Um quarto no Samaritano |
Escrito por Umba Hum | |
02-Dez-2017 | |
Um longo corredor acessa o quarto 501. Longo como todos os corredores hospitalares. Neles anda-se, anda-se, encontra-se um balcão devidamente mobiliado, computadores, TV num programa global, funcionários para assepsia vestidos uniformemente para identificação externa, quartos semiabertos na penumbra, quartos com visitantes que visitam convalescentes, visitantes que circulam de dentro pra fora e de fora pra dentro de portas que se abrem e se fecham, enfermos em alta com seus acompanhantes ao lado... Pouco antes do final do longo corredor – a numeração é a senha da seta de direção: começo, meio e fim... (501 é o princípio) –, como outros corredores em cujas esquinas abrem-se espaços labirínticos, um par de descedores (elevador eleva; descedor, desce: uma questão de subir para cima e descer para baixo...). Em frente do par descedor, como um aquário para exibição pública de espécies aquáticas, enfileiradas e organizadas como um batalhão militar, cadeirinhas para recém-nascidos: todas as cadeirinhas vagas, em exibição para olhar dos saintes do descedor (elevador, para quem sobe pra cima...).
O quarto 501 do bom Samaritano (Inaugurado em 25 de janeiro de 1894, para realizar desejo do imigrante Achao, chinês, que, desembarcado em São Paulo em 1884 com febre tifóide, atendido na Santa Casa de Misericórdia precisou converte-se ao catolicismo, segundo regras e costumes da época, por isso sonhou uma instituição hospitalar para receber pessoas de todas as crenças, raças e nacionalidades, sem distinção),
Duas horas e meia antes da intervenção para cauterizar calo no ouvido esquerdo DELA no bom Samaritano, numa tarde de céu azul-esmaecido e sol de brilho opaco pela elevação de gases da superfície e termômetros que registram 24ºC, a condutora dos internados, 1,63m aprox., 59 kg aprox., cabelos castanhos compridos presos como convém num hospital, tez branca, uniforme azul-aeronáutica, apresenta o 501. Aponta com o dedo direito e braço levemente inclinado para baixo, para o aparelho de comunicação, que se encontra num criado-mudo à esquerda de quem na cama está deitado; e recomenda prefixo 09 para situação-extra em que a comunicação ensejaria expensas fora do pacote para pernoite. O WC fica à esquerda da entrée, que apenas serve para circulação dos entrantes; a porta do WC, fica no limite entre a parede interna perpendicular à porta de entrada e o restante do 501. Na entrée, à esquerda, próximo ao rés do chão, um frigor-bar, 50X40. Da porta do 501 se avista,
Assim é o 501 do bom Samaritano. Que em dia de Lua-cheia, véspera da Paixão (no terceiro múltiplo de 3 do século que resulta a partir de Cristo de 7 múltiplos de 3), recebeu ELA para cauterizar calo no ouvido esquerdo que a incomodava faz mais de ano após diagnóstico no consultório de um Esculápio, Dr. Tibério César Conte, oriundo da Itália meridional a se considerar a origem do sobrenome. Ilustração: Bom samaritano - Franklin Valverde |
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Atualizado em ( 02-Dez-2017 ) |
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