miguel__jamil_alves_-_a.jpgFoi num 21 de julho, 7 anos atrás, que começou para mim a aventura mais inesperada e importante de todas. Na verdade, o “evento” começou na noite anterior, quando um telefonema que dizia “vem me buscar, a bolsa estourou” interrompeu aquele domingo banal, que prometia cachorro-quente, televisão e nenhum sobressalto. Afinal, o médico que analisou o ultrassom dissera, dias antes, que o nascimento do leonino seria entre 22 de julho e 1º de agosto. Mas ele se enganara, nas datas e no signo (do meu cancerianinho todo trabalhado no drama).

 

Da Mooca para São Mateus e depois de São Mateus para o Tatuapé, onde seria (e foi) o parto, os quilômetros pareciam intermináveis. Cada semáforo em vermelho aumentava minha adrenalina, cada parada gerava um medo de não dar tempo de buscar a Rosana. Aliás, por um ou dois semáforos vermelhos a mais no caminho, o nascimento teria acontecido dentro do meu carro. Isso não aconteceu por um triz.

 

Já no hospital, no tempo de eu preencher uma simples ficha, Miguel nasceu. Antes, uma enfermeira tinha me perguntado se eu queria assistir ao parto, e eu, no susto e por convenção, disse que sim. Bem, cada um é cada um, mas eu não gostaria de assistir a um parto, mesmo sendo o do nascimento de um filho meu. Não aguento ver nem sangue de unha descolada no vôlei. Miguelito já nasceu me livrando de uma.

 

Naquela madrugada, já início de uma segunda-feira, fui levado ao andar do berçário. Tudo me pareceu meio estranho, uns corredores com luzes apagadas. Tive de andar por umas alas parcialmente desativadas do hospital até chegar a um local com focos de luz. Foi então que, por um vidro, uma enfermeira levantou “um embrulho” e o aproximou do vidro. O embrulho era Miguel, lindo, olhões abertos, carinha de anjo. Senti um raio de quentura no corpo, uma sensação diferente no compasso do meu coração. Naquela hora, tive certeza de que, daquele instante em diante, nada mais seria como antes. Começava ali uma história que dividiria minha biografia em “a.M. X d.M” – antes do Miguel versus depois do Miguel.

 

Nas horas seguintes, rodei de carro por tantos bairros de São Paulo e adjacências que até perdi a conta. Eu precisava comprar tantas coisas, são tantos os detalhes de consumo que um recém-nascido do século XXI demanda que quem não tem filho nem imagina (e, por motivos que não interessam a este relato, não pude cuidar com antecedência).

 

Daquela madrugada, daquela noite escura na qual eu sabia que minha vida estava mudando para sempre, ficaram na minha memória duas músicas que tocaram mais de uma vez no rádio do carro: X.O., interpretada por Jonh Mayer, e Quelqu’un m’a dit, da ex-primeira dama da França, Carla Bruni. Todo 21 de julho, volto a ouvir essas duas canções como uma espécie de ritual de lembrança e de agradecimento por tudo de bom que o 21 de julho de 2014 me trouxe e por tanta coisa bacana que vivi com meu filho até aqui. As letras dessas músicas não têm a ver com a relação entre pai e filho, mas é impossível para mim não ouvi-las sem me lembrar daquela madrugada assustadora e mágica.

 

Depois vieram as primeiras mamadeiras, as primeiras trocas de fralda e, no mais, penso que não é preciso estender este simples relato em homenagem ao dia de hoje. Já foram tantas as vezes em que escrevi a respeito de Miguelito, meu Mig, que quase todos os leitores já sabem bastante a respeito dele. Até o livro O Anjo Miguel, que publiquei em 2019, tem Miguel como assunto principal. E que venham muitos outros 21 de julho com meu filho amado.

 

Parabéns, Miguel! Papai te ama mais que tudo!

 

X.O.:  https://www.youtube.com/watch?v=7L-Rwxoc2jU 

 

Quelqu’un m’a dit:  https://www.youtube.com/watch?v=EelX_LwPHbA 

 

O Anjo Miguel:  https://www.asabeca.com.br/detalhes.php?prod=8724 

 

Foto: Miguel – Jamil Alves