O músico panamenho Edwin Pitre é um dos maiores especialistas em salsa no Brasil. Além de um maestro competente, Pitre é um pesquisador da música latino-americana e brasileira, tendo se doutorado recentemente na Escola de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Nesta conversa no Papo 10 ele fala sobre a sua chegada ao Brasil, a sua relação com a música brasileira, o seu conterrâneo Rubén Blades e sobre a sua musicalidade. Aliás, quem quiser conferir o talento de Edwin Pitre está convidado a visitar o Sesc Vila Marina, às 16h30, no dia 02 de outubro, e assistir um show no qual faz a fusão de salsa com samba, merengue, candombe, son cubano, cha-cha-chá, latin-bossa nova e samba-rock. Na oportunidade será acompanhado pelos músicos Daniel Grajew (piano), André Juarez (vibrafone), Daniela Aquino (percussão) e Chocolate (percussão).
1-O que fez um panamenho como você fixar residência no Brasil?
EDWIN PITRE – Originalmente vim ao Rio de Janeiro para estudar no curso de música na Escola Nacional de Música, da UFRJ, obtendo o titulo de Regência no ano de 1983.
2-Há quanto tempo você está no Brasil?
EDWIN PITRE – No total há 30 anos.
3-Na sua opinião o que a música brasileira tem de melhor?
EDWIN PITRE – A música brasileira possui sedução melódica, harmônica, timbrica e rítmica. Com essa combinação étnica que tem o país, o brasileiro encontrou sonoridades próprias que vem da flora, fauna, figuras míticas, da religiosidade, do vento, dos rios, do mar, da chuva… tudo isso para criar essa sedução sonora. Veja a música do Caymmi, grande mestre, Ivan Lins, do Mestre Salustiano (q.e.p.d.) [Nota da redação: (q.e.p.d) significa, em espanhol, “que em paz descanse”] e outros em tantas épocas.
4-O seu conterrâneo Rubén Blades é um dos maiores salseiros do mundo. Na sua opinião, qual é a melhor contribuição de Blades para a música?
EDWIN PITRE – Sim, Rubén é o cara… Veja, o Panamá esta vivendo uma nova época desde 2000, com a entrega do Canal do Panamá pelos norte-americanos para controle panamenho. Isto implica em uma oportunidade para que nós panamenhos possamos delinear o futuro do país. Rubén sempre tem sido um homem de militância artística e política. Creio que a partir do convite do atual presidente Martin Torrijos, ele decidiu fazer parte desse processo como Ministro de Turismo, conseguindo muita coisa pois se dedica ao cargo, tanto que sua atividade artística diminuiu muito. Porém, como músico, sinto falta de sua produção artística, sempre antenado com tudo o que acontece no planeta.
5-E como ator, o que você acha dele?
EDWIN PITRE – Acho um bom ator, eu falo que é um homem MULTIMÍDIA (risos)… Se tem competência deve continuar, creio que tem (risos)…
6-E como político, já que chegou a ser candidato a presidente do Panamá?
EDWIN PITRE – Sim, foi candidato a presidente e criou um partido chamado PAPA EGORO (Madre Patria) na língua indígena panamenha. Chegou em segundo lugar, fez uma campanha bem bonita.
7-Muitos dizem que Nova York é a capital mundial da salsa. Você concorda com essa afirmação?
EDWIN PITRE – Durante os anos 70 e 80 foi, eu diria que hoje a capital da salsa está distribuída em vários países.
8-Além de músico você é um estudioso da música. Como andam os seus estudos musicais?
EDWIN PITRE – Bom, sempre tive junto à prática artística um pé na academia. Gosto de pesquisar, de escrever, dar aula, palestras etc. Como falei anteriormente, vim para o Brasil para estudar na UFRJ. Após alguns anos no mercado musical carioca,cheguei a São Paulo em 1991 e, em 95, entrei na USP para fazer meu Mestrado. Depois trabalhei na gravadora Velas, com Vitor Martins, onde realizei vários trabalhos com Cuba, México, Venezuela, Panamá e Miami (EUA). Em 2004 entrei novamente na universidade para fazer o Doutorado na ECA-USP. Atualmente preparo o meu segundo CD autoral e o projeto para o pós-doutorado. Sempre trabalho com música latino-americana, tanto na academia como na vida artística, acredito nessa área da criação e produção simbólica.
9-Como é feito o diálogo entre a música brasileira e a música panamenha e caribenha?
EDWIN PITRE – As duas têm muitas coisas em comum, as duas têm humor, acho que é um elemento fundamental para expressão da alma do povo. Pela formação étnica têm muitas semelhanças, foram nações indígenas, povos ibéricos e etnias africanas, sendo que depois também chegaram chineses, japoneses, coreanos, árabes, judeus e outros europeus. A diferença está em como foi feita essa dosagem no caldeirão cultural. Isto produziu as características que temos hoje.
10-E o músico Edwin Pitre o que anda fazendo? Vem algum CD por aí?
EDWIN PITRE – Lancei um CD no ano passado no SESC INSTRUMENTAL BRASIL, além de um DVD do mesmo show. Também no ano de 2003 fui, junto com a Miriam Mirah e o Lula Barbosa, ao Festival Internacional da Canção no Panamá, representando o Brasil. Miriam e Lula cantando e eu dirigindo a Orquestra do Festival. Quem quiser pode conferir no http://www.youtube.com/ a música “América morena”: http://www.youtube.com/watch?v=8VaDa5Zk_-g .