4 de maio de 2024, dia histórico para o Brasil e para os brasileiros

 

A praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, foi o local escolhido para que Madonna, em celebração aos seus mais de 40 anos de carreira, fizesse o último show de sua turnê intitulada The Celebration Tour.

As primeiras notícias a respeito de um show gratuito na cidade maravilhosa começaram a surgir com cara de boato, então foram se intensificando os rumores até que veio a confirmação de que o show de fato se realizaria.

Seria exaustivo e desnecessário ficar aqui descrevendo a apresentação cena a cena. Mas é importante registrar o quão icônica ela é: um show de uma mulher já bem passada dos sessenta anos esbanjando vigor, talento e disposição, sambando na cara dos etaristas e machistas de plantão. Afinal, são várias as entrevistas feitas à rainha do pop em que esses assuntos são trazidos à tona – porém ninguém questiona um homem da mesma idade fazendo shows nem muito menos acha inadequado se ele traz referências sexuais em seus gestos, falas e músicas. Na mente de muitos, o homem ainda é aquele único que tudo pode.

Gostemos ou não de Madonna, Anitta ou Pabllo Vittar musicalmente, todos temos de reconhecer que o show foi muito bem ensaiado, repleto de tecnologia e forte entrosamento. Entram para os anais do show business nacional Anitta e Madonna atribuindo notas aos “dotes” dos bailarinos, Pabllo Vittar simulando sexo oral em Madonna enquanto todos “davam o nome” * cantando e dançando Music, hit do ano 2000, uma das canções mais conhecidas do álbum homônimo.

Imaginem o que uma menina da periferia do Rio de Janeiro e uma artista gay e drag queen lá do interior do Maranhão representam por terem vencido tudo o que tiveram de superar para estarem hoje no palco da artista mais famosa do mundo? Mesmo quem não gosta de suas músicas precisa entender que isso significa muito para elas, e elas significam muito para a construção de uma sociedade mais inclusiva e menos preconceituosa.

O artista Bob the Drag, como uma espécie de mestre de cerimônias, foi outro grande acerto do show. Talentoso e divertido, entreteve o público em diversos momentos, especialmente durante as trocas de figurino da rainha Madonna, em uma Copacabana repleta de luzes e euforia.

Kenya Sade e Marcos Mion foram outras duas boas escolhas para a apresentação do show na transmissão pela Rede Globo. Kenya apresenta bem, é uma excelente jornalista, entende de música, se expressa com precisão e muita simpatia.

No caso de Mion, ele tem mais tempo de estrada, é habilidoso com as palavras e nos deixa sempre com um gostinho de saudade dos bons tempos da velha MTV – aquela MTV que morreu em 2013, antes de se tornar o que é agora: um canal que bota gente numa ilha e faz ex-namorados saírem de dentro do mar no que parece um looping infindável de “De Férias com o Ex” na programação.

A noite de 4 de maio entrará para a história como um dos momentos icônicos da música mundial. 4 de maio foi a noite em que presenciamos diante de nós uma mulher que não se deixa intimidar pelo tempo nem pela caretice, uma cidadã que chora por aqueles que faleceram em decorrência da Aids, uma mãe que engaja os filhos em seu trabalho (quatro dos seis filhos de Madonna atuaram com ela em diferentes momentos da apresentação, todos com muita competência e talento – Mercy James tocando piano durante a música Bad Girl me emocionou especialmente).

A última parte do concerto deu início a uma homenagem da diva do pop ao amigo Michael Jackson, outro ícone mundial da música, falecido em 2009. As silhuetas dos dois foram projetadas em telões enquanto algumas fotos suas iam sendo exibidas. As sombras da dupla dançavam juntas ao som de uma versão que juntou Billie Jean, sucesso de Michael, e Like a Virgin, hit da diva-mor lançado em 1984. Teve um pouquinho de playback? Teve! Algumas desafinadinhas? Também! Mas, quando o assunto é Madonna, quem liga?

Que noite, senhores, que noite! Até o clima ajudou e o calor diurno arrefeceu na hora do show, iniciado por volta das 22h30. Além de tudo, ao usar as cores e a bandeira do Brasil diversas vezes ao longo da noite, de quebra Madonna nos restituiu, mesmo que involuntariamente, o orgulho e a vontade de usar o verde-amarelo sem que sejamos confundidos com os preconceituosos e sectários que muito indevidamente nos últimos anos se fizeram donos de um símbolo nacional que é de todos. Viva Madonna, viva o Rio, viva o Brasil!

 

* gíria usual nos meios esportivo e artístico que significa “ter um excelente desempenho”; por exemplo, “ele foi jogar vôlei ontem e deu o nome na quadra”, ou seja, “ele foi jogar vôlei ontem e teve um excelente desempenho na quadra”.

 

FOTO: reprodução de tela de tevê; Madonna no show de Copacabana.