Vous êtes belle: on vous adore.

Vous êtes jeune: on vous sourit.

Si un amour pourrait éclore

Dans ce coeur où rien ne luit.

Ce sourire de ma tristesse

Se tournerait, reflet lontain,

Vers l’or cendré de votre tresse,

Vers le blanc mât de votre main.

Mais je n’en fait que ce sourire

Qui sommeille au fond de mes yeux  —

Lac froid qui, en vous voyant rire,

S’oublie en un reflet joyeux.

Vemos acima um poema escrito em francês, mas por um poeta…  português!  Falo de Fernando Pessoa (1888-1935), um poeta múltiplo, que se desdobrou em vários “heterônimos” e foi bilíngue, escrevendo muito também em inglês, língua que conhecia tão bem quanto o português.  Há especialistas de língua inglesa que afirmam que os sonetos de Pessoa, em inglês, são equiparáveis aos de Shakespeare!  Aliás, sua tradução do famoso poema “O corvo” (The Raven), de Edgar Allan Pöe, para mim é a melhor tradução desse poema para a língua portuguesa: exatamente porque Pessoa, bom conhecedor tanto da língua portuguesa quanto da língua inglesa, fez a tradução respeitando inclusive o ritmo do texto original; praticamente elaborou um segundo poema, belíssimo para os leitores da língua portuguesa!  Morador, na juventude, em Durban (África do Sul), onde o padrasto era cônsul, Pessoa venceu concursos escolares de redação em língua inglesa, concorrendo com colegas filhos de colonos oriundos da própria Inglaterra…

Mas ele incursionou também pela língua francesa, produzindo alguns pequenos poemas (conheço ao todo cinco, publicados em “Fernando Pessoa, Obra Poética” (Ed. José Aguilar, Rio, 3. ed., 1969, p. 627-629).  Esses poemas apresentam uma conotação ligeiramente simbolista, a demonstrar as influências de Pessoa na língua francesa.

Um deles faz parte de uma espécie de trilogia intitulada “Trois chansons mortes” (Três canções mortas), e ouso apresentar abaixo uma tradução de minha lavra.  De certa forma e de modo geral, o texto poético é praticamente intraduzível, mas sempre se pode tentar captar o sentido das palavras originais do poeta.  Segue-se a minha “tentativa” de tradução:

Tu és mui bela, és de adorar,

Também és jovem e encantadora.

Se um amor pudesse entrar

Nesta minh’alma sofredora…

Este sorriso sem esperança

Se voltaria, ou talvez não,

Pr’o ouro cinza de tua trança,

Para a brancura de tua mão.

Mas só consigo esse sorriso

Meio latente em meu olhar  —

Frio lago que, vendo o teu riso,

Se apaga num doce alegrar.