“Não gosto de política!”, quem nunca ouviu essa frase? Gostando ou não dela, ela influi diretamente em nossas vidas, na vida de todos os cidadãos; portanto, não há como ficar totalmente alheio a ela. Política é algo necessário: o dispensável é a politicagem.
Mesmo hoje, em tempo de discussões tão acaloradas, noto pessoas dizendo que não querem saber de política. Na verdade, o que elas não querem é politicagem, essas práticas viciadas do poder pelo poder, de fazer as engrenagens do Estado girarem para benefício de uns poucos enquanto não temos escolas, transporte nem hospitais decentes.
No que diz respeito à eleição presidencial, os dois piores candidatos foram para o segundo turno. Entre mais de uma dezena de candidatos, os dois com as ideias mais radicais levaram a melhor, talvez em um sinal claro de que as pessoas não aprenderam, ainda, como funciona (ou deveria funcionar) uma democracia.
De um lado, um candidato que era vice, que virou candidato de fato só depois do indeferimento da candidatura de um presidiário. Um postulante que representa o partido que ficou no poder durante os últimos 15 anos, desde 2003, que disse ter tirado milhões da pobreza, mas o que se vê nas ruas é gente pobre que não acaba mais. Desempregados na casa dos 13 milhões de pessoas.
Antes que alguém resolva me corrigir, considero que o PT esteve no poder durante os últimos 15 anos, sim. Podem falar mal do Temer o quanto quiserem (aliás, ele não é nem de longe o presidente que eu quis para o meu país), mas ele não era vice da Fada do Dente, e sim da ex-presidente Dilma Rousseff. Portanto, foi o Partido dos Trabalhadores que o trouxe para as nossas vidas, conclusão óbvia. Ninguém chama outra pessoa para ser vice numa chapa para uma eleição se não houver mais afinidades que divergências entre as partes, não é mesmo? Quem responde que não, ou que não necessariamente, indica em sua forma de pensar que deve haver algo de muito podre nessa relação, que justifique o sacrifício de se aliar a um inimigo em nome de sei lá o quê.
Do outro lado da disputa, um candidato que defende ideias polêmicas – para dizer o mínimo. Espécie de “Trump dos trópicos”, o líder das pesquisas parece personificar, por sua trajetória na política e por declarações recentes, autoritarismo e desrespeito a direitos humanos básicos. Desperta em seus seguidores comportamentos e atitudes nada nobres.
A democracia, tão afeita a discussões abertas, toma uma surra toda vez que alguém agride quem pensa diferente. Faz tempo que não se vê por aqui uma discussão sadia, um embate de ideias pautado em propostas e busca de soluções, em vez de frases de efeito de lá e de cá, recheadas apenas de ódio irracional e populismo chinfrim.
Pois todos deveríamos prestar muita atenção à política (ou à politicagem, que seja), pois ela afeta muito a vida de cada um de nós. Devemos, sim, procurar saber tudo o que for possível sobre os candidatos, antes, durante e de uma eleição. Porém devemos, sobretudo, saber discutir e saber transmitir ideias, que é a única maneira de manifestar nossa indignação com esse horrível estado de coisas que se arrasta em nossa História há tanto tempo.
Por último, acho que vale advertir para o fato de que um povo que não aprende com seus erros do passado, que ignora as lições da História, está fadado a passar pelas mesmas experiências amargas. Só nos resta, agora, a esperança de que o bom senso prevaleça, antes que iniciativas intempestivas acabem redundando em danos irreversíveis.
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