Foi passando pela rua Borges de Figueiredo que eu vi um poste diferente e percebi que havia naquele lugar uma boa história a ser contada.
Quem anda pela Mooca tem-se surpreendido com postes decorados com pinturas de flores e outros temas. Há uma artista deixando as ruas menos cinzentas, e o centro irradiador de onde emanam cores lindas é a pequena rua Visconde de Cairu.
Dentre as muitas obras que já se espalham pelas ruas adjacentes também, não dá para não notar o famoso relógio londrino, o Big Bem, pintado na porta de um bar, o carro estampado na parece vizinha ou os desenhos gigantes na garagem ao lado.
Neste pedacinho da cidade, em todo lugar há espaço para a arte, mas o foco são os postes, indo da Borges de Figueiredo, onde a Visconde de Cairu começa, passando pela João Antônio de Oliveira até a Canuto Saraiva, onde a Visconde termina. Muitos postes dessas ruas vêm ganhando o sublime endosso do belo, do artístico, do colorido das flores que chama a atenção de quem passa. Nem as lixeiras escapam dessas alegres estampas.
A artista da Mooca é conhecida como dona Norma. É professora de pintura há cinquenta anos, contam os vizinhos. A pintura dos dez primeiros postes levou cerca de seis meses para ficar pronta, com restos de tintas e outros materiais que a artista tinha guardados num canto esquecido da própria casa. Só depois, já mais hábil e familiarizada com o tipo de arte que empreendera, começou a embelezar os postes das ruas vizinhas: – Ora, o que vou ficar fazendo dentro de casa sem fazer nada?
Descobrir o nome e encontrar a casa da “artista dos postes”, duas tarefas fáceis. Ela assina a maioria dos postes que pinta: “Norma Gonçalves, 2016” pode ser lido em alguns deles. Sua casa, com cadeiras de varanda trabalhadas com as mesmas estampas florais dos postes, não deixa dúvidas de que lá está o lar da pessoa que se tem dedicado a deixar a vizinhança do charmoso bairro mais bonita ultimamente.
Seu material, além das tintas, são flores de tecido, recortadas cuidadosamente, uma a uma. Com pressa e a modéstia dos talentosos, Dona Norma caminha até seu novo trabalho, sua nova obra na rua João Antônio. Quando eu me sinto muito triste, vou pintar um poste. Quando volto para casa, me sinto outra pessoa porque quando a gente passa e vê tudo colorido fica mais alegre.
Atitudes como as de dona Norma, que trata seus postes e suas flores com amor de mãe, num flerte da arte com a travessura, deveriam acontecer mais vezes e se espalhar pela cidade inteira.
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