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quinta
28.Mar 2024
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Poços de Caldas PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
19-Ago-2015
midas_-_franklin_valverde.jpgNa verdade, poços e caldas, duas palavras que nos remetem à ideia de água, não refletem a totalidade do que a aprazível cidadezinha mineira de Poços de Caldas tem a oferecer. Contam que a origem do nome da cidade está no fato de as fontes termais terem sido usadas, inicialmente, para matar a sede dos animais silvestres e dos cavalos dos bandeirantes que passavam por lá. Esses lugares não eram bem poços, mas sim barreiros, e o termo caldas acabou entrando no nome da cidade por analogia com a atlântica cidadela de Caldas da Rainha, em Portugal.

Muitos procuram Poços de Caldas e suas águas para tratar problemas. Parece um lugar meio mágico, aonde os magros vão buscar uns quilos a mais, assim como os gordos esperam perder peso. Os nervosos procuram calma; reumáticos, alérgicos, cardíacos, hipertensos e anêmicos tentarão deixar lá mergulhadas suas mazelas, e assim também acontece com qualquer pessoa que passe pela cidade e que tenha algum dos outros tantos males que o corpo humano possa abrigar em seus diversos compartimentos.

Em Poços, sempre estaremos cercados de gente otimista e esperançosa, que tenta deixar para trás um pouco de seus males físicos e emocionais. Só é uma pena que tenham de deixar a cidade quando já estão melhores. É um dó esses seres já mais puros irem embora, porque, quando saem, vêm outros, carregados de impurezas. Não fosse por essa constante impermanência, quem sabe se não seria possível formar uma espécie de grêmio celestial com a paz e a pureza do lugar?

Passei algumas vezes pelo balneário e achei deliciosa a experiência. Beneficiei-me do bem-estar de uma prática chamada banho de pérolas, um banho no qual vão se formando, com grande intensidade, bolhas de ar na parte de baixo de uma banheira na qual ficamos sentados. Essas bolhas, por terem forma redonda, são associadas a pérolas, daí o nome dessa terapia. A força da água morna quase quente e das bolhas vai produzindo uma deliciosa sensação de relaxamento corporal. No caso dos homens, dependendo da posição em que nos sentemos com relação aos buracos diminutos por onde saem as "pérolas de ar", pode ser sentida, numa parte muito móvel e rugosa da nossa anatomia, uma cócegaque, em vez de relaxar, faz rir.

Sempre que chego a Poços, sou acometido por um torpor que os habitantes locais dizem ocorrer somente nos primeiros dias, e fico prostrado de sono, como se estivesse me desintoxicando do excesso de estímulos a que todos os que vivemos em grandes cidades nos sujeitamos. Vencido esse momento inicial de involuntário quase adormecimento, é preciso conhecer outras atrações da cidade além dos deliciosos balneários.

Do alto do teleférico verde, a bela cidade das rosas pode ser apreciada pelos mais calmos, que do alto conseguem ver que a geografia do lugar lembra mesmo a boca de um vulcão extinto - e, de fato, o é, e é dessas profundezas incandescentes que emanam as águas quentes e mágicas.  Já os menos calmos, os que, como eu, não gostam de sair do chão, devem manter seus pés bem firmes ao rés da terra, longe do medo que o vazio das alturas provoca.

A fábrica de cristal de Poços é outro lugar muito agradável. Mais que simples operários, seus funcionários são artesãos, artistas talentosos que com vigorosos assopros parecem ter o angelical poder de dar vida a uma massa inicialmente amorfa, que vai sendo forjada com destreza e elevadíssimas temperaturas.

Na aprazível Poços, vários sotaques se misturam, porém o que prevalece é uma curiosa mistura de paulista bem interiorano, de fortes e retroflexos erres, com mineiro bem típico, com recorrentes diminutivos terminados em "im". Assim, para todas aquelas delícias como o bolo sete sabores, bem alto e com sete camadas, uma de cada cor, e o doce de leite com ameixa, vamos pedindo sempre mais um pouquim, mais um tiquim ou mais um bocadim. E tudo acompanhado de um delicioso cafezim.

Os ares de Poços representam uma maneira fácil e bastante agradável de esquecer a confusão das grandes cidades, um jeito atemporal de regressar a uma espécie de infância da terra - eu, mesmo paulistano, também vivi esse tipo de infância e o aproveitei muito!

Em Poços, com suas coloridas charretes, respira-se um ar naturalmente agradável e relaxante, mas que deixa lugar para noites de dança e música. Seu Osvaldo, simpático garçom do restaurante do hotel, de bolsos tilintantes com as moedas das gorjetas, contou que no inverno acontecem bailes muito bons e que em agosto do ano passado foi a um deles fantasiado de Rei Midas.

Atualizado em ( 19-Ago-2015 )
 
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