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Escrito por Rosângela Dantas | |
12-Out-2018 | |
Um mês atrás, neste Brasil de agosto/setembro de 2018, a professora nos fez uma proposta: desenvolver uma peça a partir do tema equilíbrio. Achei na web um porta-velas que trazia o tema embutido não em uma forma que desafiava as leis da Física, mas em linhas curvas que se projetavam desiguais, desalinhadas mas equilibradas.
Não domino o torno, aliás, lhe tenho medo ainda. Minhas aulas em nada se parecem às cenas protagonizadas por Demi Moore em lichvaladpioli.cf Ghost e scowmati.gq que muitas e muitos têm na memória. Se soubesse como levantar uma peça, uniforme e lisinha, a partir de um pedaço de argila que roda em uma placa sob o comando de meus pés, a execução do que escolhi seria bem mais fácil.
Mas minha professora, a gentileza e a delicadeza em forma de gente, é daquelas que nos empurram pra frente e nos fazem esquecer nossas limitações: “se é essa a peça que você quer, é essa a peça que vamos fazer”. E nos lançamos à empreitada de construir com técnicas de modelagem um porta-velas ovalado, oco, com uma grande abertura arredondada na frente, cujos lados tinham alturas diferentes.
Vou poupar os detalhes da trabalheira. Na segunda sessão que dedicamos ao dito cujo, enquanto o manipulávamos, surge diante dos nossos olhos – ó, horror dos horrores – uma enorme rachadura marcando a peça verticalmente
- “Ai, não!!!!”
- “Putz!”
- “Tem jeito?”
- “Tem. É superficial, vamos remendar.”
E lá vamos nós: cobrinhas de argila, barbotina, espátulas, mãos experientes (não as minhas) karlpawea.cf et voilà: nem se percebe o remendo. Volta o porta-velas para o quarto de cura (sim, é esse nome: um quarto onde as peças ficam secando lentamente).
Aula seguinte, 8 de outubro de 2018. Devastada internamente, atravesso meu portal. Desembrulho a peça, aparentemente aceitara o remendo. Duas mexidas e eis que surge A RACHADURA. Exibe-se triunfante e desafiando nosso pseudopoder de fazer emendas e evitar a fenda ou a quebra irremediável.
Minha professora não se fez de rogada. Ignorando meu desânimo – e a insistência da peça em se desunir –, diligentemente repetiu com paciência, determinação e amorosidade o que fizera uma semana antes. Fiquei parada ao seu lado, observando seus gestos, carinho em corpo machucado, alisando a peça de forma delicada mas firme, a mão indo e vindo na direção contrária ao sentido da fenda. Muito provavelmente em pensamento ambas lhe rogávamos: “vamos lá, aceita o remendo, não racha de novo, não..., a gente já fez tanto por você, colabora, vai...”
Meu porta-velas está lá no quarto de cura. Não sei o que encontrarei na próxima semana. Se estiver inteiro, ainda deverá sobreviver a duas queimas, a segunda a uma temperatura que pode chegar a 1.300°. Tudo pode acontecer.
Façam suas interpretações.
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Atualizado em ( 12-Out-2018 ) |
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