Chove lá fora e, aqui... eu estou com medo! |
Escrito por Jamil Alves | |
11-Out-2017 | |
É sempre assim: começam os trovões, o céu promete desabar em água lá fora, e eu já fico deste jeito, quase em pânico. Outro dia, li no site de um psicanalista renomado que, se olharmos de forma mais direta para o nosso íntimo, talvez este medo de um fenômeno da natureza represente subconscientemente o nosso temor real de nos envolvermos de forma mais profunda com o ambiente em que vivemos, com as pessoas que nos cercam.
Sei que eu não sou ninguém para refutar a hipótese do psicanalista, porém creio – eu comigo mesmo, sem qualquer respaldo científico – que esse medo irracional das tempestades pode estar relacionado a nossa vida moderna, a essa ilusão de que temos o controle das coisas, do tempo, das situações – quando, na verdade, não temos o controle de absolutamente nada!
A tempestade, com seus relâmpagos e trovões, representa o inesperado. Ela nos faz refletir quanto a nossos pensamentos, nossos modos de agir e de nos portarmos diante dos desafios, e isso não é tarefa nada fácil.
Mesmo quando estamos protegidos sob um teto, a tempestade pode trazer alguma consequência ruim: uma queda de energia, um longo blecaute, uma pane no elevador, um eletrodoméstico queimado: é tudo isso e mais um sem-fim de desgraças que é melhor nem mencionar.
Nesses dias de medo de raio, vem a minha mente minha avó, que, à moda dos antigos, saía correndo pela casa para cobrir os espelhos quando uma chuva forte se armava, principalmente os espelhos que ficavam pendurados em paredes.
Hoje, sabemos que essa associação de raios com espelhos não tem fundamento científico, que é apenas um mito com origem no fato de o raio produzir uma luz muito forte que, refletida no espelho, parece ter vindo de dentro dele.
Também contribui para o mito do raio no espelho o fato de, no Brasil colonial, ter havido muitas casas com grandes espelhos de estruturas metálicas, que favoreciam a incidência de raios nas casas. Embora esse fato tenha ajudado a reforçar equivocadamente o mito, o motivo da atração dos raios era a estrutura metálica, não a superfície do espelho.
Frequentemente, poetas e músicos tratam a chuva como elemento causador de depressão, ou, então, como ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre as coisas a sua volta. Metaforicamente, acho que as chuvas, principalmente as crivadas de raios, tiram de nós a paz tola da sensação de que quem precisava ter medo de raio e de trovão eram nossos rudimentares ancestrais, não nós.
Hoje em dia, com o clima cada vez mais instável e as cidades cada vez mais cheias de gente e eletrificadas, com fios pendurados para tudo quanto é lado, meu medo de tempestades só aumenta – talvez por paranoia, talvez por “bundamolismo” puro e simples.
Pode ser que, no futuro, riam de nós, pobres homens do século XXI, por termos sido ainda tão afetados pelas forças da natureza impiedosa, das ventanias de Iansã e dos trovões de Xangô. Imagino um futuro com sol, chuva, frio, neve, tudo controlado, tudo acontecendo com dia e hora marcados. Será mais um passo do homem em direção ao pleno domínio da natureza.
Enquanto esse futuro maravilhoso não chega, vou desligar o computador agora antes que um raio interrompa o fornecimento de energia elétrica. Ou, pior, queime o computador e o usuário.
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Atualizado em ( 11-Out-2017 ) |
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