A cachorrinha Chiquinha |
Escrito por Umba Hum | |
14-Mai-2021 | |
Você disse que seu amigo tem uma cachorrinha chamada Chiquinha. Cachorrinha, Cachorrinha, Cachorrinha... uau, uau, uau... A cachorrinha latia quando ele chegava.
E seu amigo, como sempre, você disse, gostava de contar casos da Chiquinha toda vez que você se encontrava com ele. No dia-a-dia, às vezes, seu amigo trabalhava no bar do pai dele e ele ficava no balcão e também uns rapazes que dia sim e outro também ficavam no bar, jogavam sinuca, bebiam cerveja, mexiam com as minas que passavam na rua, falavam de futebol...; às vezes seu amigo se recolhia para afazeres diários da escola, ele que só ele ostentava livros nas horas em que não estava no bar no lugar em que morava e lia histórias de acontecimentos do passado; às vezes, se cansava ao cruzar a cidade: ônibus, ônibus + ônibus, ônibus + metrô + ônibus – alguma coisa como superar distâncias com e sem os pés. Já a Chiquinha no quintal ficava à sua espera. E ele, quando via você três ou quatro vezes por semana, você que estudava com ele na mesma escola, falava da Chiquinha.
”
Chiquinha, entrementes, não estava mais tão alegre; não balançava a cauda quando ele chegava no fundo do quintal e choramingava pra ele brincar, ããã... ããã... ããã; agora, depois de mais de mês convivendo com a ferida na cauda em estado putrefato, a Chiquinha vivia reclamando, uhm, uhm, uhm...; Chiquinha uivava de dor; Chiquinha não balançava a cauda como antes.
E a preocupação de seu amigo, você disse, foi aumentando porque para ajudar a Chiquinha, coisa que só ele podia fazer, ele tinha que deixar de lado a arrumação de todos os dias; que não era pouca, pois além de tudo seu amigo costumava cruzar a cidade para ler algumas historinhas de acontecimentos do passado.
“Caramba! Ela comeu o próprio rabo...”, exclamou assustado seu amigo. Chiquinha, alegre, como antes da ferida purulenta, parou de lamber o toco de cauda que restou e jogou as patas em seu amigo, como fazia antes da ferida que no início parecia uma berebinha que depois virou um carbúnculo hemático. Seu amigo então, depois do susto e incredulidade, pensou nos segredos insondáveis da vida animal. E você contou toda a história em momentos diferentes, sempre rindo do que os animais são capazes. E a cachorrinha Chiquinha, agora sem bom pedaço da cauda... E na verdade bem se poderia pensar que a Chiquinha bem sentia o momento, o exato momento, em que iria amputar a cauda por causa da pústula cada vez mais putrescível ou, se não fosse o caso, não amputá-la. Mas seu amigo, você dizia, e o médico e nós humanos, sempre imaginamos que os animais não sabem e precisam de remédio que nós humanos fabricamos e que não melhoraram o estado pustulento da cauda da Chiquinha. A cachorrinha Chiquinha, você disse que seu amigo disse, morreu anos depois, no alto de sua velhice canina, de morte outra estranha à pustulenta ferida que lhe custou pedaço da cauda. Ilustração: Chiquinha – Franklin Valverde |
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Atualizado em ( 14-Mai-2021 ) |
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