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Onda Latina

sexta
29.Mar 2024
Me perdoa? PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
03-Mar-2016

pobre_-_franklin_valverde.jpgA coluna que li em um site de entretenimento dizia que “polêmica com Fernanda Torres teve um inesperado final feliz”. Final inesperado, sim, mas feliz para quem, meu caro Watson? Fernanda Torres foi mais uma das vítimas do linchamento moral que está na moda hoje em dia, cujo veículo principal são as redes sociais, que com frequência servem para dar voz aos idiotas e aos raivosos. Para os que não se lembram, Fernanda recentemente escreveu a respeito de mulheres, machismo e feminismo para a Folha de S. Paulo. Depois de sofrer ataques furiosos, publicou outro texto, um pedido de desculpas, uma “retratação” (que coloco entre aspas, uma vez que não havia motivo para isso).

 

O mais desalentador no mea-culpa de Torres é que ela se viu obrigada a se desculpar por ser quem é: mulher, branca, filha de uma família estruturada e com liberdade. É aterrador ver que quem pensa fora de certos cânones do discurso da patrulha é achincalhado. No fundo, o que se viu foi uma atriz de memoráveis papéis ter de se desculpar também (e principalmente) por ser quem não é: negra, pobre, oprimida.

Eu já fui pobre (pobre mesmo, muito pobre, não há aqui hipérbole nem metáfora) e não gostei da experiência. Dentro dos limites da legalidade, da honestidade e da ética, fiz tudo o que pude para deixar de ser pobre e deu certo. Não cheguei a ser rico, porém certamente devo estar em alguma das diversas faixas de classificação da "classe média" (e descobri que, essa sim, rala pra caramba!).

Nestes tempos de patrulha e ladainha travestida de intelectualidade, ouvi de um parente muito próximo, num momento de dificuldade financeira: "você não precisa de dinheiro, você não é pobre". Depois do choque por ter ouvido tamanha tolice, logo respondi: "Você conhece alguém neste mundo que não precise de dinheiro? Justamente por não ser mais pobre é que preciso de mais dinheiro para manter as coisas que tenho: meu carro, minha casa, a escola do meu filho".

Outra coisa que surge aos borbotões são as comparações descabidas. Exemplo: não falta um pseudointectual com o dedo em riste para dizer que é uma barbaridade termos empregadas domésticas no Brasil. Também acho estranho, até meio absurdo, pensar que alguém que não nós mesmos limpa nosso vaso sanitário. Só que eles, os pseudointelectais da patrulha, vivem dizendo "ah, mas nos Estados Unidos...". No entanto, deixam de lado fatos importantíssimos: para ter o mesmo padrão de vida que eu tenho, um estadunidense precisa trabalhar muito menos: ele não tem de pagar escola particular, pois tem à disposição dos filhos escolas públicas de qualidade; ele não precisa pagar plano de saúde privado, já que conta com excelentes hospitais públicos se ficar doente; ele pode dormir mais que eu: as cidades são mais bem organizadas que as nossas e o trânsito muito menos caótico, então ele pode ir trabalhar tranquilo com seu carro, sem precisar sair de casa com tanta antecedência, ou pode optar por ir confortavelmente de transporte público, que também costuma ser muito bom. Portanto, não me comparem com os gringos, eles trabalham menos que eu e têm mais tempo para ficar em casa. Infelizmente, eu não tenho "espaço na minha agenda" para a faxina: é pagar alguém para fazê-la por mim ou viver na imundície.

O fato de eu não ser mais pobre não significa que eu seja melhor que um pobre, nem mais cidadão, nem mais nada de nada. O fato de eu ter sido muito pobre um dia também não quer dizer nada, não é demérito nem orgulho na minha biografia. Significa apenas que cada um enuncia a partir de seu lugar no mundo, assim como Fernanda Torres fez, e que esse lugar também pode, para alguns, mudar ao longo do tempo.

O machismo é abominável, o racismo é abominável, mas eu não sei na pele o que um negro passa em seu cotidiano (imagino que passem e vivam experiências muito cruéis e complicadas, e suponho que as mulheres negras, mais que os homens negros, sejam vítimas de situações pra lá de absurdas). Só sei que prezo a humanidade, amo meus amigos, minha família. Mas prezo e amo indistintamente, amo brancos, negros, amarelos. Amo as pessoas de qualquer outra etnia que não a minha porque sei que têm os mesmos direitos que eu, que são humanas como eu, que sentem e sofrem como eu, porque trabalham, estudam, sonham e criam seus filhos como eu.

Esse é o meu jeito de dizer que não sou racista (nem machista, nem feminista...). Amo todos, porém não tenho legitimidade para falar por eles, nem levantar bandeiras, simplesmente porque não os sou. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é", já dizia a canção. Sou solidário às causas que não me afetam tão diretamente por humanidade e por empatia, não por experiência própria. E ninguém pode ser culpado ou punido por não ser algo ou por não ter vivido alguma situação em específico.

Vivemos um tempo de gente pretensiosa. Houve quem publicasse textos desancando Fernanda Torres. O que mais me chamou a atenção dizia, já no título, que "não perdoava Fernanda Torres". Muita ingenuidade achar que Torres, uma figura conhecidíssima e muito lúcida em seus escritos, precisa do perdão de alguém. Antes de perdoar ou não (quem acha que pode perdoar alguém já se coloca, pela própria escolha do verbo, em posição de superioridade), é preciso ter o bom-senso de se autoquestionar: quem sou eu na fila do pão francês?

Não, Fernanda não merece nosso perdão. Ela não fez nada além de ser quem é, de escrever sob seu próprio ponto de vista. Ela é quem é pelas características que tem, pela vida que viveu, pelas experiências que carrega na memória. E, não, não, ninguém precisa pedir perdão por ser o que é - mesmo neste nosso triste tempo de ferocidade obtusa.

Essa gente colérica e patrulhadora de hoje transforma causas nobres em baboseira intelectualoide. São pessoas que afastam, repelem; trazem visibilidade negativa às causas que pensam defender. Chato este tempo nosso, de pensamentos tão rasos, de tanto mimimi. E, assim, está fundado nosso legado para as futuras gerações: o mimimismo.

Atualizado em ( 03-Mar-2016 )
 
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