Quase entrevista |
Escrito por Umba Hum | |
15-Ago-2018 | |
- Cara S..., retorno, então, nossa comunicação por telefone. Como lhe informei, a Iluminuras me encaminhou exemplar de livro do Arnaldo Antunes para realização da entrevista para a Revista ... Aguardo a visita do correio. Tendo o livro eu mãos, o lerei e preparei uma pauta com perguntas para o Arnaldo. Ficaria para ele definir a melhor forma de realização da entrevista: por e-mail ou gravada. Tão logo escreva a pauta, lha encaminharei e aí podemos agendar a entrevista. Abraço (06/05/...)
- Prezado ..., Arnaldo pede pra você enviar a pauta, e ele decide se responde por e-mail ou agenda pra fazer gravado, ok? Abs, S... (06/05/...)
- Cara S..., grato. Como escrevi no e-mail anterior, apenas aguardo o livro, que, segundo a Iluminuras, já me foi enviado. Tão logo o tenha e o lenha, prepararei a pauta para a entrevista. Um abraço (07/05/...) - Prezada S..., envio-lhe as perguntas para a entrevista com o Arnaldo. Peço-lhe desculpa pela demora no envio. Mas, ei-las; espero que o Arnaldo goste, pois eu gostei de n.d.a., de vê-lo antenado. Aguardo, então, o retorno para decidirmos a melhor maneira de realizarmos a entrevista. Abraço (30/05/...)
- Em 1983 você publicou numa edição artesanal “OU E”, seu primeiro livro de poesia. Esse livro apresenta uma curiosidade visual: trata-se de uma caixa e na tampa da caixa há dois orifícios com um círculo giratório dentro; no interior da caixa há 29 poemas soltos. Passados 27 anos e 9 livros de poesia, você agora publica n.d.a.. Como você o insere no conjunto de suas publicações no suporte “livro”?
- Avesso a etiquetas poético-culturais, você sabe, no entanto, que um livro de poesia não está imune ao risco de catalogação, de classificação estilística etc. Sua obra poética como um todo, expressa em diversos suportes, e este livro recente, n.d.a., correm o risco de identificação ou “etiquetação” em que estética poética contemporânea?
- Ao olhar para a capa de n.d.a., creio que o leitor, como efeito da psicologia da forma, fica com a imagem de duas palavras: “nada” e “DNA”. Ao abrir o livro e ler o Sumário, ele se dará conta de que há um conjunto de poemas cobertos pelo título “nada de dna”. No nível poético, como você “joga” com os significados de “nada” e “DNA”?
Ainda, você ensaiaria falar sobre o sentido dessas palavras para além do âmbito poético?
- Ao lado do poema “galinha, ovo”, uma imagem fotográfica com dois ovos no mesmo plano; no ovo à direita, uma vírgula no centro do ovo; no à esquerda, um ponto no centro; no Sumário, o título do poema-imagem: “ponto e vírgula”. Na capa do livro, também no mesmo plano, dois ovos e a pontuação: o ponto e a vírgula; mas na imagem da capa o ponto e a vírgula não estão centralizados: ambos aproximam-se, separados, contudo, pelo rosto e contra-rosto da capa. Creio que a associação entre galinha e ovo sugere criação; o ponto, pausa; a vírgula, movimento numa direção que se anuncia. Para você “galinha, ovo” e “ponto e vírgula” sinalizam para sua visão sobre o processo de criação artística?
- Causaram-me estranhamento seus “Cartões postais”. No livro, os “Cartões postais” estão entre os poemas de “n.d.a.” e “nada de dna”. A impressão que tive foi de que os “Cartões postais” seriam um livro dentro do livro. Como você vê esse estranhamento? “Cartões postais” foram inseridos no livro para causar essa impressão de estranheza? Para você “Cartões postais” é um livro dentro do livro?
- Entre os poemas de “nada de dna” destaco “placenta planeta”, “cromossomos”, “máximo fim” e “cresce”. Os dois primeiros são poemas com forma circular, já os outros dois têm uma forma caótica, aberta, quebrada: ambos deixam a impressão de estilhaços. Lidar com formas aberta e fechada implica tensão e você já fez declaração na qual manifesta que com os arsenais tecnológicos de que dispomos vivemos um momento de retorno a práticas de comunidades primitivas, em que havia maior junção entre várias linguagens, perdidas com o avanço da civilização: o avanço tecnológico propicia um retorno ao “primitivo”. Com os poemas citados, o que gostaria de saber é: como você lida com a tensão entre o movimento de retorno ao ponto de origem (forma fechada) e o movimento que quebra o estabelecido e se abre para possibilidades novas (forma aberta)?
- Você também já manifestou que lhe é “natural” transitar entre diferentes formas de expressão artística: a ideia de “especialização”, como resultado da separação das artes com o avanço da civilização, funciona como camisa de força e hoje vivemos uma época de crise dessa ideia. Mas, até que ponto a “especialização” na esfera das artes tem presença tão marcante com a modernidade? Desde seus primórdios até o tempo presente, personalidades artísticas como William Blake, Nietzsche, Richard Wagner, Andy Warhol, Emir Kusturica transitaram entre a poesia, a filosofia, a música, o vídeo e o cinema
- Artista cuja trajetória ganhou projeção nacional com a participação na banda Titãs, você entende que sua poesia escrita e publicada em livro se ressente da associação que se faça com seu trabalho musical? Não fosse a projeção midiática adquirida com seu trabalho no universo da música pop, como você acredita que seus livros de poesia seriam recebidos?
- Em diversas intervenções públicas você expressa como se dá seu processo criativo, a relação de sua obra com artistas como Caetano Veloso, com o tropicalismo, com a poesia concreta. Mas você é notadamente reconhecido como artista híbrido, que transita com enorme desenvoltura em diversos espaços da cultura e das artes. Além das referências apontadas, que artistas, poetas, romancistas, filósofos você leu, lê, viu, vê e ouve e que influenciaram sua poesia escrita?
- Você é cauteloso ao falar da relação entre seu processo criativo e seus sentimentos, seus estados d´alma. Em contraste, em suas declarações nota-se uma grande importância à palavra escrita, às formas que pode assumir, aos significados e possibilidades da linguagem: o código verbal é como se fosse um porto seguro de onde você parte para visitar outros códigos – palavras cantadas, palavras para serem lidas e vistas ao mesmo tempo, palavras faladas em movimento, palavras só para serem vistas. Ao atribuir tão grande importância ao código verbal, qual o risco de sua poesia ser concebida de uma perspectiva, digamos, demasiado cerebral? Com isso, deslocada em certo sentido de seus estados d´alma.
- A pergunta anterior me leva a esta: o estado da arte no presente é pouco poroso a uma atitude, digamos, “romântica”, em que a criação artística embaralha vida e obra? E um valor a ser destacado em sua poesia seria justamente expressar esse espírito de época? Sendo assim, como você vê artistas de poucas décadas atrás, como o pintor Jackson Pollock, ou o romancista recente Roberto Bolaño, de quem não se pode dizer que obra e vida se separam nitidamente.
- Ainda com a questão da cautela. Você é igualmente cuidadoso ao tratar da relação entre arte e política. Embora se possa extrair comprometimento social e político em seus poemas, nas letras de música e em suas performances, você entende que o artista deve ter em mente que seu trabalho não se deve filiar a uma bandeira ideológica, pois o artista é livre por natureza. Mas, você entende igualmente que sua posição pode ser concebida como sintoma de apatia pela política nos dias atuais? Momento em que a posição do artista mais o compromete individualmente do que contribui para “a causa”.
- Como decorrência da pergunta anterior: numa situação em que artistas como você fossem solicitados a se posicionar, como no período da ditadura militar, do ponto de vista da criação artística, que papel você teria? Você entende que mesmo numa situação assim não cabe ao artista filiação ideológica?
- Prezada S..., tudo ok com a pauta que enviei para a entrevista com o Arnaldo Antunes? Você a recebeu sem problema? Envio-a novamente e aguardo retorno para combinarmos a melhor maneira de realizarmos a entrevista. Abraço (04/06/...) Agora aguarda resposta da pauta enviada para Arnaldo Antunes, enquanto isso, em solilóquio: “Sinceramente? Já entrevistei gente com muito mais a dizer; seria ele o mais midiático de meus entrevistados? sim, e se for por isso não é o que me dá prazer; tentei entrevistar outro midiático e, coincidência, também Arnaldo, no caso, Jabor; não funcionou, não tive o mais remoto retorno”.
Tentou novamente Arnaldo sem sucesso: “hoje ainda, no máximo amanhã, saberei se há clima para entrevista com o titã...” (08/06/...);
- Cara S..., tudo ok? Aguardo retorno para nossa entrevista com o Arnado Antunes. Imagino a agenda dele com muitas coisas. Mas, você me poderia dar uma ideia de quando podemos fazer a entrevista? Seria uma lisonja realizá-la, por isso talvez a insistência. Mas aguardo, sem problema, o melhor momento. Como faz um tempinho que enviei a pauta, eu a envio novamente. Abraços (01/07/...)
- Prezada S..., tudo bem? Olha, aguardo retorno do Arnaldo para a entrevista... É só ele agendar, marcar hora e lugar, pois, acho talvez seja melhor gravar do que fazer a entrevista por e-mail. Imagino a correria e sei que para escrever muitas vezes é preciso estar numa boa sintonia. Falar já mais automático. Aguardo teu retorno e, espero, possamos entrevistar o Arnaldo, pois li com gosto n.d.a. e ficou aquela sensação de curiosidade para ver as respostas do Arnaldo. Abraço (22/07/...)
- Oi..., desculpe não ter retornado. Por aqui está uma loucura. Arnaldo foi p/ Londres por duas semanas, voltou e está na região serrana do rio fazendo shows e no domingo vai p/ Diamantina-MG, para uma palestra. No início de agosto, além de alguns shows, ele começa as gravações de seu DVD, mas vou incluir este assunto para cobrá-lo na próxima semana e te dou retorno. Um abraço. S... (23/07/...)
“sinto-me seguro para entrevistar o Arnaldo” (24/07/...) - Ok, S..., imagino a loucura. Não se preocupe, tenho paciência e sei bem que uma entrevista, por mais rápida, sempre quebra um pouco o cotidiano. Na segunda quinzena de agosto eu entrarei em contato, sim. Abraço (27/07/...)
- S..., tudo ok? Iniciada a segunda quinzena de agosto, como havia lhe prometido, estou dando retorno. Podemos tentar agendar para os próximos dias a entrevista com o Arnaldo? Aguardo curioso o retorno dele e fico na espera. Abraço (19/08/...)
- S..., tudo ok? Olha, entendo a agenda bem apertada do Arnaldo. Para mim, pessoalmente, seria um prazer fazer a entrevista com ele. Mas entendo a dificuldade de encontrar uma brecha na agenda dele. Fica assim, eu realizarei a entrevista tão logo seja possível. Para não ficar na coisa meio chata de insistência, eu aguardarei o retorno dele com a data para a entrevista. Abraço (26/08/...)
De entrevista que fez com Olgária Matos, fragmento de uma resposta dela: “um dos problemas da modernidade: poucos trabalham muito e muitos estão sem emprego. Num caso e no outro, o tempo livre é experimentado como tempo vazio; não se reconhece uma ordem de urgências...”
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Atualizado em ( 15-Ago-2018 ) |
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