Não vivi aquele tempo, mas outro dia minha mãe me contou que, até o fim dos anos 60, o dia 29 de junho, dia de São Pedro, era feriado.
O mês de junho é o mais badalado para os santos católicos, fato de onde advêm também as datas, no sincretismo das religiões de base africana ou afro-brasileira, de cultos a orixás como Xangô, o orixá da justiça (caô, cabecile!), cujo dia é o 24 de junho, coincidente com São João.
No caso da festa de São Pedro, celebrada no dia 29, os festejos parecem ter perdido um pouco o fôlego. No dia 13, todo mundo já paparicou Santo Antônio, pedindo casamento e lhe fazendo a chantagem de colocá-lo de cabeça para baixo – tomara que o coitado não tenha labirintite.
Depois, no dia 24, é o dia do popularíssimo São João. No 29, os festejos já parecem um pouco mais tímidos, as pessoas devem estar cansadas. Mas não esqueçamos que, mesmo sendo meio fim de festa, é festa, ainda assim.
São Pedro, sem seu feriado, teve de contentar-se somente com o fato de ter sido importante elemento da história, primeiro papa da Igreja Católica. Mas há quem desconfie que nos corredores celestes rola certa invejinha branca da devoção casamenteira a Antônio ou da comilança farta das festas de São João.
Em torno de Santo Antônio surgiu todo um estoque de simpatias para arrumar marido. Uma delas eu presenciei com algumas vizinhas e amigas da minha irmã. Elas pingavam cera de vela num prato com água, e a forma que as gotas solidificavas tomavam indicava a inicial do nome do futuro marido: A de Álvaro, P de Paulo, S de Sérgio ou de Sílvio, o prenome suposto a partir da inicial no prato dependia dos nomes masculinos disponíveis na vizinhança em quem a moçoila estivesse de olho. Se saísse alguma letra pouco comum como X, solteirice à vista, não havia homens com essa inicial – hoje elas poderiam sonhar, quem sabe, com Xuxa, o nadador. Atualmente está tudo moderno, apelido também deve valer.
No São João, pé de moleque, curau, pamonha e quentão – bicado do copo dos adultos distraídos, é claro. Comilança, fogueira e balão, muito balão. Eu gostava de ver os balões subindo. Nos anos 80, os balões representavam menos riscos que hoje, com tanto prédio e tanta antena, e os baloeiros que construíam os balões mais bonitos e com mais capacidade de voo ganhavam fama positiva na vizinhança, tornavam-se quase celebridades.
Hoje em dia, Santo Antônio e São João continuam comandando a farra junina, mas não convém desdenhar do apóstolo do dia 29. Afinal, a ele foi designada a missão de guardar as portas do céu e de controlar as águas celestiais, a chuva. No meu caso, que tiro férias quase que invariavelmente em julho há anos, ele me prenuncia meu merecido repouso. São Pedro, guarda o meu descanso, abençoa minhas férias. E pode mandar frio, chuva e muita nuvem, eu os adoro.
PS: Em agosto eu lhes falarei das minhas férias.
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