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Onda Latina

terça
16.Abr 2024
E se? PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
17-Mai-2017
chato_-_franklin_valverde.jpgFerdinando era um tipo chato, antipático, que não tinha o menor carisma. Quando foi promovido a chefe, piorou da antipatia.

Outro dia, fiquei observando o gajo: arrogante, soberbo, mandão. E já houve na empresa quem pedisse demissão porque não suportava suas estridências, suas ordens vomitadas a cada cinco minutos com ares de quem tudo pode e tudo sabe.

 

Controlador ao extremo, Ferdinando tem uma mesa que não se parece com uma mesa. Aparenta, na verdade, ser uma tenda de ervas do grande mercado municipal de Belém do Pará, dessas que vendem raízes, sementes, infusões e outras promessas de cura. A mesa de Ferdinando é parecida com o mercado municipal de Belém não pela beleza, mas sim pelo excesso de coisas apinhadas.

Além dos diversos itens diretamente relacionados ao seu trabalho, como computador, grampeador, pastas, carimbos, calculadora, gigantes pilhas de papel e outros itens, há vasos e mais vasos de plantinhas que, em vez de dar leveza ao ambiente, deixam tudo ainda mais poluído visualmente e claustrofóbico.

Dessas plantinhas, duas chamam a atenção: o pequeno cacto, que metaforicamente representa para mim uma escultura do chefão mala sem alça ou uma estilização de sua psique, e o pé de pimentinhas malaguetas. Ele diz que serve para espantar mau olhado e olho gordo. Só depois de ele comentar isso é que entendi porque essas pimentas, ao invés de brilhantes e viçosas, estão sempre opacas e murchas – será que as plantas, assim como os animais, também se parecem com seus donos?

Gente como Ferdinando me deprime. Gente como Ferdinando é burra, mas se acha inteligente.  De que adianta tanta assertividade tola se, na verdade, o que somos mesmo é um bando de gente indo para não se sabe onde para fazer não se sabe o quê? A grande pergunta que rege os caminhos e os destinos mais profundos da humanidade não é outra senão “E se?”. 

66 milhões de anos atrás, um asteroide de 15km de diâmetro atingiu a Terra, no Golfo do México, numa região relativamente rasa do mar. Chocou-se com rochas de gesso mineral, o que causou a liberação de uma quantidade colossal de gases de enxofre na atmosfera, altamente tóxicos e densos, e provocou uma espécie de inverno global que impediu completamente a passagem da luz do sol.

Nesse cenário, a grande ironia da história é o lugar onde o asteroide caiu. Se tivesse caído momentos antes ou momentos depois, em vez de bater na costa de águas rasas, poderia ter-se chocado com o oceano profundo, no Atlântico ou no Pacífico.

E se isso do Atlântico ou do Pacífico tivesse acontecido? Se tivesse acontecido, a nuvem de gases e dejetos teria sido menos intensa. A luz do sol teria chegado à superfície do planeta, os dinossauros não teriam sido extintos e nós, pobres de nós, ainda viveríamos nas cavernas e continuaríamos fazendo parte do cardápio daqueles répteis nada dóceis.

Aos 15 anos, após aprovação em alguns testes de habilidade, fui contratado sob o pomposo nome de menor auxiliar contínuo por um banco. Entre as diversas tarefas que me cabiam, estavam a de acertar o relógio de parede e o calendário de madeira e a de hastear as bandeiras paulista e brasileira.

Como nunca gostei de subir em escadas, toda vez que eu atravessava o enorme salão do primeiro andar para realizar alguma dessas tarefas, com a escada na mão e sob os olhares curiosos de clientes e de funcionários, eu pensava “E se eu cair? E se eu quebrar um braço ou uma perna? E se eu bater a cabeça?”. Não sou hipocondríaco, porém uma faceta da minha personalidade especializou-se, desde muito cedo, a imaginar tragédias.

Ao contrário do que creem neuróticos como Ferdinando, é o destino e seus acasos que governam todas as coisas, da folha que cai de uma árvore ao asteroide exterminador de dinossauros.

A maravilhosa Leila Diniz não me deu tempo de conhecê-la pessoalmente; morreu três anos e três dias antes do meu nascimento. E se não tivesse ido à Austrália receber o prêmio que ganhou? E se não tivesse embarcado no avião da Japan Air Lines que explodiu perto de Nova Delhi? E se, naquele dia, tivesse tido uma dor de barriga horrorosa e perdido o voo? Teria feito mais filmes? Novelas? Teria continuado linda e transgressora? Seria hoje uma velhinha bonita e cheia de coisas bacanas a dizer ou teria ficado careta?

Às vezes, fico fitando Ferdinando sem que ele note. “E se escorregar numa casca de banana, vai torcer o pé? Vai tirar licença médica? Ficar longe muitos dias? Dar uma folga a todos nós, um alívio aos efeitos deletérios de sua constante e insuportável presença?”. Ah, Ferdinando... seja um bom menino, pelo amor de Deus... E por falar nele, no grande, poderoso e absoluto, e se Deus, em vez de ser bom como creio que é, não for mais que um sádico que observa nossos reveses olhando pela fechadura?

 
Atualizado em ( 18-Mai-2017 )
 
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