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Geração 68 volta às ruas PDF Imprimir E-mail
Escrito por Tato Vicente   
29-Jun-2021

brasil__poema_visual_de_franklin_valverde.jpgGERAÇÃO 68: “a imaginação no poder”, “sob o paralelepípedo, a praia”; “a vontade geral contra a vontade do general”. “Sejamos realistas, peçamos o impossível”, “faça amor, não faça a guerra”. É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte. Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Por que gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente! Laço firme, braço forte num reino que não tem rei. A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, no peito a saudade cativa, faz força pro tempo parar, mas eis que chega a roda-viva e...

 

Nasci em 60, sou da geração seguinte, mas sempre quis ter nascido 10 anos antes, ser um jovem adulto na explosão Beatles, na era dos festivais da Record, na revolução sexual, no flower power, na genialidade dos Cinemas Novos, em especial o concebido pelo mestre Nelson Pereira e pelo meteoro Glauber, ter visto no Maraca ou Pacaembu o Santos de Pelé e o Botafogo de Garrincha, na luta contra a criminosa ditadura civil-militar de 64. Muito provavelmente teria ido para a luta armada, não iria pro desbunde fumar maconha em Parati ou Búzios, mas não consigo me imaginar assassinado pela repressão antes de junho de 70 sem ter o enorme prazer de ver a obra-prima máxima que o futebol jamais produziu: a seleção das geniais feras do Saldanha, a gesta do futebol-arte arrebatando os corações e mentes do mundo.

Nos anos seguintes, a resistência manteve-se ativa, com todas as repressões, nas artes, em especial na música. Então, morto insepulto pelas mãos de Brilhante Ustra, Curió ou Fleury, também não teria o prazer de ouvir e ver: a mescla de rock/sons de Minas de Bituca e seus amigos do Clube da Esquina, o tapa na cara dos carolas golpistas dado pelos Secos e Molhados e Raulzito, o dueto sublime Tom & Elis, a soberba Elis no Falso Brilhante e Transversal do tempo, Ivan Lins saindo do autoexílio apoiado pelas belas e tocantes letras de Vitor Martins nos Somos todos iguais nesta noite, Nos dias de hoje e A noite. O gênio da raça Chico Buarque nos Meus Caros Amigos e Chico Buarque, Gil com a trilogia RE-Fazenda/Favela/Alce, mestre Paulinho da Viola na Dança da Solidão com Nervos de Aço, com o díptico Memórias chorando e Memórias cantando.

Acende a luz, fim da sessão, desperto e digo que minha geração foi calada pelos piores anos de chumbo, só renascemos no pontapé inicial das greves do ABC paulista lideradas por um tal de LULA em 79, crescemos na Democracia Corinthiana de 82 e nos formamos definitivamente na campanha das Diretas Já em 84/85.

A luta se faz contínua, e nos conclama em 2021, companheiros da geração de 78! Afinal, OS SONHOS NÃO ENVELHECEM e DESESPERAR JAMAIS. Pois neste outro novo tempo, apesar dos perigos, da força mais bruta, da noite que assusta, estamos em cena, na luta, nas ruas, quebrando as algemas, cantando nas praças, fazendo pirraça, RESISTINDO! Apesar de todos os castigos, de toda a injustiça, de todos os enganos, estamos mais atentos pra nos socorrer. Para que NOSSA ESPERANÇA seja mais que vingança, seja sempre um caminho que se deixa de herança.  Porque como diz o dito popular, cutucou por baixo, o de cima cai!

TODOS ÀS RUAS em 03 de julho!

P.S: a montagem de trechos das letras de canções emblemáticas do anos 60/70 não é plágio deliberado, mas minha humilde e sincera homenagem àqueles jovens músicos e letristas que orientaram a minha vida. As canções falaram por mim, não poderia elaborar algo à altura do talento que nelas viceja. Estendo essa homenagem a outros(as) jovens, aqueles  que construíram barricadas pelas ruas do mundo, com o desejo de assaltar os céus para mudá-lo para sempre.

Tato Vicente é jornalista, corinthiano de coração, buarquista convicto, lulista por opção, aposentado por mérito.

Ilustração: Brasil – poema visual de Franklin Valverde.

Atualizado em ( 29-Jun-2021 )
 
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