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quarta
24.Abr 2024
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Parado no carro PDF Imprimir E-mail
Escrito por Umba Hum   
28-Fev-2021

no_carro_-_franklin_valverde.jpgO carro está parado na Praça Osório de Almeida, entre as ruas Analândia e Guerino Raso, na Mooca, e dentro dele, com os vidros fechados, ele ouve música clássica na Rádio Cultura FM, 103.3 MHz, sua filha pequena está no banco de trás onde vê o desenho animado Mogo e Drongo pelo celular, e assim os dois estão há duas ou duas horas e meia dentro do carro, uma EcoSport Freestyle, com ele, enquanto ouve música clássica, vendo o movimento na praça em mais um dia de pandemia causada pela propagação do Coronavirus, pois ficar trancado em casa com ela e a criança pequena é insuportável, já que mesmo tendo muita coisa para fazer, em trabalho agora remoto, ele não consegue a concentração necessária, por isso prefere sair com a filha pequena a ter que, num espaço exíguo do apartamento em que mora, na Rua Leocádia Cintra, uns dois quilômetros de onde está, se expor a atritos rotineiros e casuais com ela, que também está com os nervos à flor da pele em razão da realidade maluca a que ficaram reféns de uma hora para outra, uma vez que ninguém, por pessimista que seja, ainda que haja probabilidade, imagina um meteoro caindo na cabeça, como está acontecendo com um vírus que fez suas primeiras vítimas em Wuhan, China, cinco ou seis meses atrás, se espalhando mundo a fora.

 

Tudo pode parecer desolador e deixar a sensação de absurdo, considerando que o apartamento em que mora, ou um apartamento qualquer, por menor que seja, tem espaço de locomoção maior que o do carro, então os sinais de racionalidade se esfumaçam e ele busca conforto dentro de um carro no qual mal poder mexer as pernas é tão só insensato, como insensato é admitir que possa haver qualquer sensatez em ter de um dia para o outro todo o cotidiano rebulido, posto de cabeça para baixo e sem nenhuma perspectiva de que em mais um mês, dois os três meses, poderá novamente se movimentar tão livremente que entre suas escolhas não estará, com certeza, a de ficar preso em um carro por horas, ouvindo música clássica com a filha pequena, como agora ele se encontra na Praça Osório de Almeida, onde chegou depois de um trajeto indefinido, embora houvesse, de qualquer forma, tentado parar na frente do 3º Grupamento de Bombeiros – Posto Mooca, na Rua Dr. João Inácio Teixeira, 91, não tinha quando saiu de casa lugar definido para onde ir e com isso ao acaso, não havia onde estacionar o carro na frente do Posto de Bombeiros, parou na praça porque viu nela um lugar tranquilo, no qual não se sentiria incomodado e, com a pequena vendo desenho, podia com tranquilidade ouvir música clássica.

Nesse intervalo de tempo insólito em que se retém na Praça Osório de Almeida, ele não faz nada a não ser pensar que em algum momento, e ele não projeta de modo algum esse momento, terá de voltar para casa e que quando voltar não terá no apartamento uma mobilidade muito maior, pois a filha pequena, que começa a ter noções do que é o mundo, ela tem só três anos, não tem a menor ideia de que o tempo dela, assim como o da mãe e o dele, está descontrolado, e como toda criança exige atenção a todo momento, ele não sabe se por causa da pandemia, ou por um traço de personalidade que está por se definir, aos olhos dele pelo menos, a filha dele parece mais irrequieta que todas as crianças no mundo na idade dela, limitando com isso toda ou qualquer possibilidade de ele ou a mãe poderem ficar contemplando o derredor sem qualquer preocupação, de maneira que, com a volta ao apartamento,  a criança deixaria de ver desenho no celular no carro para ver o mesmo desenho no quarto ou na sala com ele ou com a mãe, com a vantagem de que, além do celular, há também o computador ou a televisão para a filha pequena, pois do contrário, sem ver desenho e longe dos olhos dele ou dela, a filha pequena poria fogo na casa, e se isso a pequena não fez ainda, ela em uma ocasião espalhou um pote com 500 ml de talco pela casa toda e em outra 500 ml de farinha de trigo, tudo isso para fantasiar neve que ela frequentemente via no desenho Frozen II,  produzido pela Walt Disney Animation Studios, de quem a pequena tem enorme admiração pela princesa Elza.

Ele se exaspera, no entanto sabe perfeitamente que a situação é mais absurda do que a de alguém preso num elevador sem saber por quanto tempo ficará preso e sem ver sequer indício de que o tempo retido no elevador será de uma, duas, ou três horas e assim, por absurdo que seja, tenha de se contentar com a terrível constatação de que não há sinal algum que poderia lhe trazer alguma esperança de que em algum momento a porta do elevador se abrirá e estará livre, mas tudo se torna bizarro porque ele em desespero conjectura que até é possível que jamais volte a andar pelas ruas como antes sempre fez, nunca tendo parado para pensar que elas têm dimensão, pois o tamanho das ruas  sempre foi simplesmente ignorado, como ignoradas são muitas coisas para as quais só notamos quando de uma  hora para outra virmos a necessidade de lidar com o que de algum modo nos surpreende para além do que razoavelmente podíamos imaginar surpreendidos diante do inesperado, o que nos faz crer que o absurdo, para ele e para nós, desponta com uma naturalidade que escondemos o tempo todo.

No carro, ele observa as ruas Analândia e Guerino Raso, o pequeno movimento de outros carros transitando lentamente, a praça que está quase vazia com a quarentena, poucos carros parados paralelos ao meio fio das calçadas, as casas que foram construídas há quase um século, e indaga como estariam as pessoas dentro delas, o que fazem, como se sentem, e relembra que a Mooca foi palco da greve geral de 1917, na qual o operariado adquiriu consciência de classe impulsionado pelos anarquistas, que em 1961 Pelé marcou seu mais belo gol, de que hoje não se tem a imagem, na Rua Javari, embora tenha sido visto por um número muito maior de pessoas do que as que estavam no estádio do Juventus naquela noite, que Miguel Osório de Almeida foi um médico neurologista e cientista brasileiro que ocupou a cátedra de fisiologia da Escola de Agricultura e Veterinária e a chefia do Instituto Oswaldo Cruz e que foi irmão do igualmente médico Álvaro Osório de Almeida, entretanto isso só tem alguma importância porque ele não sabe ao certo quem é o homenageado com o nome da praça, como também não sabe quem foi Guerino Raso, além da informação de que também é nome de uma Escola Estadual, também na Mooca, o que o faz suspeitar de que possa ter sido um ilustre proprietário de terras da região na passagem do século XIX para o XX.

Em algum momento ele percebe a aproximação de um mendigo que fuça uma lata de lixo, enquanto ele tenta esconder que não se dá conta de sua presença, pois teme que de alguma forma possa ser abordado e isso o deixa um tanto perturbado, principalmente porque o mendigo depois de fuçar a lata de lixo senta-se num banco da praça bem próximo do carro dele, três ou quatro metros, e, sentado, o mendigo fica sem fazer muito movimento, absorto, como se para ele nenhuma alteração do cotidiano o incomodasse e como se o tempo e a pandemia tivessem um sentido totalmente diferente do dele e nessa situação, embora ele pudesse ligar o motor do carro e sair da praça quando bem quisesse, ele não o fez, resolvendo permanecer todo o tempo que o mendigo também ficaria na praça, pois se ele temia ser abordado pelo mendigo, ele igualmente tinha para si o desconforto que poderia causar ao mendigo ao deixar a impressão de que sua presença próxima ao carro o levara a se retirar da praça, ainda que ele pudesse notar que para o mendigo a presença ou ausência dele e da filha pequena fosse indiferente.

Ao tomar essa decisão, ele não olha para o relógio, não mede o tempo, permanece no carro e, de canto de olho, vê o mendigo, para o qual o tempo é indiferente ao movimento dos ponteiros do relógio, sendo essa uma situação calculada  ele se inquieta porque o mendigo não saí do banco da praça e, à medida que o tempo vai passando, ele começa a ficar exasperado e seu exaspero se torna maior quando a filha pequena começa a dar sinais de enfado, porque já não tem mais interesse em ver desenhos no celular, com isso começa a inicialmente importuná-lo pedindo para voltar para casa, de modo que em poucos segundos a pequena passa da reivindicação amena a uma crise de choro e pôr fim a gritar aos berros que quer a mãe, então ele se volta para o banco de traz do carro e pede incialmente com paciência para ela voltar a ver desenho no celular, em seguida, em poucos segundos, contudo, sem paciência, pede para ela parar de chorar e por fim grita para ela ficar quieta, pois já não consegue manter a sarcástica serenidade que a conveniência impõe.

Era ele, a esse respeito, bem oscilante, seu temperamento podia dar impressão de que mantinha serenidade estoica em situações tensas, como de fato, em muitas situações, para um observador externo, ele realmente parecia guardar assombrosa calma, ou podia também deixar impressão de um provocador sarcástico, de uma mordacidade cruel e perigosamente inexplicável, mas agora a filha no carro e o mendigo a poucos metros dele e ele não mais consegue ouvir música clássica ao fazer malsucedidas tentativas de acalmar a filha, portanto o que de modo geral caracterizava o comportamento calculadamente sereno dele perde o prumo, e o elemento sanguíneo de seu humor ganha força de tal modo que ele não tem mais a menor noção se o mendigo que está próximo dele pode ouvi-lo gritar para a filha pequena, “fica quieta, puta que pariu! fica quieta! já falei, só mais um pouco a gente volta, já falei, pelo amor de Deus, você não ouve, puta que pariu!”, mas a pequena em contraponto e com mesma intensidade gritava, “eu quero voltar! eu quero minha mãe! minha linda mamãe, mamãe! mamãe! vem me salvar!”

E também, mesmo que a praça estivesse quase vazia, e as casas um tanto distantes do carro, a mais próxima a pelo menos 50 metros, e os vidros do carro fechados, como ele perdeu a noção de volume sonoro na troca de gritos entre ele e a pequena, nem por um instante imagina que pudesse ser ouvido, gerando assim um inconveniente desagradável, pois o carro está parado na praça há um bom tempo, sendo o único carro na rua com pessoas dentro, e como das casas ele não tem a menor ideia se são vistos e o que pode causar a visão de um homem dentro de um carro, parado, com uma criança dentro, e que de uma hora para outra se exaspera e começa a gritar como um insano, destemperado, assim, além do fato pouco agradável da cantoria de gritos alguma situação mais perigosa podia acontecer e não era nem um pouco improvável que com tantos celulares ele no carro com a filha além dos olhares pudessem estar sendo filmados, ou mesmo que em casas antigas habitadas possivelmente por idosas uma delas ligasse para a polícia e aí ele ficaria numa situação terrível, mas nesse lapso de tempo ele perdeu totalmente a noção de consequências que seu destempero pudesse ter, como a abordagem surpresa de um policial ou mesmo, ele não se deu conta, de um vigia que guardava a rua em uma guarita, o que talvez fosse motivo de intimidação do mendigo, de onde dentro do carro ele não podia vê-lo. 

O mendigo, sem que ele tivesse a menor percepção de quando isso havia acontecido, em situações de tensão o derredor parece se diluir por efeito de magia, não mais estava no banco da praça e então, tão logo ele percebe a nova realidade, liga o motor do carro.

Ilustração: No carro – Franklin Valverde

 
Atualizado em ( 28-Fev-2021 )
 
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