Assim pensou. Sobre o uso das palavras. No natural e insuspeito cacarejar do dia a dia, muitas vezes, grande parte das vezes, não dizem nada além de estultícias e, na mesma proporção, dizem muito mais do que aparentemente diriam entre tantas estultícias; muitas vezes, no entanto, a extrema objetividade no cacarejar diário é coberta por enigmáticos significados.

Assim conjecturou, com trejeitos desatentos, despretensiosos. “Numa cerimônia protocolar, uma pausa inesperada na fala (na escrita, reticência…) e pululam indícios, suspeitas, juízos de valor, condenações, quando sequer uma palavra é dita, quando tão só é sugerida; não há nada de anormal, por suposto, numa decisão entre condôminos, alguém inopinadamente propor uma piscina vermelha, pois o vermelho não é senão uma escolha perfeitamente objetiva entre as cores do espectro”.

 

Ilustração: Boca-palavra – Franklin Valverde