Se tivéssemos que escolher uma palavra para definir a arte do cantor chileno Pedro La Colina, versatilidade seria a mais indicada. Pedro La Colina não é só vocalista do Raíces de América, um dos principais grupos de música latina do Brasil, mas também bandleader das bandas Cañaveral, dedicada à salsa; Oficina Latina, especializada em pop latino; das jazzísticas Wanamuziki e Jazz Obsession e da roqueira The Jokers. Neste Papo 10 ele mostra essas várias facetas da sua carreira artística, nos fala sobre o movimento Nueva Canción Chilena e sobre o que é ser músico latino no Brasil de hoje. Faz também uma crítica ao estilo reggaetón e apresenta seu mais novo projeto, o Gafieira Latina, em parceria com a cantora Maria Alcina. Confira a entrevista exclusiva feita com Pedro La Colina.
1- Por que você trocou o Chile pelo Brasil?
Quando vim para o Brasil foi para conhecer e ver no que iria dar. Tinha pensado ficar por um curto tempo, mas acabei me apaixonando por esta terra mágica e hoje me sinto tanto ou mais brasileiro que muitos. Primeiro porque quem nasceu aqui, foi por acaso e eu sou brasileiro por escolha, por amor.
2- Como foi sua entrada no Raíces de América?
Conheci o Willy Verdaguer (bandleader) numa outra banda. Após um tempo trabalhando juntos, ele me fez o convite para entrar no Raíces. O curioso dessa historia é que um bom tempo antes disso fui assistir um show do Raíces de América no Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro, e fiquei muito impressionado com o trabalho deles. Após o show fiquei com uma ideia fixa na cabeça: “um dia vou ser o cantor dessa banda”. A vida se encarregou de me aproximar deles e hoje me sinto um felizardo, uma pessoa tocada por Deus, pois nunca fiz o menor esforço por um contato com o grupo, o convite chegou sozinho.
3- O Raíces de América, no seu início, teve um grande vocalista, o cantor Tony Osanah. Como é para você ser o seu substituto?
Uma responsabilidade enorme devido ao tremendo talento desse monstro dos palcos. Mas depois de tê-lo conhecido pessoalmente, de ter recebido o carinho e respeito dele, me sinto muito honrado de estar no seu lugar. E digo seu lugar, pois sinto que pela história dele no grupo ele vai permanecer para sempre no coração de todos os integrantes do grupo e também do público, o Tony é o cara!
4- Na sua opinião, qual foi a maior contribuição da Nueva Canción Chilena para a música da América Latina?
Penso que a maior contribuição é algo que vai além da música: foi a poesia melódica que esses gênios criaram naquele tempo. Desde a família Parra até Tito Fernández, “El Temucano”, passando por gênios como Patricio Manns e sem deixar de considerar grupos talentosos como Quilapayún e Inti Illimani. Todos deixaram sua marca e sua poesia para os artistas e grupos que seguiram seu legado e até hoje se alimentam musicalmente deles.
5- Você também é o bandleader da Cañaveral, uma banda de salsa. Como é conciliar o trabalho da Cañaveral com o Raíces de América, dois estilos tão diferentes?
Sou bandleader da Cañaveral (salsa), da Oficina Latina (pop latino), da Wanamuziki (latin jazz), da Jazz Obsession (jazz), da Gafieira Latina (junto com Maria Alcina) e da The Jokers (rock & pop internacional). Na verdade isso não é nada demais, pois amo o que eu faço e nunca me canso. Quanto mais canto, melhor e mais realizado me sinto, sou um camaleão da música e não somente um cantor de salsa ou de música latina como muitos pensam. Hoje em dia tem que ser versátil, pois o mercado é muito exigente. Mas isso também causa um certo preconceito, que tenho que enfrentar em muitos lugares, pois o cantor sempre é visto com essa falsa limitação. Os instrumentistas, ao contrário dos vocalistas, a cada noite tocam em bandas diferentes. Por exemplo, um guitarrista pode tocar numa noite forró, na noite seguinte está tocando numa banda de rock, na outra jazz e ninguém questiona nada. Tenho que lutar constantemente contra esse preconceito, pois já fui tentar vender meu show de jazz, por exemplo, numa casa do gênero e o dono me disse: “Pedro, você é cantor de salsa, como vai querer cantar jazz?”.
6- Você concorda com quem diz que hoje a salsa é o principal ritmo latino sendo divulgado no Brasil?
Não concordo. Hoje em dia se dá preferência aos ritmos mais comerciais e com mais apelo sexual, como o reggaetón. A cada dia a música de verdade perde espaço para aquilo que não presta, aquilo que não é preciso ter talento nem conhecimentos musicais profundos para se tocar.
7- O espaço para a música latina é melhor hoje ou quando você chegou ao Brasil?
Sem sombra de dúvidas, hoje a música latina tem muito mais espaço. Quando comecei, cantava em casas vazias ou com duas ou três mesas ocupadas. Hoje faço shows com casa lotada e fila na porta até de madrugada.
8- O que é ser um músico latino no Brasil de hoje?
Ser músico já é uma dádiva de Deus, músico latino é mais dádiva ainda, pois faço o que poucos conseguem fazer e tenho a honra de trabalhar com profissionais muito talentosos, que têm um profundo respeito pela salsa e a tocam como manda o figurino. Temos vários grupos aqui no Brasil que se dizem de salsa, mas na verdade fazem alguma coisa parecida. A salsa, como todo ritmo, tem uma estrutura musical e é preciso respeitar isso, tocando como manda a tradição. De qualquer outra maneira não é salsa, é quase isso.
9- Você também é locutor. Como andam os seus trabalhos de locução?
Muito bem, a minha voz aparece em vários comerciais em muitos países da América Latina e alguns até no Brasil. Adoro trabalhar em estúdio também e trabalhar com produtoras de áudio é um grande prazer. O ambiente que se vive nas gravações é único, todo mundo a fim de fazer o melhor
10- Quais são os seus novos projetos?
O meu mais novo projeto se chama “Gafieira Latina” e é uma união da salsa com o samba. Fazemos dois shows no mesmo palco, pois tenho a incomparável Maria Alcina ao meu lado, cantando seus sucessos com novos arranjos e também cantando salsa com temas muito fortes de divas da música latina como Celia Cruz e Gloria Estefan, entre outras.