O tempo é realmente algo muito louco. Parece que foi ontem, mas já faz 20 anos que estávamos vivendo no assustador e já longínquo 1998.

Por que assustador? Ora, em primeiríssimo lugar, porque estávamos nos aproximando do fim do século. Só faltavam alguns poucos meses para o ano 2000, que povoava o imaginário de todas as pessoas da época com sua promessa de bug do milênio e de apocalipse.

Embora a mudança de século e de milênio só tenha acontecido na passagem de 2000, último ano do século XX, para 2001, o que povoava a mente das pessoas com curiosidade e medo era a passagem de 1999 para 2000. No desenrolar de 1998, portanto, faltavam cada vez menos meses para aquele nosso inevitável encontro fatal com o futuro.

1998 foi ano de acontecimentos notáveis e polêmicos em todo o mundo. O escândalo sexual envolvendo o presidente Bill Clinton e a estagiária da Casa Branca, Monica Lewinsky, quem não lembra? A relação extraconjugal do mandatário dos Estados Unidos com uma estagiária da Casa Branca, que quase resultou no impeachment do líder político e que não saiu dos noticiários por um bom tempo, tem 20 anos.

No cinema, 98 foi o ano de Titanic, que arrebatou vários Oscars e tornou-se o recordista das bilheterias de cinema em todo o mundo. Protagonizada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, a superprodução foi indicada em 14 categorias, tendo vencido 11 delas, incluindo o prêmio de canção original com a pegajosa My Heart Will Go On, de Celine Dion, e DiCaprio ficou profundamente ressentido por não ter nem sequer sido indicado à categoria de melhor ator.

O longa Titanic também foi o mais popular do século XX. Com uma bilheteria total de 2,1 bilhões de dólares, tornou-se o primeiro filme a arrecadar mais de 1 bilhão de dólares no mundo, permanecendo como a produção de maior arrecadação da história do cinema por mais onze anos, até Avatar ultrapassá-lo, em 2009.

Em ano de Copa do Mundo, como não falar dela? Em 1998, a vencedora foi a seleção francesa, anfitriã, que derrotou o Brasil por 3 a 0. Ronaldo Fenômeno teve uma convulsão horas antes da final da Copa, fato até hoje pouco esclarecido e cercado de mistérios com ares de conchavo, conluio, armação. Eu assisti à partida pela tevê, num quarto de hotel na capital gaúcha, a bonita Porto Alegre. Como se diz no seriado Chaves quando algo é ruim e não vale a pena, “teria sido melhor ir ver o filme do Pelé” em vez de ver aquele vexame.

Em 1998, o escritor José Saramago recebeu o prêmio Nobel de literatura, concedido pela primeira vez a um escritor de língua portuguesa. Foi lançado o Google, até hoje a ferramenta de busca mais popular da internet. Os celulares eram coloridos, tinham uma anteninha para receber o sinal de telefonia e sua tela era verde. Um dos modelos mais populares eram os coloridos da Nokia, que vinham com o jogo da cobrinha e que hoje se parecem mais com peças de museu que com qualquer coisa que tenha sido tecnologia de ponta algum dia.

Na televisão, Regina Duarte trocava seu bebê vivo pelo bebê morto da filha, em Por Amor, enquanto Branca, a antagonista vivida por Susana Vieira, dizia os maiores disparates do horário nobre. A partir de maio, e até janeiro do ano seguinte, foi a vez da Sandrinha de Adriana Esteves aprontar todas as maldades, incluída até a explosão do fictício shopping Tropical Towers da novela Torre de Babel.

Mas o fato mais importante daquele ano aconteceu na Inglaterra. Tristeza até hoje insuperável, quem pôde dar conta da saída repentina de Geri Halliwell, a nossa eterna Ginger Spice, do grupo Spice Girls? O clipe da música “Viva Forever”, do segundo CD do grupo, foi o último a contar com a participação da ruiva junto com as demais integrantes, embora todas elas apenas em forma de animação, como cinco fadas encantadas saídas de dentro de um ovo na floresta. Algo psicodélico e triste no distante 98.