12 de outubro é uma data muito simpática. Primeiro, porque nos traz à mente o Dia das Crianças – considerando criança não só quem tem pouca idade, mas quem ainda consegue achar graça das coisas simples da vida, como passear com o cachorro ou comer os docinhos da vendinha da esquina.
Na maioria dos países da América Latina, sobretudo naqueles em que se fala espanhol, 12 de outubro é o dia da Virgem do Pilar, ou melhor, día de la Virgen del Pilar, considerada uma espécie de padroeira dos países hispânicos. Por aqui, comemora-se o dia de Nossa Senhora Aparecida, considerada a padroeira do Brasil.
12 de Outubro é o dia da padroeira do Brasil para os católicos porque, nesse dia, em 1717, a imagem da santa foi descoberta no Rio Paraíba. A data se tornou feriado nacional em 30 de junho de 1980, quando foi sancionada pelo então presidente João Figueiredo.
Na América Hispânica (e até nos Estados Unidos), o dia 12 de outubro marca o Dia da Hispanidade, o Dia da Descolonização, o Dia das Américas, o Dia dos Povos Originários, o Aniversário do Descobrimento ou o Dia da Raça, e todos fazem alusão ao mesmo fato, o descobrimento do continente americano pelos europeus em 1492, quando Cristóvão Colombo, financiado pelos espanhóis, aportou deste lado de cá do Atlântico onde hoje se localiza a atual República Dominicana.
Na primeira década do século XX, muitos países que haviam sido colonizados pelos espanhóis realizaram festividades para celebrar o primeiro centenário de sua independência. Nessas jovens nações, espanhóis e seus descendentes começaram a organizar-se para celebrar os laços históricos comuns entre o país em que viviam e o seu país de origem, a Espanha.
Esse movimento de exaltação à história e à cultura hispânicas ganhou força na Espanha a partir de 1915, quando então foi proposto o Día de la Raza. Fora da Península Ibérica, a Argentina, em 1917, foi o primeiro país onde tal movimento ganhou força.
Para os espanhóis, trata-se de uma data que lhes traz bastante orgulho. Nas jovens nações hispano-americanas, há um misto de orgulho e ranço histórico por um sentimento de invasão e dilapidação – que não deixa de fazer sentido, mesmo tanto tempo depois do fim do colonialismo.
Essa unidade entre as nações hispano-americanas, parecidas com o Brasil em tantos aspectos, também marca a diferença entre eles e nós, e talvez explique o fato de o Brasil estar, historicamente, “de costas” para seus vizinhos hispanófonos. Para o bem ou para o mal, parece que cortamos de forma mais contundente nossos laços com a antiga colônia, Portugal. Quiçá mais por certo grau de autismo geopolítico que por ideologias ou autoafirmações nacionalistas.
Hoje, o mundo vê com muita perplexidade e bastante inércia o problema dos refugiados que invadiram, mais que qualquer terra estrangeira, todos os noticiários. No entanto, foi há cerca de quatrocentos anos, quando o século XVII trouxe consigo a fama de que o continente americano tinha deixado de ser o confim do mundo e a terra de ninguém para ser um lugar próspero e relativamente seguro, que essa história começou para os europeus.
A fama de uma América rica fez os nobres espanhóis, assim como também muitos outros europeus, sobretudo os que atravessavam períodos de sérios problemas econômicos, aventurarem-se em terras americanas. E qual a diferença, então, entre os sírios, os afegãos e os iraquianos de agora e os europeus do século XVII? A diferença, única, é que a história e o tempo são dois grandes senhores que vão revezando nações e povos em seus papéis: representam sempre uma mesma moeda, só que quase nunca refletem com clareza a outra face.