A dupla Jica y Turcão é uma das melhores sínteses de como aliar bom humor e boa música. Saídos do grupo Tarancón no início dos anos noventa, a parceria criou um estilo bastante original, auto-intitulado música “afrocaribeñalatino caipirabrasileira”. A tradução dessa imensa palavra-valise pode ser feita da seguinte forma: é “afro” na percussão realizada por Jica; é também “caribenha” pela força salseira do ritmo de suas músicas; há uma “latinidade”, reflexo da passagem de ambos pelo Tarancón. É “caipira” pelo pontilhado das cordas do Turcão, além de “brasileira” na riqueza melódica e, principalmente, no humor presente nas letras de suas músicas e nos divertidos esquetes feitos pela dupla Jica y Turcão em seus shows. Confira o agradável bate-papo feito com os dois.
1 – Vocês iniciaram a carreira no Tarancón, principal grupo de música latino-americana do Brasil nos anos setenta do século passado. Por que saíram do grupo?
Jica – Simplesmente não estava contente com o rumo da banda e resolvi saltar do barco andando…
Turcão – Comecei minha carreira musical com o grupo Macuco (vocal MPB). Entrei no Tarancón porque queria conhecer o mundo, viajar, conhecer pessoas, fazer novas amizades, ficar por dentro de tudo o que rolava de música latino-americana e me aprofundar nos ritmos latinos e caribeños. Saí do Tarancón porque queria conhecer o mundo, viajar, conhecer pessoas, fazer novas amizades, ficar por dentro de tudo o que rolava de música latino-americana e me aprofundar nos ritmos latinos e caribeños.
2 – Jica, você de vez em quando participa de alguns shows com o Tarancón. É pura saudade?
Jica – Gosto do trabalho. Ainda me alegra e me contagia, mas não tenho saudade!
3 – No CD “Música de Relaxo” vocês gravaram várias marchinhas de Carnaval. Quando vem um CD da dupla só com músicas de Carvanal? Há público para isso?
Jica – Sinceramente não sei. Prefiro, agora, fazer um disco de rock à nossa maneira, com bumbo, violão, cacarecos e bom humor. Sem ligar para o “mercado”. Só na maluquice.
Turcão – Eu acredito que sempre existirão os amantes das marchinhas e, se a gente se aventurar nessa empreitada, as pessoas vão curtir o raro prazer. Ficaremos ricos (de satisfação).
4 – Turcão, além de ser 50% da dupla J y T, você é produtor. O que você está produzindo no momento?
Turcão – Terminei de produzir, dirigir e arranjar o CD Cine Mazzaropi do cantador e compositor Zé Paulo Medeiros. Também estou trabalhando em mais cinco produções: Noel de Medeiros Rosa (Zé Paulo Medeiros), Cantigas do Mar de João Bá (Victor Batista), Casulo (Zé Paulo Medeiros), Roquenrou Vagal (Jica y Turcão) e Lanternas de São João (Festa Joanina da Escola Waldorf).
5 – Jica, você também é empresário, dono do selo Radiolabomba. Como anda o casting de sua gravadora? Não vale dizer que é de ônibus ou metrô.
Jica –Tínhamos, o Fernando Lopes – meu sócio no prejuízo – e eu, um plano de trabalho para o Selo. A curto prazo não deu certo. O primeiro CD do Trio Boa Vista teve até boas resenhas de jornal, mas empacou nas vendas. Talvez mais para adiante a gente consiga retomar a brincadeira, mas sem reclamações. Enquanto for divertido, apostaremos e, afinal de contas, estamos devendo um disco para o pianista e arranjador Jayme Lessa. Quem sabe?
6 – Vocês mesmo produzem, editam, distribuem e vendem os CDs da dupla. É um bom negócio eliminar os intermediários, leia-se, uma gravadora multinacional, distribuidores, lojas etc.?
Jica – Sim, é um bom negócio! Nesse momento onde ninguém, dentro da indústria musical, sabe para onde deve correr, é importante ser senhor de seu próprio trabalho e arriscar conforme seu próprio interesse. Quem sabe até tentar parcerias…
Turcão – Participamos de Festivais em consequência dos CDs da dupla estarem rodando com uma boa velocidade. Podemos citar, como exemplo, o Festival de Inverno de Bonito (MS), Festival de Inverno de Campos do Jordão (SP), Festival América do Sul, em Corumbá (MS), Festival das Três Fronteiras, Brasil, Paraguai e Argentina, entre outros.
7-Em seus shows vocês trabalham suas músicas com muito humor, fazendo até alguns esquetes. É fácil viver de humor no Brasil?
Jica – Difícil não é viver de humor, é sobreviver dele! Mas vamos indo honrosamente bem, fazendo o que queremos, sem conceder. Claro que pagamos um preço, mas, e daí? Nada se compara àquela gargalhada que arrancamos das pessoas como quem não quer nada!
Turcão – Pelo fato de a dupla ter uma produção simples e barata, é fácil colocar shows que cumpram a função de entretenimento e diversão pública, num teatro, em confraternização de empresas, mesmo sendo em outras praças e estados. Não somos humoristas. Somos músicos que utilizamos a música para nos divertirmos e divertir as pessoas.
8 – Turcão, você já fez trabalhos voltados para o público infantil, como “Magitule”. Você continua realizando trabalhos do gênero?
Turcão – Eu percebi que nós brasileiros, em geral, não fomos educados para apreciar ópera por não fazer parte da nossa cultura, e não haver incentivo para que seja incluída em roteiros de pesquisa. Criei a Ópera Lúdica, que aproxima a criança do universo operístico como se fosse uma grande brincadeira. Contamos, ou melhor, cantamos uma história para 200 crianças, depois elas vão para as oficinas onde aprendem a confeccionar o cenário, os figurinos, aprendem também as coreografias e a cantar as músicas que geralmente são paródias de grandes obras como “Carmem”, “Aída”, “O Barbeiro de Sevilha” e outras obras.
9 – Qual será o próximo CD da dupla Jica y Turcão?
Jica – Torço por um CD de rock básico e anárquico!
Turcão – ROQUENROUBRAZUCAMUITOLOCOMALUCOBABANOVAGABUNDO. A molecada vai gostar e nós também.
10 – Vocês estão há mais de trinta anos juntos – musicalmente falando, é claro -, qual é o segredo dessa união tão duradoura?
Jica – Ausência de sexo! Em sério: respeito e admiro muito o senhor Sérgio Féres. É um grande músico. A gente ri muito enquanto trabalha, ele dirige bem e tem uma frota de Belinas. Que mais podemos querer um companheiro de trabalho?
Turcão – O sexo vem com o tempo. Acho que ele só está interessado nas minhas Belinas. A gente tem uma fórmula rítmica adaptada para dois músicos que supre a necessidade de grandes bandas.