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Onda Latina

sexta
29.Mar 2024
Os gatos PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
10-Nov-2016

gatos_-_jamil_alves.jpgNão, eu não queria dormir nem me acalmar com qualquer comprimido moderno e antipático, invenção racional e fria de uma ciência alheia à estética. Afinal, ser boêmio ou insone sempre foram circunstâncias rodeadas de charme e certo mistério.

 

Essa vida de quem tem dificuldades para dormir é muito dura para nós, os ansiosos patológicos. Os inúmeros compromissos do dia, das horas burocráticas e dos bate-estacas das construções não combinam com o estado de cansaço deixado pelas noites insones. Eu, que sempre quis meu mundo de rosas, violetas, murtas, narcisos e girassóis, acabei indo parar no mundo das pílulas para dormir.

 

No passado, os comprimidos eram só brancos, maiores ou menores que, na sua banal uniformidade, não prometiam nada. Mais antigamente ainda, eram umas cápsulas de gosto horrível, recheadas com pós ácidos e amargos. Se agarrassem na garganta ou se rompessem no percurso até o estômago, deixavam os doentes mais infelizes com o tratamento que com a própria enfermidade.

 

No entanto, não tenho dúvida que os remédios de hoje são para mim mais belos de aparência e têm nomes tão peculiares que não entendo como os poetas ainda não começaram a usá-los nos títulos ou nos conteúdos de seus livros. Mas em breve isso acontecerá, pois eu serei talvez o primeiro a fazê-lo: meus remédios se chamam Bombón, Burbuja e Bellota.

 

Meus remédios de agora não são cápsulas, nem drágeas, nem pastilhas. São gatos. Conviver com felinos faz entender com clareza por que eram considerados deuses no Egito Antigo.

 

Minha história com os gatos começou cedo, na infância, quando eu dava de comer aos que se insinuavam por sobre meu telhado, sem nunca terem sido meus – no fundo, nenhum gato pertence a ninguém; mesmo domesticados, são sempre livres. Eu alimentava os gatos do telhado por compaixão, é verdade, mas principalmente por puro fascínio por aqueles seres tão livres quanto misteriosos.  

 

Bombón, Burbuja e Bellota nasceram de uma gata não domesticada, que entrava e saía do estacionamento da faculdade onde eu trabalhava à hora que queria. Lá, tinha alimento dos funcionários e abrigo nos dias de tempestade.

 

Quando percebeu que a gatinha branca e preta estava prenhe, Rita, funcionária antiga da universidade que a visitava com frequência no estacionamento,  tratou logo de tentar arrumar donos para os futuros gatinhos. Após inúmeras tentativas frustradas, acabei ficando com pena e resolvi ceder ao apelo de Rita para que ficasse com um deles.

 

Ao ver que a ninhada toda eram somente três gatos, resolvi não separar os irmãozinhos. O nascimento da ninhada de bichanos marcou o início da minha relação com meus três gatinhos de estimação, os primeiros que pude chamar de “meus”.  Inicialmente, todos pensávamos que se tratava de três gatinhas. Então, decidi batizá-las com os nomes em espanhol das Meninas Super Poderosas do desenho animado. Algumas semanas depois, o veterinário me disse que Bombón não era “a”, mas sim “o” Bombón, um lindo machinho preto, de pelo longo e expressivos olhos verdes. Como achei Bombón um nome unissex, mantive todos os três nomes de acordo com minha ideia inicial.

 

Muito bebezinhos e indefesos, os três gatinhos passaram uns dez dias andando somente no território da cozinha, antes de ganhar para si cada canto do apartamento. Nesses primeiros dias encantadores de bebês, costumavam dormir atrás da máquina de lavar ou aconchegados junto ao motor da geladeira.

 

Ao longo destes anos mágicos de convivência, inúmeros foram os momentos de ternura e diversão que tive com meu Trío los Gatos, como costumo chamá-los algumas vezes. Nossa relação é sempre de troca, eu os observo e eles me encantam: felinos espremem os olhos à luz do sol e preferem indubitavelmente a noite ao dia. A noite os deixa mais dispostos, mais ativos. É quando há menos barulho.

 

Além disso, apesar de serem criaturas solitárias, eles gostam de algumas companhias. Não recusam o carinho do dono mas tampouco insistem por afago. Eles simplesmente ficam bem, assim, sós. Sua autossuficiência é admirável.

 

Noite dessas, faz algumas poucas semanas, eu me vi novamente numa situação de insônia, na cama, de corpo cansado e mente a mil. Cheguei a pensar em tomar algum remédio, desses que agora são mais coloridos que os de outrora e que não amargam quando entalam na garganta, porém não foi preciso: Bombón de um lado, a siamesinha Bellota do outro, à minha esquerda, e a gatinha Burbuja, marrom e branca, da raça snow-shoe (“sapato de neve”, em alusão aos pezinhos sempre muito brancos), em cima de mim, entre meu peito e meu ventre. Seu calor foi me dando um alívio, uma sensação de incrível bem-estar. As imagens da tevê e a paisagem do quarto foram caindo dos meus olhos e era como se tudo estivesse acabando na Terra e nós quatro fizéssemos parte de um grupo seleto de almas privilegiadas que nos dirigíssemos efetivamente para os prados da bem-aventurança. Magicamente, dormi feito pedra até boas horas da manhã seguinte.

 

É claro que os remédios de antigamente foram de grande valia, nobres profissionais eram os boticários que, dedicadamente, manipulavam fórmulas e mais fórmulas em busca de alívio para certos males deste mundo. Também as cápsulas brancas de sabor amargo merecem reverência por sua contribuição à saúde dos homens, mas meus remédios de agora é que são coisas lindas, com muitas cores e feitios. São muito ornamentais e parecem ter saído do reino da literatura ou do das artes plásticas para a vida real. Esses remédios são espécies de elixires com os quais vou tentando assegurar essa coisa misteriosa que é a vida.  

 

Meus remédios de agora, melhores que todos os outros, são os gatos.

Atualizado em ( 10-Nov-2016 )
 
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