Lê Jó e reflete: “Como a Bíblia desafia; como dela extrai-se tanto sobre nossa pequeneza; como dela, frente a Deus, somos uma fagulha insignificante na ordem do mundo; uma caprichosa aposta entre Deus e o diabo: maldito o dia em que nasci”. Como não refletir sobre o sentido dessa sentença que Jó profere diante dos infortúnios por que passa? Como fingir não ter lido que a Bíblia mostra a mais profunda crueldade do povo eleito? Povo que, impulsionado por Deus, submete inimigos a uma violência que o deixa atordoado. “Todos passam pelo fio da espada. Homens, mulheres, crianças. Não ficou ninguém vivo”.
Inconveniente, digo-lhe: “tente catalogar – e encontrar o número cabalístico – quantas vezes essa passagem se repete em Josué; só em Josué”. Desconfiado, pouco à vontade, ele parece não entende, não quer entender, e murmura: “Gregório Magno, carta dedicada a Leandro de Sevilha, Moralia in Job, o manuscrito pode ser encontrado na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa”. Não respondo à arrevesada indicação: “Como podem, o Tanakh e o Antigo Testamento, ser o mesmo livro e livros tão diferentes?”, tentei, em vão, obter resposta.