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Onda Latina

sexta
19.Abr 2024
Metade de nada PDF Imprimir E-mail
Escrito por Jamil Alves   
23-Mai-2018
metade_de_nada_-_franklin_valverde.jpgCerto sábado, o... o... melhor não revelar seu nome... um colega jornalista me mandou um e-mail no qual me pedia que eu lesse seu trabalho e lhe fizesse uma revisão.  

De cara, achei o texto do e-mail pomposo demais, formal em demasia. Fiquei até com preguiça de abrir o anexo. Lá pelas tantas, meu coleguinha elogiava a minha “sabedoria inócua” e se colocava a minha disposição, “à espera de um encontro fortuito”. 

Ora, se a minha sabedoria é inócua, então não causa efeito nenhum. Para que serve, então? E por que cargas d’água alguém ficaria à espera de um encontro “fortuito”. Se é fortuito, acontece por acaso, portanto; e, assim sendo, pode não acontecer nunca e nem é algo que se possa concretamente esperar.

Na verdade, o... o... melhor não revelar seu nome... o meu colega quis escrever bonito, “falar difícil”, como se diz popularmente, e acabou usando palavras cujo significado desconhece. Pois é... senhor... amigo... melhor mesmo não revelar seu nome... quero lhe dizer que não existe meia erudição.

Esses “elogios” tão inusitados que recebi me fizeram querer (e precisar) falar das coisas que não têm metade; as coisas importantes da vida não têm nem admitem metade. Certas coisas, se forem tomadas como metade, nada são –e a erudição é uma delas.

“Meio” é uma abstração na maioria das coisas. Você pode dizer que comeu meio chocolate, mas não pode dizer que no Brasil morre um habitante e meio por hora vítima da violência. O certo é dizer que morrem três habitantes a cada duas horas no país. Se meia pessoa pudesse morrer, o que seria dos outros 50% dela?

Outro exemplo, meio-irmão é algo que não existe. Se alguém convive com seu meio-irmão amorosamente, então é seu irmão inteiro. Por outro lado, se alguém for apresentado, depois de já adulto,  a um irmão “de pai e de mãe”, esse irmão, então, não terá sido irmão nenhum “o que faz o parentesco é a convivência”, já diz isso faz tempo minha prima Tico, e eu acrescento: “a convivência e o afeto”.

Seguindo a lógica, se fosse possível haver meio-irmão, todo filho seria meio-filho, já que recebe de nós apenas a metade dos cromossomos que o fazem geneticamente humano. E todo primo também seria meio-primo, porque um primo é nosso primo só pelo lado de nossa mãe ou só pelo de nosso pai. Assim também como os tios, os avós e por aí vai.

Continuando nessa ideia de lógica, faço um aparte no assunto para apelar ao bom-senso de meus colegas jornalistas: por favor, parem de adjetivar a palavra “filho”! Cansa e constrange ver manchetes do tipo “Fulana de tal viajou com seu filho adotivo”, “Sicrano fez uma sessão de fotos com sua filha adotiva”. Já que não existe meio filho, tampouco existe filho adotivo ou filho o que quer que seja. Só existe “filho”: todo, inteiro. Substituam a palavra “adotivo(a)” por “biológico(a)” nas manchetes que citei e cairão em si quanto ao descabido da situação!

Na realidade, sinto como algo ruim não estar plenamente conectado com meus pares de profissão ou de geração não quero dizer que não pertença ao mesmo grupo que eles, mas sim apenas que vejo o grupo com reservas.  Não consigo conversar com alguns amiguinhos da minha idade porque me sinto limitado a papos de um universo infanto-juvenil com barba.

Mas a verdade é que essa espécie de desconexão ou de não afinidade vem do fato de que ninguém gosta de pensar sobre si sozinho, sobre o futuro que está construindo, nem sobre o rumo incerto da própria vida. É por isso que gostamos de pertencer a grupos, mesmo que não nos sintamos plenamente inseridos em nenhum deles. É a ideia que nos inculcam de incompletude, de que temos de nos completar com o outro: é a falsa ideia da metade da laranja, uma estupidez romântica e sem sentido na qual gostamos de crer.

É claro que é bom ter alguém, mas é nocivo acharmos que somos metade, que nossa metade é o outro. Não: nós somos inteiros, e só seremos bem-sucedidos numa relação amorosa se assim nos apresentarmos ao outro. “Ser metade” não está com nada, definitivamente.

Outra tolice que usamos a borbotões, sem sabermos exatamente o que significa, é a tal da meia-idade. Meia-idade existe? Tenho uma amiga que morreu precocemente aos 52 anos de idade. Então, teve sua meia idade aos 26 anos? Dava para saber aos 26 anos que ela estava “na meia-vida”, na “meia-idade”? A meia-idade é, então, uma projeção que só se revela quando já passou? Conceito idiota: em vez de projetar, retroage, portanto.

Ainda que fosse possível prever o que seria a meia-idade, não dá para esperar metade da vida para realizar um sonho, metade da vida para ser livre, metade da vida para assumir nossos desejos profundos. Essa consciência de que não se pode adiar mais nada surge muito claramente quando atingimos a meia-idade, que é variável –cada um intui quando chegou à sua. A meia-idade é um estado de espírito, é atingir certo grau de consciência. Não é metade de nada, então, mas sim completude.

Essa história toda de metade me recordou um caso anedótico de um texto do Fernando Canto, lá de Macapá. Dirram era um jogador de futebol muito ágil, habilidoso, de corpo atarracado: “O tal atleta era um caboclo todo musculoso, entroncado e baixinho, desses que chamam popularmente de ‘caboco tureba’. Ele corria por todo o campo e não se cansava”. Segundo diziam, tinha um tronco grande encaixado numa metade inferior pequena.

Devido à proximidade com a Guiana Francesa, “Dirram” soava galicismo dos mais finos, até o irmão dele revelar a crua verdade a todos: “Dirram é a falsa metade do apelido ‘Cu de Rã’, mas só lhe chamam de Dirram porque gostam muito dele”.

Frente a todos os meus receios ante o rodar do tempo, só sou capaz de falar com alguma segurança das coisas que não podem existir como metades. Meias-verdades, outro exemplo, não são metade de nada; são apenas mentiras travestidas, maquiadas com eufemismo barato, e também funcionam assim o amor e o ódio: não existe meio ódio nem meio amor; não há meio-filho nem existe meio-irmão. E, metade da laranja, só se for meia fruta.

Atualizado em ( 23-Mai-2018 )
 
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