Um grito de liberdade |
Escrito por Jamil Alves | |
16-Mar-2016 | |
Bem que eu gostaria que a crônica desta semana falasse de algum assunto ameno, ficcional. O fim de A Regra do Jogo, por exemplo (muito bom o último capítulo! Sentirei muita falta da Atena/Francineide vivida por Giovana Antonelli), mas a urgência da realidade falou mais alto: como não tratar das recentes manifestações pró-impeachment pelo país?
Os últimos meses têm sido tensos, especialmente na semana que antecedeu a manifestação do último dia 13. As redes sociais viraram uma espécie de ringue virtual para destilar venenos, alimentar ódios e paixões, fomentar brigas.
Um conhecido meu que sempre posta mensagens a favor do governo ficou irritado comigo quando eu lhe disse "esta crise não tem precedentes"; foi logo perguntando a minha idade e se eu não me lembrava da época do Sarney (senti uma raiva e então pensei "ai, meus cremes antiage não estão funcionando como deveriam!"). Eu lhe disse que me lembrava, sim, embora eu fosse criança nos anos daquele governo (eu tinha 9 anos de idade quando Tancredo faleceu e Sarney foi conduzido pelas circunstâncias à Presidência da República). Nos anos oitenta, a "década perdida", vivíamos uma crise crônica, que começou com medidas equivocadas tomadas anos antes com a crise internacional do petróleo iniciada em 1973. O que vivemos agora é diferente: a corrupção é crônica, porém a crise política é aguda; é parecida com aquelas dores renais monstruosas que nos levam ao centro cirúrgico às pressas! A partir dessa conversa, passei a notar que muitos defensores do governo apagam qualquer comentário contrário às suas convicções em seus posts. Claro, cada um faz o que quiser das suas publicações e do seu perfil nas redes sociais, mas isso me pareceu muito sintomático: sintoma de uma ignorância pairando, uma miséria que não é só de pão. A maioria das pessoas não discute, milita. E contra o militante raivoso e apaixonado, não há argumentos. Noite dessas aventaram na TV que a falta de traquejo político ou de base da presidente para poder governar talvez seja fruto de algum tipo de preconceito de gênero. Não creio nisso. Os erros e os acertos da presidente não têm nada a ver, em absoluto, com o fato de ser mulher. Seria muita injustiça pensar assim: afinal, todos os lambões que ocuparam a cadeira da presidência antes dela eram homens. Acho o governo que aí está desastroso. Aparelhou o Estado brasileiro e impôs um discurso populista, que vem das entranhas mais sórdidas da política deste país, e uma espécie de fetichização da pobreza, como se só este ou aquele segmento social merecesse atenção. Um bom governo não governa nem para o pobre, nem para o rico, mas sim para todos. Mesmo assim, e contraditoriamente, não sou a favor do impeachment, pelo simples motivo de que poderia arranhar ainda mais a já combalida imagem do país no exterior. Menos investimento estrangeiro, menos dinheiro, menos empregos, menos renda, e a crise entraria num redemoinho ainda mais forte rumo ao fundo. Também penso que a presidente, com todos os seus defeitos e virtudes (que estão meio escondidas, é bem verdade), foi eleita pela maioria. Foi uma disputa acirrada, apertadíssima, mas ela ganhou. Se sair, não há ninguém com moral ilibada nem com grandes projetos para o país para assumir seu lugar. Praticamente sem exceção, ninguém tem planos para o país, todos têm apenas projetos de poder. Fico triste por pensar que essa corrupção endêmica mata tanta gente nos hospitais sucateados, na falta de transporte de qualidade, na violência que a desigualdade social e a falta de oportunidades geram. Também me entristece ver gente militando loucamente, "pondo a mão no fogo" por sicrano ou por beltrano. Pasmem: já vi muita gente culta e estudada defendendo os "grandes" ideais bolivarianos de Hugo Chávez. Já presenciei jornalistas defendendo a política do país vizinho - e jornalista que defende um regime em que não há liberdade de imprensa me faz crer que o fim dos tempos está próximo! Fossem à Venezuela e permanecessem lá por apenas um ou dois dias não diriam tamanha bobagem! Por mim, se for comprovada a desonestidade de algum político, do PSDB ou do partido que for, prendam-no, façam-no saber que neste país há leis que valem igualmente para todos (pelo menos, em tese). Podem mandar prender com direito a japa da federal e tudo. Prendam quem quer que seja. Para mim, não vale a ideologia pela ideologia, não há "jararaca" nem "bandido de estimação" como na torpeza da vã ideologia de muitos. Precisamos de um grito de liberdade já!
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Atualizado em ( 16-Mar-2016 ) |
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