Calendário novo, mundo velho |
Escrito por Jamil Alves | |
28-Mar-2018 | |
Do fim do ano passado para cá, pouco ou quase nada mudou no Brasil e no mundo. Trump continua metendo os pés pelas mãos, e dá muito medo pensar que aquele cara de penteado horrível é uma espécie de “chefe do planeta”. No quesito cabelos esquisitos e boa dose de maluquice, não nos esqueçamos do norte-coreano Kin-Jong-Un. No entanto, faça-se justiça, este parece bem mais calminho que o primeiro ultimamente.Por aqui, a bandalheira política só cresce: juízes supremos batendo boca em frente às câmeras, quem ganha o MMA de hoje? Barroso ou Gilmar? Não digamos que parecia briga de lavadeiras ou pugilismo por respeito às honradas lavadeiras e aos atléticos pugilistas. O Superior Tribunal Federal está batendo cabeça, garantindo a Páscoa com coelho gordinho e bacalhoada da boa para muito condenado em segunda instância com sérias chances de não serem presos. Independentemente de quem seja a figura em questão, como explicaremos, no futuro, que no Brasil alguém que já foi condenado em segunda instância não seja preso? Como explicaremos tanto foro privilegiado, tantas excrecências das leis? Elas parecem feitas para proteger o corrupto do povo, e não o contrário. E o Rio de Janeiro sob intervenção militar? “Em vez de luz, tem tiroteio no fim do túnel. Oh, oh, sempre mais do mesmo”. Faz mais de 30 anos que o talentoso Renato Russo, à frente do Legião Urbana, cantava esses versos; no entanto, parece que a música Mais do Mesmo, de onde esses versos foram extraídos, foi composta ontem ou semana passada – porque o calendário muda, mas o Brasil se mantém velho e repetitivo...Por falar em indignação, indignas foram as colocações que muita gente fez nas redes sociais. Em primeiro lugar, deveríamos todos, todos mesmo, estar indignados com o assassinato brutal de um ser humano. Se isso por si já não for motivo suficiente para a execução de Marielle causar dor e comoção, então a humanidade está mal, muito mal. Pensar que há quem relativize os fatos ou minimize a brutalidade da morte dela por conta de seu partido e de posicionamentos políticos me adoece. Custa-me acreditar que gente supostamente letrada e esclarecida não perceba que um crime de caráter claramente político é mais um passo que damos na direção da exceção e do caos, mais uma barreira transposta pela violência. Também me custa crer que a finada vereadora recebeu uma saraivada de críticas por ser defensora dos direitos humanos. Queriam que ela defendesse o quê? Os direitos dos marcianos? Os direitos das pedras de Plutão? Ora, se no Brasil os direitos humanos são constantemente desrespeitados e as leis parecem defender apenas os bandidos, isso é obra de leis ambíguas, desnecessariamente complexas, prolixas e empoladas, e dos juristas - nem sempre providos de escrúpulos nem das melhores intenções. As mentiras e bobagens ditas e escritas contra a vereadora fluminense poderiam facilmente emoldurar as palavras do profeta Isaías: “Pois as suas mãos estão manchadas de sangue, e os seus dedos, de culpa; os seus lábios falam mentiras, e a sua língua murmura palavras ímpias” (Isaías, 59:3).Difícil imaginar o profeta falando sobre as redes sociais ou a iniquidade das “fake news” de hoje em dia, porém é fácil fazer o caminho contrário: olhar para o que compartilhamos ou reproduzimos e reconhecer, no mínimo, ingenuidade; quem sabe, estupidez; ou – para usar o texto bíblico – enxergar sangue. |
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Atualizado em ( 28-Mar-2018 ) |
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