Dia de Índio |
Escrito por Jamil Alves | |
03-Mai-2017 | |
“Um, dois, três indiozinhos, quatro, cinco, seis indiozinhos, sete, oito, nove indiozinhos. Dez num pequeno bote...”. Quem nunca ouviu essa singela musiquinha, que ficou impregnada em meus ouvidos depois que meu filho Miguel voltou da escola no último dia 19 de abril, adornado com penachos e cocar colorido?
Pele morena, cabelos longos, olhar doce e expressão cansada – afinal, dona Francolina, senhorinha simpática de vestido azul claro, já era uma mulher centenária na ocasião daquele evento. Não fosse pela idade tão avançada, eu poderia dizer que ela era uma índia comum, de traços corriqueiros, desses que povoam nosso imaginário quando ouvimos falar de índios. Dona Francolina contava coisas de seu povo num português relativamente claro. Vez ou outra pedia ao filho que a acompanhara ao evento que lhe traduzisse alguma palavra para o português porque ela não se lembrava. Ele deveria estar na casa dos 80 anos; uns 20 a menos que ela, portanto. A velha índia contava histórias de seu povo, de sua gente. Contava tudo de um jeito bonito, com brilho no olhar e um modo de falar que misturava fatos com ficção, mas que, magicamente, não deixava que os interlocutores conseguissem separar um do outro.
Dona Francolina sabia de tudo, sabia dos riscos que seu povo corria e ainda corre. De um jeito simplório, explicou que estava ciente do desaparecimento de muitas línguas no Brasil, que agora são totalmente irrecuperáveis para estudos. Expôs seu medo de que seu idioma, o guató, morra em menos de 20 anos: futuro nebuloso como o previsto para mais da metade das línguas presentemente faladas por índios no interior do país se nada for feito imediatamente no sentido de preservá-las, estudá-las, entendê-las.
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Atualizado em ( 03-Mai-2017 ) |
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