus" ou por qualquer outra tolice ou convicção vã. É a combinação de estupidez e brutalidade vencendo a razão, a paz e o respeito entre os povos.
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