Temos aqui uma homenagem ao pintor Almeida Júnior, autor de importantes telas como A Partida da Monção, Caipira Picando Fumo; Descanso do modelo, O Derrubador Brasileiro e Saudade. No dia 8 de maio comemora-se o Dia do Artista Plástico, data de nascimento de Almeida Júnior.
O artista é homenageado em textos da professora Marly Solanowski e do professor Jorge Luiz Antônio.

O grande artista brasileiro que deixou Saudade

Marly Solanowski[1]

Uma saudade permanente que permite revisitar a excelência de uma obra cujo autor é sempre relembrado, seja pelos observadores que fruem de suas telas, seja por estudos e pesquisas pelos críticos de arte no que resultou em justa homenagem, onde a data de nascimento de Almeida Jr., em 8 de maio de 1850, é atualmente comemorada como o Dia do Artista Plástico.

José Ferraz de Almeida Jr., mais conhecido como Almeida Jr., propicia com a qualidade e quantidade de suas telas, as mais diversas classificações, análises e avaliações  presentes no campo das artes. Suas pinturas e desenhos atravessam os séculos, possibilitando a fruição dessa arte cuja produção é interrompida em 1899, quando do assassinato do artista aos 49 anos e no auge de sua carreira.

O fluir da vida participante nas artes plásticas e sempre presente nas pinturas de Almeida Jr, produz ao longo dos tempos diversos olhares e interpretações suscitados pela diversidade dos temas, sua composição e por variadas técnicas de pintura, partes integrantes de suas telas.  Há comprovação disso por extensa bibliografia que se inicia com as primeiras obras do artista continuando até chegar na internet. Originam-se daí diversas  classificações no campo das artes onde se analisa  grande parte de um conjunto de obras.

A polisemia visual criada pelo talento do artista em suas telas permite permanentemente novas interpretações, olhares renovados e atualizados, interligando obra e observador, o que mantém a perenidade dessa produção artística.

Com permanente admiração pela obra de Almeida Jr., fruto de antiga pesquisa a ser atualizada[2], relembro na mente a tela Saudade, datada de 1899, ano em que é interrompida a carreira artística de Almeida Jr. Essa tela faz parte da coleção da Pinacoteca de São Paulo.

Na composição dessa bela obra temos um ambiente rústico, com uma figura de mulher vestida em negro, antigo símbolo de luto. Em uma das mãos segura uma carta ou mesmo uma foto. Essa figura feminina tem os traços de Maria Laura, modelo favorito do pintor e paixão de Almeida Jr., o que possibilita a junção de vida e obra.  No rosto da modelo há um choro contido, uma saudade daquilo que se foi produzida por uma leitura ou visualização da foto, que se alia a um chapéu masculino dependurado existente na tela indicando ausência. Seria uma carta de amor que deixou saudade?  Ou uma despedida do artista prenunciando sua morte transformada na pintura em saudade?

 

8 de maio, Dia do Artista Plástico

Jorge Luiz Antonio[3]

Passado e presente se misturaram quando a Profa. Marly Solanowski sugeriu fazer uma pequena homenagem ao artista Almeida Júnior no dia do aniversário de seu nascimento. De forma original, o tributo faz lembrar o tema principal e uma de suas últimas telas: Saudade (foto ao lado). E é essa a saudade que temos: a pesquisa importante que ela fez sobre o pintor para o MEC Funarte e o nosso encontro, exatamente quando também fazia pequenos estudos sobre o Almeida Júnior para um concurso de monografias.

Nossas ideias acompanham o que temos em nossas bibliotecas físicas e digitais e são modificadas pelas redes sociais que fazem parte do nosso contato: e-mail, WhatsApp e outros. As estantes nos mostram o que temos e as pastas digitais crescem em proporção semelhante. Os temas vão e voltam, não apenas na memória, mas nos convites que surgem.

 

 

Qual a principal contribuição do artista ituano à cultura brasileira?

A primeira pesquisa sistemática nos primeiros tempos de faculdade foi sobre a vida e a obra de Almeida Júnior (1850-1899)[4]. Tudo começou com uma pesquisa para um concurso de monografias, organizado pela Fundação Ubaldino do Amaral (Sorocaba) e Prefeitura da Estância Turística de Itu. Foram anos coletando e organizando dados.

Ao pesquisar jornais, periódicos e livros do século XIX, a crítica artística considerava mais importante a sua obra acadêmica, como o Derrubador Brasileiro (1879) do que Caipira Picando Fumo (1893), mas a permanência e importância dele na arte visual brasileira será o registro da vida do caipira paulista, que vai influenciar outros artistas e escritores, como Monteiro Lobato (1882-1948), Amacio Mazzaropi (1912-1981), e muitos pintores, como o seu próprio filho, Mario Ybarra de Almeida (1893-1952).

 Saudade (1899) reúne o simbólico da recordação no realismo pictórico que caracteriza a obra inovadora do pintor da cena caipira paulista: uma mulher do povo, numa casa simples, olha tristemente para uma foto. A obra, considerada a sua última pintura, anuncia outros desenvolvimentos do tema caipira e pode, como disseram alguns críticos, ser considerada como o prenúncio de sua morte.

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[1] Professora universitária, licenciatura plena pela Faculdade de Educação da USP e graduação em Letras pela USP, mestra e doutoranda com conclusão curricular em Ciências Sociais na Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde foi diretora e membro do Conselho Superior de 1987 a 1998, atualmente atuando como consultora educacional para indivíduos e grupos e afiliada e participante de reuniões virtuais da rede de Cibernética Social Proporcionalista Internacional de 1978 até hoje. E-mail: solmarly1@gmail.com .

[2] SOLANOWSKI, Marly. Almeida Jr.: um esboço biográfico-iconográfico. Rio de Janeiro, Instituto de artes Plásticas, FUNARTE, MEC, 1977. Datilografado inédito.

[3] Professor universitário, escritor e pesquisador, autor de Almeida Júnior através dos tempos (1983).  E-mail: jlantonio@uol.com.br

[4] ANTONIO, Jorge Luiz. Almeida Júnior através dos tempos. São Paulo: Secretaria de Estado dos Negócios da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia de São Paulo; Itu, SP: 1983.

Crédito  de reprodução das fotos:

Fotografia de Almeida Júnior, reprodução, in MARCONDES, Marcos Antônio (Ed.). Almeida Júnior: vida e obra. São Paulo: Art Editora, 1979, p. 6.

Reprodução da tela Saudade (1899), de Almeida Júnior – Óleo sobre tela – 1,95m X 0,98m – Pinacoteca do Estado de São Paulo.