el_toro_-_franklin_valverde.jpgSei que é tradição na Espanha. Respeito tradições, embora não concorde com todas e nem sequer goste de muitas delas – tradições são bonitas, mas de certa forma subjugam, paralisam, engessam – impressão pessoal minha; torta, talvez. Também sei que as touradas já inspiraram Goya e Hemingway, dois mestres que admiro nas artes – pintura e literatura. Mas quando estive na bela Espanha, ignorei solenemente as touradas, não lembrei que existiam. Nem ao menos tirei fotos, ao melhor estilo turistão, das arenas que, arquitetonicamente, são belíssimas. Na verdade, não tenho nenhuma curiosidade de assistir a um desses espetáculos – se é que as touradas podem ser chamadas assim, de “espetáculo”. O pouco que vi pela tevê, atos reles e vis, já me embrulhou o estômago e, confesso sem constrangimento, me fez chorar e até perder o apetite – fato raro, este último.

Respeito as opiniões contrárias, em defesa das touradas que atraem turistas, geram empregos, movimentam a economia. Vivam a democracia e o livre pensamento! – embora ninguém tenha perguntado aos pobres touros o que eles acham de tudo isso. No entanto, não compreendo como alguém se diverte assistindo a um sofrimento tolo, puro e simples.

Penso que as touradas, assim como as rinhas, a farra do boi, a Fiesta de San Fermín ou quaisquer outras práticas de agressão aos animais desvelam uma faceta cruel da humanidade: um sadismo latente, sempre à espreita, pronto para vir à tona.

O tema das touradas é, sem dúvida, assunto polêmico, tanto dentro quanto fora da Espanha, que não é o único país onde elas ainda insistem em existir – Portugal, México e Peru também têm touradas, toureiros e seus aficionados.

Quando se vai à região espanhola da Catalunha, notam-se prontamente suas marcadas diferenças com relação ao restante do país. Alguns catalães nem falam castelhano e, dentre os que falam, muitos têm um sotaque tão marcado que compromete o entendimento de quem não fala catalão, a eufônica língua local.

Além disso, Barcelona, a capital da província da Catalunha, é mais arrojada que Madri, capital do país. Na verdade, a capital catalã tem um ar moderno, mais para Novo que para Velho Mundo, apesar dos monumentos e edificações seculares.

Foi o parlamento da Catalunha – que é uma espécie de Rio Grande do Sul da Espanha, por suas características diferenciadas do restante do país, só que com arroubos separatistas mais frequentes – que aprovou a proibição da prática das touradas na província. Isso ocorreu graças a um movimento popular contra a tradição, liderado por defensores dos animais e que gerou um amplo debate social e político.

Há quem diga (muitos dizem) que essa foi uma forma de os catalães tentarem marcar ainda mais suas diferenças com os demais espanhóis. Mas o fato é que, seja pelo motivo que for, tomara que um dia toda essa “indústria da tauromaquia” esteja só nos registros dos livros de história. Vitória dos touros, olé!

 

Ilustração: Franklin Valverde