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29.Mar 2024
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Estada em Ilhabela PDF Imprimir E-mail
Escrito por Umba Hum   
07-Mai-2021

pousada_-_franklin_valverde.jpgEstá em Ilhabela, onde pretende ficar alguns dias no período de férias. A pousada, de nome Ananas, é legal. De uma rusticidade que muito aprecia. A construção, numa escarpa. O quarto em que se acomoda, está a aproximadamente 15 metros do nível da rua. A medida de altura, contudo, é enganada pelos sentidos. Assim, tem igual sensação de que está a não mais que 40 metros da rua. Isso quer dizer, está num ponto alto, de onde pode ver a rua, que a rua contorna a orla. Tem, portanto, diante dele o mar. E pode ver que as águas marinhas não se estendem até o horizonte. Muito recortada a ilha, tem à frente, separada pelas águas uns 6 ou 7 km, um conjunto de elevações montanhosas e sua vegetação atlântica. Sendo separada pelo mar, a outra margem desponta como paisagem que fecha a pousada, isolando-a. E assim, isolado, vê o que está nas águas, enganado pela distância, pequenos barcos a motor a lhe lembrar a presença humana.

 

Acha que o editor está lhe dando um chapéu? Acha que sim. Acha sinceramente que está fazendo papel de besta. No melhor cenário, o cara não sabe o que quer. Ou gerou expectativa maior do que poderia cumprir. Está, de qualquer forma, desapontado com ele. Sente como se estivesse num jogo de esconde-esconde. Tem esperança mínima de que seu livro sobre pintores impressionistas franceses seja publicado. A conversa com o editor foi afável. Ele lhe prometeu publicar o livro. Recebeu os originais e lhe escreveu: “vamos tocar pra frente...”. Ele, é certo, é muito desconfiado, talvez porque tenha visto muito filmes de espionagem, tenha ficado com um espírito que vê maquinações em toda parte. Imagina que o editor, por não conhecer suficientemente pintura francesa, não aposta no livro. Acha sinceramente que o editor quis fazer média, ou empurrar com a barriga até ele esquecer ou se tornar inconveniente com a insistência. Pela mesma editora ele já havia publicado três livros e supõe que, com vendas irregulares e nunca suficientemente informadas, o editor estava receoso de levar adiante uma nova publicação. Por isso, conjectura: “Ele quer ganhar dinheiro e acha que pode ter prejuízo me publicando; ele tem as planilhas com as vendas dos livros que publiquei, não me dá retorno sempre que solicito, responde sempre de modo evasivo que vai passar minha solicitação para o responsável pelo setor na editora, mas sou obrigado a retomar a comunicação e lembrá-lo que ele esqueceu de me passar o contato...”

Chegou a Ilhabela debaixo de muita chuva. Chuva torrencial de verão. Acomodou-se num quarto que guarda lembrança de outro em que pousou anos antes em Petrópolis. Tudo muito rústico. O piso, um assoalho de madeira que parece ter mais de meio século. A varanda, na qual se senta para escrever, o piso é de tijolos sem qualquer acabamento. A mureta que protege a varanda, feita com troncos de árvores sem nenhum tratamento, sujeitos, pois, à ação do tempo. O que o impressiona sobremaneira no aposento é a quantidade de telas nas paredes. Nota em particular uma pintura com motivos fauvistas: cores fortes, ruptura com a figuração. A pousada, de qualquer forma, e essa informação ele não tinha quando fez a reserva, era repleta de telas. No bar, ao lado da piscina, enquanto tomava o café da manhã, vê duas telas que guardam lembrança com o expressionista austríaco Oskar Kokoschka. Pôde ler na assinatura Trieste 93. Quem seria esse pintor de nome Trieste? Intenta verificar quem poderia ser Trieste. Mas ao mesmo tempo lembra de Trieste, cidade italiana que na época de Kokoschka pertencia ao império austro-húngaro. Isso pouco importa, contudo, para ele, que resmunga: “essas telas, de fato, são o que são...”

O editor finalmente lhe passa o contato com o responsável pelo setor de controle das vendas dos livros que havia publicado. Ele então escreve um e-mail para o Cristiano. Aguardou retorno do Cristiano um, dois dias e nenhum retorno. Cristiano ficou mudo, um mutismo que para ele era mais que um mutismo. Fica então indeciso. “O extremo patético. Eu, aqui, atrás do editor como um fantasma, à espreita, para uma simples prestação de contas e ter encaminhamento de fato sobre a publicação de um livro que ele me garantiu que seria publicado. Certo, ele me pede para procurar o Cristiano sobre as contas...; bem, bem, isso é uma grande furada, uma grande furada; e não posso deixar de registrar”. Deixa de lado a ideia do livro, resigna-se, perde a paciência. Nisso, para si mesmo, adota uma postura sarcástica, pois não consegue superar a frustração. “Meu próximo livro? Calendas gregas”. Apenas queria a prestação de contas. “Nobres e velozes maquiagens do mundo civilizado...; o que sobra...; não vou receber... camarada Cristiano vai me passar os dados? Ao menos me responder? Pouco importa o valor que tenho para receber, isso não tem a menor importância”.

Não parava de chover em Ilhabela em sua estada no Ananas. Passaram-se cinco dias e todos os dias chuvas torrenciais. O sol surgia em momentos esparsos, mas logo era coberto pelas nuvens, que logo se tornavam carregadas e anunciavam uma nova chuva. Para ele, contudo, a chuva não era problema. Com respeito a ela, estava tranquilo. Da varanda avista o canal de São Sebastião. Sim, consultou o mapa de Ilhabela, para se certificar sobre as águas que estavam diante dele. A chuva intermitente, de qualquer forma, se não o preocupava impedia que ele fizesse um passeio para conhecer a ilha. Enquanto olhava o canal de São Sebastião, no entanto, um tímido despontar do sol deu o ar da graça. Ele sai, então, para um passeio no centro histórico da ilha. O centro resume-se a uma praça e uma prisão. A cadeia e fórum de Ilhabela. Com o advento da República, o governo determinou a construção de edifícios com uso concomitante de cadeia e fórum. O projeto do edifício foi concluído em 1913, e é de autoria de G. B. Maroni, em estilo eclético. No pavimento térreo funcionava a cadeia, no superior o fórum. Com o abandono das funções originais, hoje o prédio abriga a sede do Parque Estadual de Ilhabela, em que cinco salas temáticas exibem fotos, vídeos e objetos sobre a biodiversidade da mata e a população local, os caiçaras. No passeio, nota que a ilha é um lugar em que não faltam pinturas. Em cada bar que entrou, vê as paredes forradas de quadros. Na volta para a pousada, uma fina chuva começa a cair.

“Próximo livro meu será publicado, logo receberei o contrato. Até lá tudo pode acontecer, mas se acontecer será ótimo. É a melhor notícia de hoje. Pois é, deu azar eu falar em calendas gregas”, escreve ele. Cristiano, por outro lado, não deu notícia. Até o final de sua estada na Ananas não sabe se terá notícia do Cristiano. Mas, fica entusiasmado com o e-mail em que o editor lhe anuncia que receberia o contrato para a publicação do livro sobre os impressionistas franceses. Nesse livro, ele reuniu ensaios que escreveu sobre Cézanne, Gauguin, Pissarro, Monet, Manet, o ambiente cultural na França fin-de-siècle e uma tradução de Albert Aurier, que escreveu a primeira crítica a Van Gogh, no mesmo ano em que o artista cometeu suicídio. Um livro, pois, sobre os recusados no Salão Oficial de Paris.

Um catálogo com a lista de artistas idiossincráticos que tiveram suas obras rejeitadas e posteriormente foram reconhecidos como gênios não é pequena. Quando se trata, porém, de um artista cuja obra significa a ponte entre dois momentos da história da arte, sua rejeição inicial e posterior revalorização precisam ser consideradas com vagar. Esse é o caso de Paul Cézanne (1839-1906). Como ele, Vincent Van Gogh e Paul Gauguin igualmente tiveram trajetórias artísticas erráticas, conflituosas, escolhas excêntricas e, em decorrência, se prestam a debates sobre o quanto traços de caráter e temperamento determinam a obra. Mas é Cézanne que, nas palavras do historiador Giulio Carlo Argan, em seu referencial Arte Moderna, “conclui a parábola do impressionismo e forma o tronco do qual nascem as grandes correntes da primeira metade do século XX”. Trecho do livro que se anuncia. Com esse livro, apesar da possível contrariedade do editor, acredita que exponha novas questões sobre o misterioso mundo da criação artística, sujeito a incompreensões, em que se pode por toda sorte de dúvidas, mas que aguarda o veredito da história como palavra final.

Antes de ir a Ilhabela, via-a como um ponto no mapa. Não tinha ideia de seu tamanho. Ou do quanto teria de circular para conhecê-la. Não que quisesse descortinar todos os pontos da ilha, pois ele está longe do espírito aventureiro em viagens, mas porque ao chegar a ela lhe surpreendeu o quanto era maior do que havia imaginado. Mesmo com carro, cruzá-la não era programa para um dia inteiro. Isso considerando que, até onde podia notar, pela conformação da topografia, só havia orla. Essa, sem que procurasse obter informações com guias turísticos, era o que se apresentava a ele como impressão imediata. Além da orla que a circula, por sua vez, cheia de reentrâncias, a mata atlântica praticamente intocável e aparentemente inacessível. Uma ilha bem recortada, com elevações acentuadas e, até onde pode perceber, sem lugar para praias. Não sabia, e continuou sem saber, se em algum ponto da ilha havia praia. Mas não estava ali para obter erudição sobre a geografia do lugar. No ponto em que estava, tinha a informação de existência de cachoeiras, de paradisíacas cachoeiras, ainda que estas não lhe despertassem a mínima curiosidade transcendental.

“Minha vida não cabe num Opala. Aqui continua chovendo. Mas, parece, hoje, o sol vai se abrir. Veremos. Agora vou tomar café”. Este é o último dia na pousada. Na manhã seguinte estaria de volta. Mesmo que chovesse, nesse último dia resolve visitar as famosas cachoeiras de Ilhabela. Procura, então, informações. Há uma próxima, Portinho, que vale uma visita; depois, no caminho, outra, Cachoeira da Toca. Faz tempo que não visita cachoeiras. Elas lhe trazem à memória quando era adolescente e a visita a cachoeiras lhe evocava um encontro fake com a natureza. Nisso, para ele, o bichogrilismo de que, adulto, procurava se esquivar. Se cachoeiras não lhe traziam boas lembranças, visitá-las era apenas um rito em sua estada em Ilhabela. Vê-las-ia apenas para notar que são o que são... Depois do tour pelas cachoeiras, com a noite fechada e sem lua, ele não consegue ver o mar. Nenhum sinal de que na frente dele há água. Escuridão total e sequer pode ouvir o murmurar das ondas na distância em que se encontra. Nisso, claro, não há novidade. Apenas, nele, o sentimento de medo frente à escuridão total. “Protegido aqui, retenho o que é um tanto assombroso. Imagino os navegantes antigos cruzando o mar tenebroso. Vejo, ao longe as luzes de uma embarcação. E com isso seus reflexos na água do mar. Escuridão total é como uma espécie de inexorabilidade existencial. Na escuridão do cosmos, a luz de uma potente estrela é uma insignificante fagulha".

Ilustração: Pousada – Franklin Valverde  
Atualizado em ( 07-Mai-2021 )
 
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