Hoje em dia, mais que em qualquer outra época, caracterizar o conceito de família demanda ética e um olhar sensível para as diversas formas de relacionamento humano.
Em outras décadas, quando não havia ou não era comum o divórcio e as mulheres dependiam de seus pais ou maridos em todos os aspectos, “família” era algo visto somente à luz da biologia, da genética e dos sacramentos das religiões: um homem e uma mulher, casados para se reproduzir, que vivem com seus filhos, sob o mesmo teto.
Atualmente, além dessa família tradicional heteroparental, há muitas outras configurações socioafetivas que implicam reconhecimento de que existe nelas uma estrutura familiar, como é o caso das famílias com pais do mesmo sexo, as chamadas famílias homoparentais, das famílias geridas por um único indivíduo, que são as famílias uniparentais, nas quais é socialmente mais comum que uma mulher seja a única responsável pelo sustento financeiro da família, e até mesmo o caso de famílias cujos chefes são avós, tios, casais que trazem filhos de casamentos anteriores para morar na mesma casa etc.
Assim, o conceito de família hoje é muito mais flexível e repleto de nuances, embora diversos órgãos legislativos e jurídicos, por sua visão costumeiramente mais estanque dos fenômenos sociais, insistam em não reconhecer muitas das novas configurações familiares.
Pais e educadores têm trabalhado esses novos padrões familiares de forma ainda tímida na formação de nossas crianças e jovens. Na maioria das vezes, no entanto, isso ocorre mais por desconhecimento que por um possível preconceito ou rejeição às novas famílias (mesmo havendo casos lamentáveis trazidos à baila amiúde pela imprensa brasileira e internacional daqueles que vociferam pretensas verdades quando, na verdade, não estão fazendo outra coisa senão cuspir ódio e preconceito, não sendo raros os casos em que esses sentimentos rudes são travestidos ou camuflados de “palavra de Deus”).
É preciso, sobretudo, ter naturalidade, boa-vontade e uma mente aberta frente às novas configurações familiares, que são, antes, configurações afetivas. Essa é a tríade de valores humanos que devemos legar a nossas crianças e jovens para que tenhamos uma sociedade mais inclusiva e justa: um duro golpe em toda a caretice e no preconceito que insistem em nos rondar.