Sala de espera |
Escrito por Umba Hum | |
03-Abr-2020 | |
Um dia como outros, estranho e quente. É verão. Ele saiu de casa para uma consulta, para admissão em novo trabalho. Ao sair de casa, consultou o waze e chegou à Rua Dr. Araújo de Melo, 174, na Vila Mariana. Saiu hora e meia antes da consulta, marcada para as 15h30, e chegou às 15h00.
Recolheu-se então ele a um canto da sala, sentou-se e olhou os rostos presentes. Da TV ligada na Globo via-se a novela vespertina reprisada. Em lugares assim, muitas pessoas cruzam de um lado para o outro; quem entra vê muitos rostos. Todos sentados à espera da chamada. Os olhares se entreolham, absortos, vazios. O dele é apenas mais um que esconde histórias, sentimentos...
Para ele, como provavelmente para os outros, o lugar é um claustro, no momento da espera. Ele pegou entres seus papéis duas folhas em branco e começou a rabiscar...
“Muitas pessoas na sala de espera... Olhares que não são meus deslocam-se de um lado para o outro, procuram um ponto fugidio.... A espera...
Todos esperam e eu, aqui, escrevendo. Penso em Goya, ao ver os rostos que preenchem o espaço: ‘rostos traçados por Goya em seus momentos inspirados...’
A jovem recepcionista recebe os rostos, dedilha as teclas do computador. Mais um rosto chega. Uma moça, que ouve da recepcionista: ‘é só esperar...’. Em seguida, a moça, esbaforida, senta-se ao meu lado. Enquanto se ajeita na cadeira, ouço uma voz: “Rodrigo!”
Sai o rapaz de tez morena. Entra Moacir; este um pouco menos jovial, talvez tenha embalado alguns momentos da vida ao som de Amado Batista. A porta permanece aberta. Ouvem-se vozes. Percebo uma voz feminina que dialoga com Moacir. Deve ser a médica.
Sai Moacir, entra Adélia. A porta é fechada. Num espaço de não mais que 12 metros quadrados dez rostos se olham na tarde quente e modorrenta.
Ao que ela indaga: Professor? Sim, professor! Eu respondo.
Eu me levanto, viro as costas, saio da sala e sequer noto os rostos que ficaram”.
Ele então foi ao estacionamento, ajeitou os papéis com os traços que rabiscara, olhou o relógio, que marcava 15h55, e tomou, maquinalmente, o caminho de volta para casa. llustração: Sala de espera – Franklin Valverde
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Atualizado em ( 03-Abr-2020 ) |
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