As antologias poéticas são interessantes pelo desafio enfrentado pelos antologistas: selecionar temas e poetas que representem uma variedade e unidade ao mesmo tempo. De origem grega, a palavra reúne anthos (flor) e logos (estudo): estudo das flores, na Botânica; coleção de flores escolhidas; florilégio; coleção de textos em prosa e/ou em verso, geralmente de autores consagrados, organizados segundo tema, época, autoria etc.; livro que contém essa coleção, conforme Dicionário Houaiss. Numa volta no tempo, encontramos as mesmas antologias com outros nomes: analecto, catalecto, coletânea, crestomatia, espicilégio, florilégio, pancárpia, parnaso, selecta.

Oito poetas brasileiras fazem parte desta antologia: Eliane Potiguara, Flora Figueiredo, Jaqueline Haywã, Lilian Rocha, Marcia Kambeba, Maria Valéria Rezende, Paula Valéria Andrade e Terezinha Malaquias. De outros países há mais oito poetas: inglês (Inglaterra): Freda McEwen e Olivia Joseph Aluko; inglês (Austrália): Mimi Emmanuel; inglês (Nigéria): Esther Samson, Francisca Armon|, Ify Omeni, Sophie Jolaosho e Toyin Ogunmade.

A capa oferece a primeira leitura e um convite: sob fundo lilás e fotos em preto e branco, inclusive da imagem de uma escultura sem traços definidos (olhos, nariz, boca), o contraste em lilás e tons de cinza é uma síntese que se completa com o título: oito poetas em duas línguas, ou seja, “feminino infinito”, a valorização do sexo feminino e da diversidade da raça brasileira: pretas, pardas e índias. A seleção de oito poetas brasileiras + oito poetas estrangeiras do sexo feminino é, sem dúvida, a analogia com o infinito, símbolo matemático – ∞ -, e a relação com o feminino.

À direita das fotos das quinze poetas, está a Vênus de Brassempouy, a imagem mais antiga (cerca de 29 000 anos), a mulher-origem do conceito infinito de mulher. Em troca de ideias sobre a construção da capa, Paula Valéria Andrade me disse via WhatsApp em 24.09.2024: “A ideia é a imagem da mulher antes do conceito de racialidade, algo bem antropológico mesmo”. (…) É uma integração de todas as mulheres, todas as raças num símbolo – escultura – universal”.

Paula Valéria Andrade, no prefácio do livro, afirma: “A proposta do livro bilingue do Coletivo Feminino Infinito, é o registro do trabalho de intercâmbio literário e poético realizado com textos originais de 16 poetas convidadas de Língua Portuguesa do Brasil, e de Língua Inglesa nos países: Nigéria, Reino Unido e Austrália”.

Merece destaque no projeto da antologia a apresentação de poemas curtos, em que as palavras, manchas gráficas nas folhas de papel em branco, em caracteres bem legíveis, oferecem uma leitura rápida, mas ao mesmo tempo com forte carga emotiva, resultado de um trabalho bem elaborado com a palavras.

A tradução para o inglês contém a mesma síntese criativa dos textos em português.

Eis alguns exemplos:

VIAGEM

Não são Américas!

São Terras Sangrentas de meu coração

Eliane Potiguara (Rio de Janeiro, Brasil)

 

TRIP

These are not the Americas!

They are the Bloody Lands of my heart.

Eliane Potiguara

 

IMIGRANTE

Abraçam-se despedidas.

Lenços molhados acenam na partida.

Gaivotas traçam rotas com retas de nunca mais.

À beira do cais, os amores temem naufragar.

O que dói no adeus não é partir.

O que mata no adeus é não voltar.

Flora Figueiredo (Rio de Janeiro)

 

Happiness

In my search for happiness

Going round and round

 

Wanting more of it

not less

 

I discovered that,

once found,

 

The only way

to make it stay

was by giving it away

 

The more I gave,

the more it grew

 

The simplest formula,

I ever knew.

Mimi Emmanuel (Queesland, Australia)

 

Felicidade

Minha busca da felicidade

Dá voltas e voltas

 

Querendo mais disso,

não menos.

 

Eu descobri então,

uma vez encontrada

 

O único jeito de fazê-la ficar,

É deixando-a ir.

 

Quanto mais me doei,

mais eu me desenvolvi.

 

A fórmula mais simples,

Eu já sabia

Mimi Emmanuel

 

As esculturas que encabeçam a parte estrangeira da antologia oferecem leituras de uma arte antiga, cujo exemplo pode ser a Venus de Laussel (Andrade, 2024 – pp. 35/6).

Nesse jogo semântico de imagens e palavras, a arte da palavra nos oferece, desde a capa, o feminino e o infinito, matriz da formação humana pela busca do amor e da luta por direitos humanos e igualdade, tudo isso representado no eu-poético das dezesseis mulheres que compõem a antologia.

 

ANDRADE, Paula Valéria (Ed.). 16 Poet(as) = 8 + 8 feminino infinito. São Paulo: SPVI Books, 2004. Edição bilíngue. 146p.