Preparando a lancheira |
Escrito por Jamil Alves | |
15-Ago-2018 | |
Vai chegando o meio-dia, e então começa o processo de mandar Miguel à escola com mochila, uniforme e sua lancheira: bolachinha salgada, bolacha recheada – desculpem, amigos não paulistas, mas sou incapaz de chamar bolacha de biscoito como vocês fazem. Um iogurte pequeno, de maçã verde, acompanhado de uma colherzinha e de um par de guardanapos de papel. Suco de maracujá fresquinho, junto com o copo branco e verde, com Mickey desenhado de um lado, e sua namorada, Minnie, do outro. Uvas roxas, sem semente, cuidadosamente embrulhadas em papel laminado – tentativa infrutífera de diminuir a culpa por tanta coisa industrializada na alimentação da minha criança. Logo nos primeiros dias em que um filho começa a frequentar o colégio, muitos pais iniciam uma pesquisa sobre alimentação saudável para pô-la em prática na hora do preparo da lancheira: “Lanche saudável evita obesidade e doenças crônicas”; “Saiba como preparar uma lancheira saudável para seu filho”; “Alimentação saudável começa na lancheira”.
Após as primeiras tentativas frustradas de fazermos nossos filhos comerem apenas coisas saudáveis, vamos sendo tomados por um pensamento repleto de preocupação e simplismo: “Melhor ele comer isso que eu coloquei na lancheira do que não comer nada”. E vão-se, assim, nossas ilusões com relação ao mamão, à alface, aos brócolis – o que os filhos querem mesmo é bala, salgadinho e muita gordura trans!
Talvez Miguel demore um bom tempo para entender minhas decisões, talvez nunca as compreenda ou prefira o pai do vizinho ou do amiguinho da escola, mas isso não me importa, não tem nenhuma relevância para mim neste momento. Estou tentando ser o melhor pai que posso, dentro do que consigo e das escolhas que fiz. Como cada filho é único, cada pai acaba sendo único também.
Miguel gosta de frutas, adora as uvas que eu ponho para ele na lancheira, porém ainda não se rendeu aos encantos do mamão, da alface, nem aos dos brócolis no prato. Mas nada disso tem tanta importância: o que vale mesmo é a sensação de amor e completude que a preparação daquela lancheira azul me traz.
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Atualizado em ( 15-Ago-2018 ) |
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