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Onda Latina

sexta
26.Abr 2024
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Até tu? E agora, Romero? PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
26-Out-2016
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Tive uma infância feliz, de plena relação com os animais. Eu não sabia nem juntar A com B ainda, mas já lidava com bichinhos de diversos tipos, naqueles alegres anos 80 em que simplesmente não havia Pet Shops em São Paulo. O mais próximo que existia disso eram as chamadas “Casas de Aves”, espécies de “bisavós” dos Pet Shops de hoje, mas que serviam apenas para vender galinhas e muitos outros tipos de aves, além de, no caso dos estabelecimentos mais aparatados, peixinhos ornamentais, que eram baratinhos, baratinhos. Nem sombra da ostentação dos preços dos aquários de hoje.

Fui criado numa casa com quintal grande, boa parte de jardim e terra. Gostava de caçar tatu-bolinha e minhocas. Recordo que meu passatempo favorito era capturá-los, espetá-los e tostá-los na chama de uma vela. Era uma brincadeira bem gostosa para a criança que eu fui, apesar de o adulto em que me transformei reconhecer certo sadismo nela.

Outra presa dentre as minhas favoritas eram as formigas. Gostava de obrigá-las a nadar num pote de iogurte cheio d’água, que funcionava como “piscina olímpica”. Já quando estavam à beira de um colapso por fadiga, eu as liberava de volta à terra e me divertia vendo-as ir embora em desabalada carreira – eu, no lugar delas, também sairia correndo de mim!

Há outra categoria de animais da infância que quase nunca passam pelo mundo real. Recordo um ursinho alaranjado, de borracha dura, que me acompanhou do berço até os meus doze anos, até o nascimento da minha irmã caçula pelo menos. Como eu nunca pensei num nome para ele, acabou pagão, pobrezinho. Minha irmãzinha certamente o destruiu sem nem termos pensado em batizá-lo. Hoje eu arriscaria Laranjito, em honra à sua cor; ou Nenê, talvez. Sei lá.

Além de sentir falta dos peixinhos ornamentais, galinhas, porquinhos-da-Índia, patos, tatus-bolinhas, minhocas e diversos gatinhos quizilentos da vizinhança que eu alimentava de vez em quando sem que nunca tivessem sido meus, tenho saudade dos inúmeros cachorros que tive, quase todos recolhidos por mim das ruas.

Minha estratégia para convencer meus pais a me deixarem ficar com os cachorros que eu recolhia tinha um modus-operandi repetitivo: ao ouvir o primeiro “suma com esse bicho daqui”, eu implorava para que me deixassem cuidar do cãozinho por alguns poucos dias, até que estivesse bem, mais animado e mais forte para enfrentar a dureza da vida nas ruas. Quase sempre a estratégia dava certo, os dias iam passando, passando, passando... e os cachorros, ficando! Foram tantos que nem posso lembrar-me de todos os nomes, mas alguns ficaram marcados na memória.

Tatuzinho, Rex, Mocinha, Fofo. Tatuzinho foi um presente de um colega de trabalho para o meu pai. Era acinzentado, carinhoso, tinha um pelo felpudo. Lá pelos três anos de idade, morreu de parvovirose. Eu não fazia nem ideia do que esse palavrão queria dizer, mas o trauma ficou até hoje. Parvovirose parece hecatombe, armagedom, juízo final. A quem não souber o que significa de fato, recomendo uma pesquisa na internet.

Rex também foi outro cachorro que meu pai ganhou de presente. Era todo preto, grande, brilhoso, lindo. Disseram que era da raça pastor belga, porém acho que ele nunca soube onde ficava Bruxelas. Tinha mais pinta de SRD – sem raça definida. Mesmo assim, era lindo, lindo. Meu grande amigo. Sua suposta ascendência, provavelmente fajuta, rendeu-lhe o apelido de “Belga Velho”. E era isso que meu amigo Rex era de fato: meu velho amigo belga, meu Belga Velho!

E a Mocinha, então, o que dizer dela? Vira-latinha de tudo, de ascendência e descendência. Era beginha, focinho com pelinhos brancos e os lábios delineados de preto, uma graça. Seu queixinho prognata (conhecido popularmente como boquinha de gaveta) e seus dentinhos tortos lhe davam certo ar de permanente sorriso, um charme único, só seu. Caçava ratos melhor que muito gato, era impressionante como suas mordidas eram certeiras! E, ao contrário do que se pode pensar, nunca teve problema de saúde. Pelo menos, não por causa do contato esporádico com ratos. Se minha memória não me estiver enganando, chegou à nossa casa depois do Rex e foi sua contemporânea.

Fofo era um cachorrinho marrom. Outros como ele parecem fazer parte de um tipo de animalzinho que saiu de moda, o cachorro pequinês. Nos anos 80, eram a paixão das vovós, mas creio que foram substituídos por bichons frisés, poodles e pugs. Olhinhos esbugalhados, focinho achatado, pelos longos e latido ardido eram a marca registrada dessas fofuras. Até seu nome parece ter perdido no tempo a própria referência, pequinês, “de Pequim”, capital da China, depois que começou uma moda boba por aqui de dizer que a capital da China, assim como se diz em inglês, é Beijing. Para mim, ouvir “Beijing” vai sempre me remeter ao delicioso docinho de festa, feito de coco e leite condensado – e a capital da República Popular da China vai continuar sendo Pequim!  

Antes de ser da minha mãe, Fofo fora de Dona Bia, uma vizinha muito simpática, já perto dos sessenta anos de idade. Vivia numa casa simples no início da rua, ela e mais doze cãezinhos pequineses. Por dificuldades financeiras, agravadas pelos gastos com suas mascotes, viu-se forçada a mudar-se da vizinhança para uma casa ainda mais modesta. Foi então que ela teve de se desfazer de metade dos seus companheirinhos.

Um deles, Fofo, ficou com a minha mãe, que só aceitou o cãozinho porque percebia a aflição de Dona Bia e tinha estabelecido com ela algum grau amizade. Foi triste o dia em que Dona Bia veio nos trazer o Fofo. Ela chorava copiosamente, foi uma cena muito, muito triste. Ela o deixou conosco como quem deixa para trás um filho.

Nos primeiros dias em minha casa, Fofo sofreu muito, chorava sem parar, uivava a noite toda, parecia chamar, em cachorrês fluente, sua antiga dona, que ainda permaneceu na vizinhança por mais algumas semanas até mudar-se definitivamente. Depois desse período, Fofo afeiçoou-se à minha mãe e passou a estabelecer certa rivalidade comigo. Era do tipo de cachorro ciumento, exclusivista. Acho que ele me via como um cão maior, um rival. Mesmo assim, era um bom cãozinho e eu me afeiçoei a ele, apesar de ele ser arredio comigo.

Posso dizer que devo minha vida a esse cãozinho Fofo. Eu costumava brincar numa rua sem asfalto, que era uma espécie de continuação da minha – que era asfaltada e passagem de linhas de ônibus; por isso que, na minha rua propriamente dita, não dava para brincar, e até hoje é assim. Mas nessa continuação, que tinha pedregulhos em vez de asfalto e outro nome, a maioria das brincadeiras era possível.

Naquele dia banal, mais um em que eu brincava naquela ruazinha, vi Fofo aproximar-se, ele parecia estranho. Não costumava seguir-me, mas deu um jeito de passar por um buraco na cerca de casa para ir atrás de mim. Ficou rodeando-me, parecia querer dizer-me alguma coisa.

Como a hora do almoço já se aproximava e eu estava ficando com fome, decidi voltar para casa. Um percurso curto, uns 50 metros, se muito. No entanto, bem no meio desse trajeto, havia uma rua a ser cruzada. Uma rua de bairro, uma rua pequena, quase sem movimento, Juvelina Ferreira de Assis. Eu passara por aquele cruzamento tantas vezes que era como se eu passasse da sala para a cozinha de casa.

Eu já estava prestes a pôr o pé no cruzamento quando Fofo, inexplicavelmente, colocou-se na minha frente em desabalada corrida, passou por mim e quase me derrubou, não tive como não interromper o passo. Foi quando senti algo grande e muito rápido passando pelo meu nariz e pelas pontas dos meus dedos do pé, fiquei com uma sensação de calor, principalmente no rosto. Praticamente no mesmo instante, ouvi um som agonizante, um gemido de profunda dor, que me gelou a alma. Uma Kombi branca, em velocidade altíssima, havia passado com as duas rodas esquerdas por cima de Fofo. Eu me desesperei e pensei que fosse o fim dele.

Um rapaz muito mal-encarado desceu do veículo, olhou displicentemente para tudo o que tinha ocorrido, fez uma cara de profundo desprezo quando viu que tinha atropelado um “mero” cachorro, subiu na Kombi e foi embora. Fofo ficou muito mal, posso ver a carinha dele na minha memória até hoje, com a boquinha ensanguentada e os olhinhos de profunda dor e resignação. Meu colega Romero, um menino da mesma idade que a minha e de família gaúcha, tinha presenciado tudo e chamou sem demora minha mãe, que veio em nosso auxílio.

Como nem sonhávamos em ter dinheiro para pagar veterinário, ela providenciou faixas, talas e ataduras. Fizemos curativos em Fofo, mas não acreditávamos que ele sobreviveria. Porém estávamos enganados. Passados alguns meses, ele se recuperou completamente e até a andar voltou. Não consigo imaginar por que motivo nem como, mas Fofo sabia que aquela Kombi era para mim e me salvou a vida. Fofo foi, sem dúvida, mesmo com toda a sua rabugice, um anjo de quatro patas.

Por falar em Romero, um garotinho ainda mais magro que eu, de cabelos escuros, encaracolados e óculos de lentes grossas, acho que ele foi o primeiro ambientalista ou ecologista de que eu tive notícia, embora não soubesse disso naquela época. Era rara a ocasião em que eu brincasse com meus tatus-bolinhas e minhas minhocas sem que ele aparecesse para recriminar a mim e a qualquer outra criança que estivesse comigo.

Um dia, minha mãe me chamou e me pediu que fosse ao mercado. Eu deixei os bichos e os apetrechos da brincadeira – vela, palito e fósforo – ali, disponíveis, à minha espera, pois eu não pretendia demorar a retornar. E qual não foi minha surpresa ao ver Romero sucumbir ao divertido sadismo daquela atividade tão pueril? Foi engraçadíssimo surpreendê-lo e gritar: – Até tu? E agora, Romero?  

 
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